segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Data nacional de luta contra o golpe reúne mil pessoas


Ato que acontece desde ontem (14) coincide com o que seriam os quatro anos de governo de Fernando Lugo, destituído antes disso, no dia 22 de junho
15/08/2012
Pedro Carrano
 de Assunção (Paraguai)

Mais de mil pessoas participam do Fórum Paraguai Resiste que acontece desde ontem (14) e termina hoje na capital paraguaia, Assunção. O ato coincide com o que seriam os quatro anos de governo do presidente Fernando Lugo, destituído antes disso, no dia 22 de junho, no que é classificado como um golpe de Estado parlamentar.
A organização do encontro calcula a presença de cem diferentes organizações do país, entre as quais 34 entidades camponesas, além de organizações de sem-teto, organizações em defesa das crianças, trabalhadores urbanos, organizações de base comunitárias e movimentos que reivindicam Saúde e Educação.  
Rosa Brites, 25, coordenadora de juventude do Movimento Camponês Paraguaio (MCP), afirma que o golpe de Estado “foi um retrocesso político, prejudicou nosso esforço organizativo e violou a soberania do país”, enfatizando a questão da soberania, um dos temas mais debatidos durante o Fórum.
O encontro termina hoje (15), quando as doze mesas de trabalho devem entregar suas resoluções a Fernando Lugo, como uma espécie de plano de ação.
Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, o ex-mandatário ressalta que o proceso da esquerda no país é recente e deve ser fortalecido.“Há um acercamento e um diálogo profundo entre o social e o político, sem identificar-se. A declaração de princípio deste Fórum diz com bastante claridade que não serve para propaganda política de nenhum partido de esquerda, é um fórum com identidade social, se bem que os temas têm implicações políticas. Por isso, o nome Paraguai Resiste: resiste a um golpe parlamentar. É muito importante que os movimentos sociais no Paraguai tenham esse compromisso e preocupação de dialogar no político e no econômico.”
Nos dois dias de encontro, aconteceram caminhadas de protesto, que passaram por cenários que foram determinantes no golpe do dia 22 de junho: a sede do jornal ABC Color, a TV Pública criada por Lugo, que agora segue em resistência, o Ministério da Agricultura, que passa a liberar o cultivo de transgênicos.
“Não sabemos mais o que comemos. A semente é patrimônio do povo, não necessitamos da Monsanto”, exclama Magui Balbuena, dirigente da Conamuri, organização de mulheres indígenas e camponesas. A crítica, feita em frente ao Ministério da Agricultura, se refere ao fato de o governo de Federico Franco ter liberado o cultivo de transgênicos e aliviado impostos dos produtores de soja imediatamente após a sua posse.
Embora não tenha ocorrido hostilidade por parte da polícia, ativistas reclamaram da presença policial e das filmagens em volta da praça Uruguaya, onde aconteceu o encontro.
Comunicação no centro da resistência
No dia de hoje (15), um fato político relevante é que 50 jornalistas da TV Pública encerram seu contrato com grande possibilidade de serem demitidos. “A TV Pública foi um dos primeiros pontos fortes de resistência contra o golpe, já que se conformou uma equipe jovem, que estava trabalhando com independência editorial”, confirma Diego Segovia, editor da TV, que participava do protesto. De acordo com ele, o conteúdo editorial da TV já foi alterado pelo governo Franco.
Ontem (14), a caminhada das organizações presentes no Fórum Paraguai Resiste teve como um dos pontos de parada a redação do jornal “ABC Color”. De acordo com os manifestantes, o jornal se posicionou contrário a Lugo desde o início do mandato e preparou o terreno para o golpe.
ABC Ijapú! (em guarani: “ABC mente”) é o nome da campanha realizada para questionar a postura do jornal, alinhado com empresas transnacionais e com o agronegócio no país. “O ABC apresenta intereses econômicos e políticos e, desde o início, se colocou contra uma agenda de mudanças”, explica Ana, militante do Partido Popular Tekojoja.

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