sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Um tesouro da arte islâmica exposto no Louvre


Quando a pirâmide de vidro de I.M. Pei foi inaugurada no Louvre, mais de 20 anos atrás, muitos consideraram que ela tinha estragado a beleza clássica de um dos maiores museus do mundo. Mas aquilo que então pareceu audaz hoje já é uma parte tão aceita da paisagem visual parisiense quanto são a Torre Eiffel ou o Arco do Triunfo.

CAROL VOGEL
Agora, o Louvre está novamente correndo o risco de provocar reações públicas negativas, introduzindo mais uma intervenção arquitetônicaradical.
Projetada para abrigar novas galerias de arte islâmica, ela consiste em espaços interiores no térreo e no subsolo do museu, encimados por um telhado dourado e ondulante que parece flutuar dentro do neoclássico Pátio Visconti, no meio da ala sul do Louvre.
O projeto de US$ 125 milhões, que levou dez anos para ser concluído e foi inaugurado em 22 de setembro, foi financiado em parte pelo governo francês e em parte pelo príncipe Alwaleed bin Talal, da Arábia Saudita, que deu ao Louvre US$ 20 milhões para a construção das galerias. É a maior doação em dinheiro já feita ao museu.
O teto dourado ergue-se desde a altura da cintura de um adulto, em suas bordas, até cerca de sete metros de altura no centro.
À primeira vista, parece leve o suficiente para ser varrido numa ventania forte, mas pesa mais de 130 toneladas métricas e foi construído com quase 9.000 tubos de aço que formam uma teia interior coberta por uma camada de vidro e superfície anodizada dourada.
O telhado é obra de dois arquitetos, o italiano Mario Bellini e o francês Rudy Ricciotti. Quando os planos foram mostrados pela primeira vez, os arquitetos disseram que o telhado lembraria "um lenço boiando no espaço".
Chamadas simplesmente de "Islã", as novas galerias têm quatro vezes o tamanho do espaço dedicado anteriormente à arte islâmica pelo Louvre. A coleção exposta abrange 1.200 anos, dos séculos 7 ao 19, e inclui artefatos em vidro, cerâmica e metal, livros, manuscritos, têxteis e tapetes.
Ela é composta de obras do acervo do próprio Louvre, de cerca de 14 mil artefatos e obras de arte relevantes, e do acervo do Museu de ArtesDecorativas, que está cedendo 3.500 obras permanentemente.
A coleção islâmica inclui objetos de grande valor que estão expostos no Louvre há anos. Mas agora também haverá dezenas de objetos e obras de arte que não tinham sido exibidos antes, incluindo um conjunto de cerca de 3.000 azulejos dos séculos 16 e 17 do Império Otomano que estavam guardados num depósito desde os anos 1970.
Cada azulejo foi fotografado e registrado em um banco de dados, e uma equipe de curadores, conservadores e moldureiros passou dois anos trabalhando diariamente para descobrir como organizá-los de modo convincente.
"Foi um quebra-cabeça gigante que levou mais de sete anos para ser completado", disse a diretora de arte islâmica do Louvre, Sophie Makariou.
Também foi complicado recriar o Pórtico Mameluco, um conjunto de 300 pedras que formou a abóbada e as paredes de um vestíbulo na entrada da residência de um governante da dinastia mameluca egípcia no Cairo, no fim do século 15.
Enquanto vasculhava os arquivos do Louvre, Makariou descobriu uma carta de décadas antes de um curador do Museu de Artes Decorativas, indagando se um portal e uma abóbada mostrados em desenhos antigos que acompanhavam a carta eram de fato partes de uma obra arquitetônica islâmica.
A carta também continha um número de acesso do sistema de museus francês.
Assim teve início um trabalho de investigação que levou anos. Makariou descobriu que o portal fazia parte de um vestíbulo desmontado no fim de 1887.
As pedras tinham sido embaladas em caixotes, armazenadas no Cairo e depois enviadas de navio à França, presume-se que para serem exibidas na Exposição Universal de 1889, o ano em que foi erguido o monumento da Torre Eiffel, em Paris.
Mas, por alguma razão desconhecida, elas não chegaram a ser expostas. Em vez disso, foram guardadas num depósito até serem descobertas, no início de 2000, num museu na região do sul da França.
"Foi emocionante", disse Makariou. "De repente aparece esse grande trabalho arquitetônico que ilustra a grandeza do Cairo durante essa dinastia muito excepcional."
"A obra é também o primeiro exemplo de arquitetura mameluca exposta em um museu", acrescentou ela.
Makariou também acrescentou sua impressão de que a obra é um dos muitos destaques das novas galerias "que enriquecem ainda mais a visão que o grande público europeu pode ter da arte islâmica".

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