quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Sanções contra o Irã: quem paga a conta



Garotos do Irã
Reportagem revela insanidade das medidas impostas pela ONU: voltam-se contra mais pobres, são usadas para insuflar nacionalismo e desestabilizam principal região petrolífera do planeta
Por Hugo Albuquerque
A República Islâmica do Irã é inimiga declarada do Ocidente desde sua fundação, na esteira da Revolução que derrubou a ditadura do Xá Reza Palehvi, aliado de norte-americanos e europeus. Sancionado pela “comunidade internacional” com inúmeros tipos de embargos e variadas restrições – além de ter sido atacado pelo Iraque de Saddam Hussein, nos anos 80, com apoio e financiamento do Ocidente, inclusive do Brasil -, pouco se pergunta qual o real impacto disso sobre a vida das pessoas comuns de lá.
Adotando essa perspectiva incômoda, o festejado periódico britânico The Guardian fez, recentemente, uma reportagem expondo as dificuldades pelas quais passam os cidadãos iranianos, em virtude das restrições impostas pelas potências do Ocidente. Elas geram desde dificuldades para adquirir medicamentos – como o sulfato de quinidina (fabricado nos EUA, e usado no tratamento de cardiopatias), ou remédios para hemofilia – até o aumento de preços de alimentos, uma vez que a produção agrícola local é pouco significante e o país depende de importações para suprir sua demanda.
Certamente, o regime iraniano é digno de inúmeras críticas, embora não seja pior, em termos de fundamentalismo e opressão política, do que aliados americanos no Oriente Médio, como a Arábia Saudita. Mas as sanções “contra o regime” são, por sua própria lógica, cruéis. Elas visam atormentar a população até o ponto em que esta se revolte contra seus governantes. Trata-se, portanto, de uma forma de punição coletiva.
Um dos ouvidos pelo Guardian argumenta que o tiro pode sair pela culatra. A capacidade de pressão sobre o governo, em um país não-democrático, é pequena. Em contrapartida, o regime iraniano, como qualquer outro, serve-se com das sanções para insuflar sentimento nacionalista e articular apoio popular em seu favor. Em casos anteriores, Cuba ou Iraque não tiveram mudanças de regime em virtude de sanções internacionais, muito embora a pobreza causada por elas alimentem os piores sentimentos internamente e promovam os piores setores dos seus respectivos sistemas políticos.
A situação iraniana, agravada pelo cerco dos Estados Unidos (tanto as tropas ainda estacionadas no Iraque e Afeganistão, quanto pelas inúmeras bases na Península Arábica) e pelas constantes ameaças israelenses, é cada vez mais tensa. Certamente, as sanções agravam os problemas sociais e – um segundo sinal de que Washignton brinca com fogo – tornam perigosamente instável a região mais rica em petróleo no mundo.  

Leia mais:
  1. Suspeita: EUA sabotam o programa nuclear do Irã
  2. Estados Unidos: até onde irá a paranóia?
  3. Globo: quem se vê por ali?
  4. Europa em crise (V): à espera de quem manda
  5. UPP’s: a quem interessa o “choque”?

Garotos do Irã
Reportagem revela insanidade das medidas impostas pela ONU: voltam-se contra mais pobres, são usadas para insuflar nacionalismo e desestabilizam principal região petrolífera do planeta
Por Hugo Albuquerque
A República Islâmica do Irã é inimiga declarada do Ocidente desde sua fundação, na esteira da Revolução que derrubou a ditadura do Xá Reza Palehvi, aliado de norte-americanos e europeus. Sancionado pela “comunidade internacional” com inúmeros tipos de embargos e variadas restrições – além de ter sido atacado pelo Iraque de Saddam Hussein, nos anos 80, com apoio e financiamento do Ocidente, inclusive do Brasil -, pouco se pergunta qual o real impacto disso sobre a vida das pessoas comuns de lá.
Adotando essa perspectiva incômoda, o festejado periódico britânico The Guardian fez, recentemente, uma reportagem expondo as dificuldades pelas quais passam os cidadãos iranianos, em virtude das restrições impostas pelas potências do Ocidente. Elas geram desde dificuldades para adquirir medicamentos – como o sulfato de quinidina (fabricado nos EUA, e usado no tratamento de cardiopatias), ou remédios para hemofilia – até o aumento de preços de alimentos, uma vez que a produção agrícola local é pouco significante e o país depende de importações para suprir sua demanda.
Certamente, o regime iraniano é digno de inúmeras críticas, embora não seja pior, em termos de fundamentalismo e opressão política, do que aliados americanos no Oriente Médio, como a Arábia Saudita. Mas as sanções “contra o regime” são, por sua própria lógica, cruéis. Elas visam atormentar a população até o ponto em que esta se revolte contra seus governantes. Trata-se, portanto, de uma forma de punição coletiva.
Um dos ouvidos pelo Guardian argumenta que o tiro pode sair pela culatra. A capacidade de pressão sobre o governo, em um país não-democrático, é pequena. Em contrapartida, o regime iraniano, como qualquer outro, serve-se com das sanções para insuflar sentimento nacionalista e articular apoio popular em seu favor. Em casos anteriores, Cuba ou Iraque não tiveram mudanças de regime em virtude de sanções internacionais, muito embora a pobreza causada por elas alimentem os piores sentimentos internamente e promovam os piores setores dos seus respectivos sistemas políticos.
A situação iraniana, agravada pelo cerco dos Estados Unidos (tanto as tropas ainda estacionadas no Iraque e Afeganistão, quanto pelas inúmeras bases na Península Arábica) e pelas constantes ameaças israelenses, é cada vez mais tensa. Certamente, as sanções agravam os problemas sociais e – um segundo sinal de que Washignton brinca com fogo – tornam perigosamente instável a região mais rica em petróleo no mundo.  

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  1. Suspeita: EUA sabotam o programa nuclear do Irã
  2. Estados Unidos: até onde irá a paranóia?
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