quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Jovens alemães buscam formas alternativas de Sobre esvaziamento de nossas colônias – por Lissi Bender



“ Wir Menschen auf dem Land werden von den Stadtleuten nicht ernst genommen“ – frase ouvida durante toda minha infância, ou seja: as pessoas  do interior não se sentiam levadas a serio pelas pessoas do mundo urbano. Sua língua, sua cultura, seus saberes, seu trabalho “com” e “na” terra, seu mundo peculiar eram considerados atrasados  pelos “cidadãos de estirpe” da cidade, que se consideravam, e, em parte, ainda se  consideram, cidadãos do único  espaço onde a vida acontece.
Até o Nacionalismo de Vargas,as escolas comunitárias estavam bem inseridas na realidade local e somavam esforços junto com a comunidade para qualificar a vida na colônia. Basta examinar livros didáticos da época. Sobre o desmantelamento de escolas comunitárias construiu-se a escola pública que desde o inicio desconsiderou as peculiaridades das comunidades do interior, sua língua regional, suas práticas culturais, e de reprodução da vida. Os professores, em grande parte, vinham da cidade, sem conhecimento do mundo cultural colonial. Os conhecimentos linguísticos da comunidade, que as crianças traziam consigo para a escola, foram ignorados, quando não repudiados ou até mesmo proibidos.
Ainda durante os anos 80 do século passado,a preocupação (manifestada em livro) do poder público municipal era a de levar para as escolas do interior os valores civilizatórios urbanos. Continuava-se a manter uma postura de desconsideração e de desprezo para com a realidade colonial. Esse desprezo se refletia também em expressões preconceituosas (em parte ainda presentes) como “coisa de colono”, “colono grosso”, “alemão batata”. Sua língua foi submetida a tamanha repressão, que até mesmo muitos falantes aprenderam a considerá-la “alemão errado”, “alemão ruim”. Desconsiderou-se e se  desconsidera todo um modo diferente de significar a vida, desconsidera-se que ali, na colônia, a vida também acontece.
Durante décadas, gerações de crianças cresceram em meio ao desprezo por tudo quanto se referisse a sua realidade. Durante décadas,a vida urbana lhes foi apresentada como o ideal a ser almejado. Durante décadas, as forças dirigentes abandonaram o interior a sua própria sorte, principalmente no que tange a sua “Kulturwelt”.
Agora leio na Gazeta do Sul a preocupação manifesta pelo governo estadual  para com o êxodo rural. Pretende-se fomentar uma educação voltada para os “interesses do campo”, na expectativa de estancar o esvaziamento do interior.  Tardiamente o poder público se dá conta de que “O conteúdo oferecido não é condizente com a realidade, com a cultura da agricultura familiar”, nas palavras do Deputado estadual Altemir Tortelli.
Leio que as novas práticas pedagógicas pretendem “reduzir as distorções no cenário educacional”. Mas, se essas práticas se mantiverem restritas às demandas econômicas deste nosso sofrido e abandonado interior, o Estado terá falhado novamente, continuará  atropelando o modo peculiar de vida na colônia e todo seu mundo cultural e linguístico.
Se aos jovens do interior não se oferecer um novo olhar, que valorizea língua, a cultura, que lhes permita amar o seu lugar de viver, não será a garantia do prato de comida que osmanterá lá.Essa valorização é imprescindívelpara que possamse desenvolver e desenvolver seu espaço vital,transformandoseuspotenciais de diversidade local em desenvolvimento.

*Lissi Bender é  docente da UNISC - Universidade de Santa Cruz do Sul, RS

Contato: lissi@unisc.braJovens alemães buscam formas alternativas de ação políticação política

Nenhum comentário:

Postar um comentário