terça-feira, 21 de agosto de 2012

Colheita intensa e qualidade incerta esfriam preço do café


Bruno Cirillo 
SÃO PAULO -  O café desvalorizou-se no mercado internacional, cotado na Bolsa de Nova York, perdendo preço também no Brasil. A variação negativa de 10%, averiguada no tipo arábica, na última semana, foi resultado de fatores climáticos.
Depois de um período prolongado de chuvas nas principais regiões produtoras do País, que é o maior fornecedor mundial, os cafeicultores intensificaram, entre fim de julho e início de agosto, a colheita do grão.
A retomada da oferta fez cair os preços, de acordo com especialistas. Porém, como houve perda de qualidade, criou-se uma situação propícia à valorização do produto daqui a um mês, quando o grosso da safra estiver no varejo.
"As chuvas causaram prejuízo na qualidade do café. Para que isso não seja transferido ao consumidor, a indústria combina grãos de alta e baixa qualidade, fazendo um blend. O que, ao longo do tempo, pode provocar uma reação de preço", analisa o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Natan Herszkowicz.
Por ora, entretanto, as negociações em torno do grão apresentam queda: a saca (60 quilos), cotada a mais de US$ 200 durante o ano passado, variava em torno de US$ 180, em Nova York, na última semana, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
"Em 2011, devido aos efeitos da bianualidade, a produção brasileira era muito menor", explica a analista de Café Caroline Lorenzi, do mesmo instituto. "O principal motivo [para a baixa atual] é o clima favorável à colheita no Brasil, desde o final de julho", afirma.
Em tal cenário, os cafeicultores costumam segurar a oferta à espera de uma reação de preço, segundo Herszkowicz. Portanto, a desvalorização não deve se refletir, a curto prazo, no mercado final. "A indústria continua comprando o café pelos mesmos preços de antes da baixa, então não há repasse", ele diz.
Perda de tempo e qualidade
A maior organização de café do mundo, a Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), de Minas Gerais, registrou em seu último relatório, na semana passada, que 69% da área plantada já foram colhidos. No ano passado, a essa mesmo época do ano, os doze mil cooperados da empresa já haviam retirado da terra 80% do grão.
"[Os produtores do] sul de Minas, Cerrado Mineiro e Vale do Rio Pardo continuam empenhando todos os esforços para aproximar os números de colheita deste ano, atrasada por causa das chuvas, em relação aos anos anteriores", relatou, em nota, a cooperativa.
Em recente entrevista ao DCI, o porta-voz da Cooxupé, Jorge Florêncio, afirmou que "o cafeicultor vai perder receita", em função do atraso na colheita. A Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas (Cocatrel), também mineira, teve 30% da produção afetados pelo clima - o café caiu no chão, perdendo qualidade e correndo risco de não ser colhido.
O nível de "café bom" produzido pela Cooxupé deverá cair de 85% para 65%, em médias, na safra atual, de acordo com Florêncio. Exposto à chuva, o grão escurece, adquirindo aspecto ruim, e fermenta precocemente, tornando a bebida pior.
A cooperativa deve produzir 5,5 milhões de sacas, conforme a projeção inicial, neste ano. O volume representa aproximadamente um quinto da produção brasileira estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab): 50 milhões de sacas.
"O produtor está correndo para colher o café do pé", havia dito um líder de cooperativa .
ABIC

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