quarta-feira, 12 de setembro de 2012

China e América Latina: "muitos rótulos, pouco conhecimento"


China e América Latina: "muitos rótulos, pouco conhecimento"

As relações entre a China e a América Latina foram tema de um debate no Simpósio Internacional "A Esquerda na América Latina", realizado na USP. Para o professor Marcos Cordeiro Pires, um dos fatores do sucesso chinês é "um planejamento muito mais indicativo do que o planejamento impositivo adotado na antiga URSS. O geógrafo Vladimir Milton Pomar disse que "há muitos rótulos e muito pouco conhecimento sobre a China".

São Paulo - Dentro da programação do Simpósio Internacional “A Esquerda na América Latina”, no auditório da Geografia, ocorreu o debate “China e América Latina”, do qual participaram Marcos Cordeiro Pires, professor do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas da UNESP/Marília e diretor adjunto do Instituto Confúcio na UNESP, e Vladimir Milton Pomar, geógrafo que analisa o comércio e as relações internacionais da China desde 1997. 

O modelo chinês centrou a apresentação de Marcos Cordeiro Pires, que buscou discutir a forma como o país tem obtido o grande crescimento econômico e viabilizado a estabilidade política. Segundo Marcos, três pilares caracterizam o modelo da China. Primeiramente, a criação de um “planejamento muito mais indicativo do que o planejamento impositivo que fora anteriormente [na URSS]”. Outro pilar apontado foi a orientação da produção para exportações, desde a década de 1980 até a crise de 2008, que possibilitou a absorção de conhecimento tecnológico e administrativo ao país.

A criação das Zonas Econômicas Especiais, contidas neste pilar, difere, conforme explicitado na apresentação, da Zona Franca de Manaus, à medida que a China aprende e agrega ao processo produtivo, inserindo-se em cadeias produtivas internacionais. O terceiro e último pilar reside na mão-de-obra barata, que seria em parte resultante de um estoque muito grande de mão de obra. 

Dois outros argumentos ainda foram apresentados sobre o sucesso do modelo chinês: a taxa de câmbio (fortemente desvalorizada até 2005) e processo simultâneo de crescimento do nível educacional e de crescimento de agregação de valor ao produto. A China mantém capital estatal sobre todos os setores estratégicos, mantendo inclusive 4 megabancos a promover o avanço das forças produtivas.

Marcos Cordeiro, utilizando como exemplo a questão da cidadania chinesa concedida apenas àqueles que nasceram na comunidade, associada ao grande fluxo migratório no país, observou que o modelo chinês cria algumas distorções do ponto de vista social. Questionou, então, se o modelo é capaz de inspirar movimentos no Brasil, como fez o maoísmo no passado. 

Por fim, Cordeiro dissertou sobre as relações comerciais entre a América Latina e China, que vêm se tornando grandes parceiros em relações geralmente bilaterais entre os países envolvidos, num processo de crescimento comercial chinês.

Encerrando as apresentações da mesa, Vladimir Milton Pomar buscou desmistificar a China, sobre a qual, segundo ele, existem “muitos rótulos e muito pouco conhecimento”. Pomar buscou demonstrar que a China transformou-se de um país totalmente arrasado, sem estrutura produtiva e infraestrutura de transportes, com mais de 90% de analfabetismo, em 1950, na segunda potência mundial, atualmente, com crescimentos do PIB na faixa dos 8% ao ano. 

E assim o fez, segundo o geógrafo, apesar de algumas vulnerabilidades, como a matriz energética composta em 70% por carvão e a escassez de recursos hídricos, promovendo melhora na qualidade de vida da população, acesso da população aos bens de consumo e aumento do poder aquisitivo da população urbana. Ressaltou, por fim, a grande competitivadade chinesa, que “transporta por ferrovia dez vezes mais carga/km do que o Brasil” e promove a redução de custos.

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