quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Roubini adverte: crise financeira pode levar a “tempestade” em 2013



Roubini recomenda não entregar nada às mãos dos “mercados”
Economista que primeiro previu terremoto nos mercados sustenta: evitar o desastre dependerá de decisões políticas
Por Antonio Martins
Aonde nos levará a crise financeira que persiste desde 2008, mantém paralisados os países “centrais” do sistema e ameaça, recorrentemente, alastrar-se pela “periferia”? O economista Nouriel Roubini concedeu há cerca de uma semana, à National Public Radio (NPR), dos EUA, entrevista em que aborda o assunto. Vale a pena ouvi-lo. Nascido em Istambul, mas fixado no Ocidente desde a adolescência Roubini é professor na Universidade de Nova York. Foi certamente o primeiro pesquisador a identificar, ainda em meados da década passada, que o estouro da bolha imobiliária norte-americana e a quebra das hipotecas de segunda linha (sub-prime) levariam a uma crise global.
No diálogo que travou agora, com a repórter Linda Wertheimer, ele levantou a hipótese de uma “tempestade perfeita” em 2013 – ou seja, um aprofundamento agudo das dificuldades atuais, capaz de se propagar inclusive pelas zonas que hoje encontram-se relativamente preservadas. Três fatos políticos suscitariam o fenômeno, segundo Roubini. São eles: a) uma ruptura desordenada do euro, eventualmente provocada pela insistência dos dirigentes europeus em impor medidas que destroem direitos sociais e reduzem a atividade econômica; b) um mergulho dos Estados Unidos em recessão,  se, ao final do ano, prevalecerem as propostas conservadoras, de um grande corte de despesas públicas; c) uma derrapagem da China, na transição que terá de fazer, passando de uma economia fortemente apoiada em exportações e grandes investimentos para uma ênfase muito maior no consumo interno.
Um fator político pode precipitar estes  riscos, acrescenta o economista. Se Israel atacar o Irã, como tem cogitado com insistência, o tumulto provocado no Oriente Médio fará os preços do petróleo dispararem e tornará a administração dos problemas muito mais difícil, em toda parte.
Questionado por Wertheimer, Roubini detalha seu ponto de vista. Não está fazendo vaticínios, previsões que fatalmente se concretizarão; mas lançando alertas, chamando atenção para a necessidade de enfrentar politicamente dificuldades graves que, do contrário, causarão grandes distúrbios. O problema, sugere ele, é que não há, por enquanto, passos na direção correta.
Na Europa, a recusa dos governantes a buscar uma saída alternativa para as dificuldades de rolagem das dívidas poder provocar fadiga. Num determinado instante, as operações de “resgate” irão se tornar politicamente inviáveis, desencadeando quebras em dominó dos bancos. Nos Estados Unidos, os cortes maciços de despesas orçamentárias ocorrerão semi-automaticamente ao final do ano, se não forem revertidos até então. Pior: o ultra-conservador Paul Ryan acaba de ser indicado candidato a vice-presidência pelo Partido Republicano. Sua escolha revela que um setor importante doestablishment está disposto a levar adiante sua crença fundamentalista no desmonte dos serviços públicos.
Entre os países cujas opções decidirão o futuro imediato da economia mundial, resta a China. Nos últimos quatro anos, foi um fator de estabilidade. Respondeu à crise de 2008 com um pacote ousado (e trilionário) de investimentos públicos. Graças a ele, manteve sua economia aquecida, num período de dificuldades generalizadas. Mas já sofre os efeitos da desaceleração global contínua.
Os ajustes que terá de fazer, adverte Roubini, são bem mais profundos que os de há três anos. Há, no meio do caminho (segundo semestre deste ano, ainda sem data precisa), um congresso do Partido Comunista, encarregado de articular a sucessão dos líderes atuais. Serão capazes de combinar esta tarefa com reorientações sensíveis, na segunda maior economia do planeta? Ainda não se sabe.
Numa época em que os temas econômicos são vistos como inacessíveis, na mídia tradicional, é um prazer ler ou ouvir Roubini na NPR. Com a autoridade conquistada com justiça, nos últimos anos, ele relembra que as decisões não podem ser deixadas aos mercados. As sociedades precisam assumi-las, sob pena de sofrer na carne as consequências de sua omissão.
Leia mais:
  1. Europa em crise (IV): os Bancos Centrais e a oligarquia financeira
  2. Como oligarquia financeira mantém Europa submissa
  3. Protestos: Europa volta às ruas contra oligarquia financeira
  4. A Europa à beira da grande crise
  5. A ONU adverte: “austeridade” faz mal às crianças

Nenhum comentário:

Postar um comentário