quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Otimismo moderado para a economia mundial


Delfim Netto, Luiz Gonzaga Belluzzo e Luiz Carlos Mendonça de Barros acreditam em dias melhores no cenário internacional. Eles participaram de seminário promovido pela Câmara Árabe e Valor Econômico.

Alexandre Rochaalexandre.rocha@anba.com.br
Luiciano Amarante/Agência Meios 
Delfim: mecanismos impostos são cruéis
São Paulo – Otimista, mas moderada. Essa é visão para o futuro das economias mundial e brasileira, segundo Antonio Delfim Netto, Luiz Gonzaga Belluzzo e Luiz Carlos Mendonça de Barros, três dos mais respeitados economistas do Brasil, que participaram nesta quarta-feira (17), em São Paulo, do seminário "Perspectivas das relações econômicas entre o Brasil e os países árabes – 60 anos da Câmara de Comércio Árabe Brasileira", promovido pela Câmara Árabe e o jornalValor Econômico.

"A boa notícia é que o mundo não vai acabar. Apesar da insistência de alguns", ironizou Delfim, ex-ministro da Fazenda, durante o painel "A crise financeira global e o estado da economia". Para ele, apesar da incerteza sobre a crise da dívida na Europa, a tendência é que as autoridades europeias cheguem a um acordo para evitar a desagregação da Zona do Euro. "Não adianta dizer que os gregos comeram demais porque eles não têm como 'descomer'", disse.

A afirmação parte do pressuposto que a vontade política dos governantes tem que sobrepujar a análise fria dos números. O arrocho fiscal em países como Espanha, Grécia e Portugal agravou a situação econômica e desencadeou uma onda de protestos. A Alemanha, maior economia do continente, resiste a afrouxar este aperto. "Os mecanismos impostos são cruéis e não vão produzir resultados", declarou Delfim.

"A Alemanha precisa atuar como 'potência hegemônica' no sentido de ser responsável por seus 'hegemonizados'", destacou Belluzzo. "O grego comia, mas abastecia suas necessidades nas importações [de produtos] da Alemanha, que foi a grande beneficiada [do processo de endividamento de países europeus que levou à crise]", acrescentou.

Luiciano Amarante/Agência Meios 
Belluzzo: Alemanha tem que negociar
Mendonça de Barros, ex-ministro das Telecomunicações, ressaltou que algum tempo ainda vai passar até que as lideranças europeias cheguem a um consenso, mas afirmou: "O colapso do euro desencadearia uma segunda onda da crise."

Ele destacou que, num cenário completamente inverso ao da década de 1990, o Brasil poderia exportar hoje sua experiência no controle da dívida. Naquela época o País era grande devedor e ninguém imaginava que as nações desenvolvidas poderiam chegar ao nível de endividamento que atingiram. Como exemplos, os economistas citaram a renegociação das dívidas dos estados brasileiros com a União e a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Na União Europeia, porém, há um complicador: o bloco tem unidade monetária, mas não fiscal, o que dificulta um entendimento sobre as ações a serem tomas nessa seara.

Aí entra a ação política. "O capitalismo não vai acabar", declarou Delfim. "Mas não há economia de mercado sem um estado forte e capaz de regular a atividade econômica, principalmente a financeira", afirmou.

Para os economistas, a crise de 1929 e o New Deal do presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt, que impulsionou o mundo para fora da recessão, já haviam provado isso, mas a memória humana é curta. "Isso confirma a tentação do banqueiro em voltar ao local do crime", ironizou Delfim.

"Parece que nós tivemos uma regressão mental nas pessoas, em termos de ideologia e política, sei lá!", concordou Belluzzo, citando a resistência da primeira-ministra alemã, Angela Merckel, em deixar o Banco Central Europeu implementar ações mais profundas contra a crise.

Luiciano Amarante/Agência Meios 
Mendonça de Barros: Brasil vai crescer até 3,5%
No que diz respeito aos EUA, a visão é mais amena. "Eu olho para a economia americana e enxergo um processo de cura", declarou Mendonça de Barros. Delfim acrescentou, porém, que as eleições presidenciais no país, em novembro, acrescentam incerteza ao cenário. “O mundo pode sofrer um abalo sério se o [Mitt] Romney ganhar, pois ele manifesta preconceitos muito complicados, que podem ampliar a crise”, destacou.

Para o Brasil, Mendonça de Barros disse que tem uma estimativa “otimista, mas realista” sobre o crescimento, que deve ficar entre 3% e 3,5% nos próximos anos. “Eu acredito que 2013 será marcado pela volta dos investimentos, principalmente em países como o nosso, isolados do centro da crise”, declarou.

Árabes

Os economistas analisaram também o potencial de negócios com os países árabes. Mendonça de Barros destacou que sua empresa, a Quest, tem fundos de Abu Dhabi como clientes e que, após um período de suspensão dos contatos de negócios por causa da crise, eles voltaram a se interessar por oportunidades no Brasil.

Luiciano Amarante/Agência Meios 
Eventou reuniu 326 pessoas
Segundo Delfim, há um "amplo espaço" para aumentar os negócios. Ele contou que o vice-presidente Michel Temer, que é de origem libanesa, está especialmente empenhado em fomentar o intercâmbio com os árabes.

Belluzzo ressaltou que a diplomacia brasileira tem um papel importante nessa questão por sua posição conciliadora, que abre espaço para o aumento das relações. “A tendência é aumentar as relações para benefício mútuo” disse.

O presidente da Câmara Árabe, Salim Taufic Schahin, afirmou que o seminário foi "um sucesso". O evento foi acompanhado por 326 pessoas, entre empresários, consultores, estudantes e diplomatas. Schahin destacou que ainda existem perguntas a serem respondidas sobre o potencial das relações do Brasil com mundo árabe, que podem servir de gancho para outro encontro do gênero no futuro.

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