quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Em debate sobre lutas estudantis, críticas à UNE e reflexão sobre futuro do movimento


Em debate sobre lutas estudantis, críticas à UNE e reflexão sobre futuro do movimento

Debate sobre lutas estudantis na América Latina, no simpósio sobre a situação da esquerda no continente, realizado na USP, foi marcado por críticas à atuação da União Nacional de Estudantes e à situação geral do movimento estudantil. "A UNE é hoje o ministério estudantil do governo federal", disse Clara Saraiva, da Assembléia Nacional dos Estudantes - Livre. Para sociólogo, movimento estudantil deve reavaliar sua relação com partidos.

São Paulo - “A União Nacional dos Estudantes (UNE) é hoje o ministério estudantil do governo federal”, disse Clara Saraiva, membro da executiva-nacional da Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre (Anel) num encontro do simpósio A Esquerda na América Latina - História, Presente, Perspectivas, realizado na USP, que reuniu militantes, ex-militantes e pesquisadores do movimento estudantil latino-americano para discutir a luta dos estudantes na América Latina.

Boa parte das intervenções do encontro foram marcadas por duras críticas à União Nacional dos Estudantes. Mário de Souza Costa, professor de psicologia social e do trabalho e militante do movimento estudantil nas décadas de 80 e 90, declarou que “a UNE nunca aceitou que se formasse outro orgão representante dos estudantes”. Segundo Clara, “ainda que desfavorecida pelo papel cumprido pela UNE, a greve das federais é uma resposta dos estudantes e dos professores ao modelo de educação implementada pelo PT, com o Reuni (o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), que leva os estudantes a acompanharem aulas em conteineres”. A greve, à qual Clara chegou a referir-se como “maior greve na educação da história do Brasil”, já manteve paralisadas mais de 55 universidades federais e hoje, seu 118º dia, paralisa totalmente apenas 14 instituições.

Os partidos e o movimento estudantil
Outra questão longamente discutida foi a do papel dos partidos políticos no movimento estudantil. Carlos Menegozzo, sociólogo e arquivista que pesquisa o movimento estudantil no Centro Sérgio Buarque de Holanda da Fundação Perseu Abramo, defendeu que o movimento estudantil é “incapaz de autonomia por razões econômicas: a maioria dos estudantes ou tem pouca autonomia financeira ou não pode atuar tanto quanto quer politicamente por falta de tempo. Assim, a luta dos estudantes é dependente de um partido que possa formar militantes e ajudar estrategicamente”, disse Carlos. 

Ainda segundo ele, “não há partido político que dê conta desse problema atualmente”. Mário Costa reclamou da atual relação entre partidos e estudantes: “o movimento estudantil se tornou um celeiro de quadros políticos para os partidos, sua singularidade não é mais reconhecida, ele é visto no máximo como expressão de um movimento de juventude”.

Clara, que é militante do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), disse que uma das características da nova geração de estudantes é a desconfiança com os partidos. “Essa desconfiança é legítima, mas o movimento estudantil não pode negar a importância dos partidos e o partido deve respeitar a lógica interna do movimento estudantil”. 

Lúcia Sioli, da Federação de Estudantes Universitários do Uruguai (FEUU), declarou que grande parte das entidades estudantis uruguaias estão subordinadas ao governo de José Mujica que, segundo ela, “está muito mais preocupado com a dívida externa do que com a educação”.

A uruguaia pensa que a luta dos trabalhadores e a dos estudantes deve ser tratadas como a mesma, principalmente num contexto em que a guerra de classes é evidenciada pela crise econômica. Clara, ao comentar a conjuntura mundial da luta dos estudantes, concordou dizendo que “na Europa e em países como o Canadá, a conta da crise é paga pelos trabalhadores e pela juventude, não pelo grande capital; na América Latina, ao invés de alguns governos que optam por conciliar as duas classes sociais opostas, o movimento estudantil deve escolher seu lado”.

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