sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Em Istambul, os imigrantes clandestinos africanos tentam levar vida com 'discrição'


Era final de noite em Istambul, à beira do porto de Kadiköy, no momento em que as pessoas corriam até o último barco que liga a margem asiática da metrópole à sua margem europeia. A pequena comunidade de clandestinos da África negra se encontra lá todas as noites, para voltar de seu local de trabalho para seus quartos no bairro religioso de Istambul, Eminönu. Eles se mantêm em silêncio, levando embaixo dos braços grandes sacos pretos que escondem as mercadorias que eles vendem escondido. Aqui, é melhor não ser notado.

Louise Lavabre
Imigrantes africanos esperam para desembarcar de um barco de patrulha depois de chegar à base das Forças Armadas da Esquadra Marítima de Malta, em Haywharf, na Marsamxett Harbour Valletta
Imigrantes africanos esperam para desembarcar de um barco de patrulha depois de chegar à base das Forças Armadas da Esquadra Marítima de Malta, em Haywharf, na Marsamxett Harbour Valletta
Um homem, embriagado, se levanta quando as vê, gritando-lhes insultos em turco. Os homens permanecem impassíveis. Por fim, é uma jovem mulher que intervém para pedir que acalmem o beberrão. “Estamos acostumados. Mas isso pode degringolar rápido, então nos controlamos”, conta Ismael. Ele afirma de um de seus amigos foi apunhalado até a morte quando reagiu.

Ange-Marie faz parte da pequena comunidade de senegaleses de Istambul. Aqui, eles fazem a “relojoaria”, ou seja, vendem relógios na rua. Muitas vezes, algum cliente de passagem lhe pergunta: “Você é muçulmano?” Então Ange-Marie se rebatizou de “Malik”, por achar mais seguro adotar um nome de sonoridade muçulmana.

Aqui, quando se dirigem a ele, geralmente é para aconselhá-lo a fugir ou para tratá-lo de “cão sujo” ou de “macaco sujo”. Ele teme particularmente os antigos camponeses, os “migrantes do interior” que também buscam trabalho e uma posição social. Assim, o silêncio se tornou a arma mais eficaz. Porque aqui, “sempre estamos errados”, diz Ange-Marie. “De qualquer maneira, se eu quisesse ter razão, ficaria no meu país”. 
“Minha liberdade antes de tudo” 
Quando ele quer explicar por que foi embora, seu rosto fica mais sério e agitado. Sua mão, nervosa, arranha sem parar o canto de seu joelho. Ange-Marie vem de Casamance, região do sul do Senegal vítima de um conflito latente desde 1982 entre as forças governamentais e rebeldes separatistas do Movimento das Forças Democráticas de Casamance. Ele conta ter fugido num dia em que quase foi recrutado à força: “Minha liberdade acima de tudo, preferi partir para mantê-la”, ele explica.

Assim como Ange-Marie, a comunidade “negra” de Istambul é constituída essencialmente de homens muito jovens vindos do Senegal, do Mali, da Nigéria e da Etiópia. Todos vieram se refugiar na Turquia porque a passagem era mais fácil e porque lhes disseram que eles poderiam ganhar lá o dinheiro necessário antes de partirem novamente. Isso porque a viagem não terminou. Para eles, o destino final é a Europa.

Então eles ficam lá, presos entre dois destinos nessa margem hostil onde podem ter de permanecer. São raros os que conseguem viajar novamente, para um lado ou para o outro.
Tradutor: Lana Lim


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