quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Por uma metrópole de código aberto


  12 DE SETEMBRO DE 2012

Imagem retirada do jogo SimCity, em que o jogador é convidado a montar – e desmontar – uma cidade conforme sua própria vontade.
Proposta: em favor do Direito à Cidade, adotar nos centros urbanos os mesmos princípios de abertura que regem o software livre. Seria  convite para acabar com o mito do inatingível, do misterioso, do ser só para alguns
Por Thiago Carrapatoso, no Planeta Sustentável
E nessas ainda de discutir uma cidade colaborativa, caí em um artigo sobre um sonho em que o protagonista era um DJ. Não um qualquer, que discoteca por horas a fio nas noites do fim de semana. Mas um DJ de cidade. Sua mesa é a urbe, e suas músicas são avenidas e prédios que são constantemente alterados conforme a batida necessária.
Como isso seria possível? Por meio de uma cidade que não é essa estrutura fixa que conhecemos. Seria uma que seguiria os preceitos do software livre, sendo aberta e moldável por qualquer um. O autor do artigo – e do sonho -, Bernardo Gutiérrez, compara as teorias de dois cânones em urbanismo e software livre: Henri Lefebvre e Richard Stallman, respectivamente. O primeiro é responsável por definir e lutar pelo direito à cidade, em que todos os moradores da urbe devem poder usufruir da estrutura urbana seja morando no centro ou nas periferias. Já o segundo fundou o movimento de software livre e criou as liberdades que orientam até hoje a Free Software Foundation a definir se um programa é realmente livre ou não.
A ideia fica muito mais fácil de se entender quando substituímos a palavra “software” ou “programa” por “cidade” nas quatro regras:
Liberdade 0: A liberdade para executar a cidade para qualquer propósito;
Liberdade 1: A liberdade de estudar como a cidade funciona e adaptá-la para as suas necessidades;
Liberdade 2: A liberdade de redistribuir cópias da cidade de modo que você possa ajudar ao seu próximo;
Liberdade 3: A liberdade de modificar a cidade e distribuir estas modificações de modo que toda a comunidade se beneficie.
O copyleft, ou a não proteção total dos direitos de autor, serviria para garantir que todos os cidadãos possam ter o direito à cidade. No começo, parece um tanto utópica a ideia, mas quando se aprofunda um pouco mais no assunto, se vê várias iniciativas que já trabalham com isso. Há até um projeto para criar uma licença aberta específica para as cidades, como meio de garantir que ela se adeque à realidade urbana e arquitetônica.
E não é algo tão recente assim. Em 2008, a dupla Rahul Srivastava e Matías Echenove escreveu uma lista de 12 princípios para uma arquitetura da participação, como forma de engajar pessoas comuns, ONGs e urbanistas na estruturação das cidades. Entre os tópicos, há conselhos bem interessantes, como apontar o que você e a sua comunidade precisam e levar essa discussão para frente. Como ele diz, “não cabe aos planejadores públicos adivinhar o que as pessoas precisam” ou “você não entende realmente um problema até depois de se começar a implementar a solução” (em outras palavras, faça primeiro e depois mitigue).
É um cenário perfeito para que os cidadãos não tenham uma relação unilateral com seus bairros e cidades, mas sim se engajem na construção e melhoria do aparato urbano. O viés do aberto é, mais uma vez, um convite para tirar o mito do inatingível, do misterioso, do ser só para alguns. Pensar as cidades como um software aberto permite com que qualquer um edite seu código e o copie para distribuir para quem mais interessar. As cidades devem ser mecanismos moldáveis às realidades e necessidades, e não estruturas físicas, concretas, insolúveis.
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