segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A "babel" da comunicação com o produtor de leite da Região Sul


Por Paulo R. F. Mühlbach - postado em 06/09/2012

Frequentemente, flagro-me a pensar sobre o que se processa na cabeça do produtor de leite diante da diversidade de informações sobre sistemas de produção, tecnologias, métodos, legislações, inovações, insumos, etc. que lhe são repassadas através dos vários meios de comunicação, extensão rural e assistência técnica, atualmente disponíveis àqueles produtores de leite profissionalizados e mais interessados.

Essa heterogeneidade e complexidade é até natural que exista, face às condições de desenvolvimento do setor leiteiro ainda vigentes num país de dimensões continentais, em comparação com outras regiões do planeta, também grandes produtoras de leite, onde estrutura fundiária, infraestrutura geral, origens culturais e étnicas, tradição, hábitos alimentares, etc. estão mais consolidados e melhor definidos.

Apesar do dito que a unanimidade é burra e que das discussões e divergências poderão advir soluções para os mais variados problemas, há situações já melhor definidas no setor produtivo da Região Sul, em que a experiência e os conhecimentos técnicos existentes clamam por um consenso, com o intuito de queimar etapas, evitar desperdícios e, principalmente, facilitar a vida do produtor de leite. Posso me referir aqui ao sistema de produção de leite da colônia holandesa da região dos Campos Gerais, PR, o qual pode servir de modelo para várias outras microrregiões sulinas.

Quanto às incongruências, são, no mínimo, de “causar espécie” certas atitudes de dirigentes do âmbito de governo regional e de órgãos da classe, em romaria ao estrangeiro, alegadamente na busca de tecnologia de produção. Por exemplo, cito as frequentes viagens à Nova Zelândia, país de clima tipicamente temperado, porém de exploração leiteira exclusivamente sazonal (a qual, incontestavelmente, lhe é perfeitamente adequada), quando aqui reclamam dos prejuízos da estacionalidade da produção, que teima em persistir e para a qual a “receita” neozelandesa em pouco poderia contribuir.

Ou, causa estranheza, quando autodenominados líderes do setor vão buscar “genética” em países de produção leiteira inexpressiva, com rebanhos de produtividade medíocre. Ou, ainda, quando dirigentes do setor industrial lançam críticas pela imprensa pelo fato do produtor ter o “mau hábito” de alimentar suas vacas leiteiras com milho e farelo de soja (subentendendo-se que a vaca esteja sendo alimentada como um suíno ou uma ave), sem o emprego de alimento volumoso.

Também não são raras as alegações de dirigentes da indústria sobre um elevado custo de produção do leite, supostamente decorrente de insuficiente produção de leite a pasto, enquanto que durante a última estiagem na Região Sul, com todas as pastagens esturricadas, choveram críticas em relação à insuficiente disponibilidade de milho, armazenado na forma de grão ou conservado na forma de silagem.

Acho até que o produtor de leite não “esquenta” muito com isso, afinal, pelo fato de conviver permanentemente com as atribulações da atividade, já é suficientemente “curtido”, devendo ter assimilado uma índole e tolerância toda especial.

Porém, quem é do meio técnico e procura manter uma empatia pelo setor de produção, sente-se frustrado com tais incoerências e estultices. A meu juízo a causa de muitos desses fatos é consequência da fragilidade das direções técnicas das entidades de classe e governamentais perante seus superiores leigos, indicados por razões meramente políticas. Ou seja, não há a devida meritocracia em determinados quadros e comandos das ações em prol do desenvolvimento da pecuária leiteira.

Decisões são tomadas para atender interesses políticos, sem uma consulta aprofundada aos diferentes segmentos de apoio (ensino, pesquisa e extensão rural) também envolvidos com produção leiteira. Ademais, não posso acreditar que não exista um quadro técnico suficientemente competente para as assessorias necessárias.

Contudo, ultimamente, dirigentes das indústrias de laticínios do RS vem externando manifestações em favor da instalação de uma Embrapa em Produção Leiteira, voltada às condições da Região Sul, (link: http://www.milkpoint.com.br/cadeia-do-leite/giro-lacteo/rs-governo-e-industrias-planejam-criar-instituto-para-promover-o-leite-gaucho-80431n.aspx) o que considero acertado.

Nada mais justificável, pois a Região Sul, com sistemas de produção mais intensivos, solo e clima favoráveis, ausência de canaviais, com propriedades com mais emprego de mão de obra familiar e rebanhos de maior produtividade está a caminho de tornar-se a maior produtora de leite do País.

Se isso está ocorrendo “ao natural”, em que pese a ausência de um órgão coordenador realmente competente, o que dirá se pudermos contar com tal entidade específica.

Caso venha a ser concretizada, fica a grande expectativa que a instalação desta Embrapa Leite Região Sul se localize na região que concentre a população de produtores de leite mais vocacionados, mais significativos e representativos do todo.

Fica, também, a esperança que, além de uma pesquisa aplicada integralmente voltada às reais necessidades do sistema de produção mais representativo, haja também uma coordenação geral da pesquisa no setor e o conhecimento gerado chegue efetivamente ao campo, numa linguagem homogênea e acessível e, principalmente, através de demonstrações práticas.

Vamos ver o que poderá acontecer.
 

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