Surgimento do comunismo na América Latina é tema de debate na USP
Mesa do Simpósio Internacional A Esquerda na América Latina, que acontece na USP, discutiu a formação dos PCs no continente, a influência da Revolução Russa nesse processo e os desafios a serem enfrentados pelo movimento na atualidade. Segundo o sociólogo Kennedy Ferreira, hoje há uma total dispersão e fragmentação intelectual entre os comunistas da América Latina.
Isabel Harari
São Paulo - “É impossível começar minha fala sem lembrar-me de Salvador Allende”, disse o sociólogo Kennedy Ferreira, seguido por uma salva de palmas, durante a mesa “O comunismo na América Latina”, do Simpósio Internacional A esquerda na América Latina. A importância da realização do debate foi um ponto levantado por todos os participantes, que, citando o subtítulo do próprio simpósio, ressaltaram a necessidade de se discutir “história, presente e perspectivas” da esquerda para que o movimento comunista seja foco de estudo e, consequentemente, torne-se melhor no futuro.
Antônio Mazzeo, professor de Ciências Sociais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), destrinchou as origens do comunismo na América Latina, destacando a presença de análises muitas vezes antagônicas acerca da revolução socialista. Um exemplo disso foi a polêmica em torno da teoria – defendida, principalmente pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) – de que a existência no Brasil de relações feudais tornariam necessária uma revolução burguesa que transformasse o país em capitalista – para em seguida ocorrer uma revolução socialista.
O historiador, geógrafo e escritor Caio Prado Jr se contrapôs a essa tese. Segundo ele, Brasil poderia pular a etapa da revolução burguesa, uma vez que o país já havia nascido capitalista, por causa do caráter da colonização. Para Mazzeo, Caio Prado Jr. inovou ao introduzir o conceito da “particularidade” presente no sentido histórico da colonização. Citando Marx, o professor disse: “é na particularidade que se concretiza a universalidade”.
Em relação ao etapismo, Mazzeo fez a uma comparação entre o PCB em sua origem e o PT de hoje. “O PC pregava que era preciso uma revolução democrática burguesa e depois a socialista; já o PT hoje fala que é preciso uma revolução democrática burguesa e ponto final”.
Marcos Del Royo, doutor em Ciência Política, procurou explicar as origens dos PCs pela América Latina e a difusão do movimento comunista pelo continente. Demonstrou a importância da Revolução Russa de 1917 para a consolidação e disseminação do movimento e afirmou que com isso “o planeta ficou balançado por imensas revoltas operárias populares”. Ele salientou que, após a 2ª Guerra Mundial, os únicos grandes PCs eram o do Chile e o do Brasil.
O foco do historiador Victor Vigneron foi o caso peruano. Ele discorreu sobre os acertos e erros de se tomar a figura de José Carlos Mariátegui como polo principal do movimento comunista no Peru. O pensador, segundo ele, foi de suma importância na implementação do PC no país, além de ser autor de sete ensaios sobre a realidade peruana, essenciais para se entender o país andino ontem e hoje. Em um dos ensaios, cujo tema é centrado na religião, Mariátegui discute a necessidade de se lidar com a religiosidade popular e reivindica uma religiosidade revolucionária.
O sociólogo Kennedy Ferreira destacou o papel da Revolução Russa como um horizonte das fundações dos PCs na América Latina. Segundo ele, hoje há uma total dispersão e fragmentação intelectual e prática do movimento comunista. Para Ferreira, este deve superar questões como: a arrogância – o movimento é incapaz de ouvir e escutar o outro –; a crença no determinismo histórico, segundo o qual o socialismo é uma etapa natural na história; a substituição do estudo da ação por práticas voluntárias; o “economicismo”; o pragmatismo; e o reformismo. “O movimento precisa ser reconstruído, fundamentalmente, nos bairros proletários e nas fábricas. Nós, que propusemos transformar o mundo através da liberdade, da supressão do capitalismo, seremos vítimas das nossas propostas”, declarou.
Antônio Mazzeo, professor de Ciências Sociais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), destrinchou as origens do comunismo na América Latina, destacando a presença de análises muitas vezes antagônicas acerca da revolução socialista. Um exemplo disso foi a polêmica em torno da teoria – defendida, principalmente pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) – de que a existência no Brasil de relações feudais tornariam necessária uma revolução burguesa que transformasse o país em capitalista – para em seguida ocorrer uma revolução socialista.
O historiador, geógrafo e escritor Caio Prado Jr se contrapôs a essa tese. Segundo ele, Brasil poderia pular a etapa da revolução burguesa, uma vez que o país já havia nascido capitalista, por causa do caráter da colonização. Para Mazzeo, Caio Prado Jr. inovou ao introduzir o conceito da “particularidade” presente no sentido histórico da colonização. Citando Marx, o professor disse: “é na particularidade que se concretiza a universalidade”.
Em relação ao etapismo, Mazzeo fez a uma comparação entre o PCB em sua origem e o PT de hoje. “O PC pregava que era preciso uma revolução democrática burguesa e depois a socialista; já o PT hoje fala que é preciso uma revolução democrática burguesa e ponto final”.
Marcos Del Royo, doutor em Ciência Política, procurou explicar as origens dos PCs pela América Latina e a difusão do movimento comunista pelo continente. Demonstrou a importância da Revolução Russa de 1917 para a consolidação e disseminação do movimento e afirmou que com isso “o planeta ficou balançado por imensas revoltas operárias populares”. Ele salientou que, após a 2ª Guerra Mundial, os únicos grandes PCs eram o do Chile e o do Brasil.
O foco do historiador Victor Vigneron foi o caso peruano. Ele discorreu sobre os acertos e erros de se tomar a figura de José Carlos Mariátegui como polo principal do movimento comunista no Peru. O pensador, segundo ele, foi de suma importância na implementação do PC no país, além de ser autor de sete ensaios sobre a realidade peruana, essenciais para se entender o país andino ontem e hoje. Em um dos ensaios, cujo tema é centrado na religião, Mariátegui discute a necessidade de se lidar com a religiosidade popular e reivindica uma religiosidade revolucionária.
O sociólogo Kennedy Ferreira destacou o papel da Revolução Russa como um horizonte das fundações dos PCs na América Latina. Segundo ele, hoje há uma total dispersão e fragmentação intelectual e prática do movimento comunista. Para Ferreira, este deve superar questões como: a arrogância – o movimento é incapaz de ouvir e escutar o outro –; a crença no determinismo histórico, segundo o qual o socialismo é uma etapa natural na história; a substituição do estudo da ação por práticas voluntárias; o “economicismo”; o pragmatismo; e o reformismo. “O movimento precisa ser reconstruído, fundamentalmente, nos bairros proletários e nas fábricas. Nós, que propusemos transformar o mundo através da liberdade, da supressão do capitalismo, seremos vítimas das nossas propostas”, declarou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário