quinta-feira, 20 de setembro de 2012

“A velocidade nos torna desiguais no trânsito”, diz especialista


Mestre em Sociologia (UnB) e especialista em Segurança no Trânsito, Eduardo Biavati é hoje um dos nomes mais respeitados quandose fala em trânsito, em todo o país. É membro titular da Câmara Temática de Educação e Cidadania do Conselho Nacional de Trânsito(Contran). De 1993 a 2004, foi Coordenador Nacional do Programa de Prevenção de Acidentes de Trânsito da Rede Sarah de Hospitaisde Reabilitação. 
Biavati será o convidado do Detran|ES para falar a estudantes de ensino médio sobre “Jovens e Trânsito”, dentro das atividades daSemana Nacional de Trânsito, que vai de 18 a 25 de setembro. O tema deste ano é “Não exceda a velocidade, preserve a vida”.

Na entrevista a seguir, Biavati fala sobre prevenção de acidentes e o papel fundamental da educação para a formação de bonscondutores.

1 – Em sua opinião, qual é o maior desafio para a redução dos acidentes de trânsito?

Biavati: O maior desafio é a integração intersetorial das políticas públicas. Essa é a essência da "Década Mundial de Ação para aSegurança no Trânsito 2011-2020", convocada pela Onu. Integração exige compartilhamento de poder, exige soma de inteligências e,sobretudo, a compreensão de que a morte e a lesão no trânsito são responsabilidades compartilhadas tanto pelos cidadãos como pelosgestores públicos.

2 – No caso específico do excesso de velocidade, o que pode ser feito para que os motoristas respeitem a legislação? Ascidades brasileiras estão se preparando para lidar com a prioridade ao transporte coletivo, pedestres e ciclistas?

Biavati: O controle da velocidade é um passo fundamental para a redução da morte e da lesão no trânsito. A violência do trânsito éfunção direta da velocidade dos deslocamentos no sistema do trânsito. Nós ainda não entendemos nem fomos capazes de formar umconsenso social de que a velocidade nos torna desiguais no trânsito - quanto maior a velocidade maior a fragilidade dos usuários maisvulneráveis. 

Queremos mesmo integrar as bicicletas no trânsito? Queremos mesmo incentivar as pessoas a caminharem na cidade? Então, teremos que baixar substancialmente os limites de velocidade dos veículos motorizados - inclusive do transporte público. Se queremos mesmo cidades melhores, mais sustentáveis e mais seguras, teremos que maximizar o controle da velocidade no trânsito e esse é um desafio político que praticamente nenhuma cidade brasileira enfrentou até o momento. 

3 – Qual é o papel da educação na formação dos futuros motoristas?

Biavati: A educação para o trânsito no Brasil ainda não encontrou um lugar na agenda da educação do cidadão - talvez esse tenha sido nosso menor avanço na última década. Nós temos que abandonar o lamento infinito de que as escolas e os professores não reconhecem a importância da segurança no trânsito e nos questionar onde temos falhado em construir a importância desse tema. Falhamos, para começo de conversa, em "vender" a educação para o trânsito como um projeto político-pedagógico que converse com as outras temáticas especialmente da saúde: poderíamos falar de segurança no trânsito a partir do trabalho escolar de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e HIV? Poderíamos falar de segurança no trânsito a partir do tema muito mais amplo da formação de hábitos de saúde? Sim, essa seria minha aposta: demonstrar que o trânsito é apenas uma dimensão constituinte da cidadania.

4 – Como o senhor avalia a ideia de punição mais rigorosa para motoristas que dirigem depois de beber?

Biavati: Não concordo que a punição da conduta de beber e dirigir tenha que ser mais rigorosa - basta que ela aconteça efetivamente e isso hoje confronta a capacidade gerencial de execução não apenas dos órgãos gestores de trânsito do país, mas também da Justiça brasileira. Nós já temos uma legislação rigorosíssima que estabelece, na prática, a proibição do consumo de qualquer quantidade de álcool pelos condutores de veículos. Basta aplicar a fiscalização dessa proibição, o que nos leva de volta à questão da obrigatoriedade de uso do bafômetro - que está aguardando uma decisão final do STF - e também à aplicação hábil e útil da suspensão da habilitação do condutor transgressor. Os condutores deveriam temer seriamente perder a habilitação, mas não temem - não temem sequer continuar dirigindo sem a habilitação, porque contam com a fragilidade e a insuficiência de vigilância do poder do Estado.


Informações à Imprensa: Assessoria de Comunicação do Detran|ES Tels: (27) 3137-2627 / 9944-1358 karyna.amorim@detran.es.gov.br Vinícius Yungtay 3137-2627 / 9943-7060 vinicius.yungtay@detran.es.gov.br www.detran.es.gov.br Texto: Maria Luiza Damiani

Nenhum comentário:

Postar um comentário