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As aldeias alemãs estão desaparecendo lentamente, para o pesar dos seus habitantes, que acabam perdendo os locais onde costumam se reunir e fazer compras. Preocupados, eles tentam estancar a fuga das populações abrindo lojas comunitárias para manter vivos os seus vilarejos.
Há alguns meses, a última loja de Thier, na Alemanha ocidental, fechou. No pequeno café e padaria, as 1.300 pessoas da aldeia iam comprar pão. O mais importante é que era o local onde podiam se encontrar e ouvir as novidades. "Foi um sinal de alerta", diz Thomas Karthaus, que com outros habitantes resolveu abrir uma loja comunitária para recuperar um lugar para reunir os aldeões.
Como muitas outras aldeias da Alemanha, Thier, numa área rural a cerca de 46 quilômetros de Colônia, tornou-se vítima de duas tendências demográficas: o êxodo em massa das áreas rurais para as urbanas e o declínio geral da população. Isso significa que há menos crianças nascendo no país e as que nascem ao crescer se mudam para as grandes cidades.
Para os que ficam, a vida no interior ameaça tornar-se solitária. Açougueiros, padeiros, médicos, bancos e outros estabelecimentos comerciais desses lugarejos estão se mudando ou fechando as lojas, deixando os habitantes sem opção a não ser ir de carro para cidades maiores quando precisam de algum tipo de serviço. Mas, agora, as aldeias alemãs, como Thier, resolveram tomar a iniciativa, abrindo lojas na tentativa de manter vivos seus povoados.
"Em algum momento, a última loja da cidade irá fechar", diz Kristina Pezzei, ex-jornalista, que visitou 21 lojas de aldeia para o seu livro, a ser lançado em breve, sobre esse tema. "Então os pioneiros dirão: 'Precisamos fazer alguma coisa, precisamos salvar nossas lojas'", prossegue Kristina, atualmente pesquisadora do Instituto Federal de Pesquisa das Áreas Rurais, Silvicultura e Pesca.
Boom. A vida na aldeia ainda é uma espécie de mito para os alemães, segundo Claudia Neu, socióloga da Universidade Niederrhein de Ciências Aplicadas de Mönchengladbach. "Os alemães são muito orgulhosos das suas aldeias, mesmo que não morem nelas", afirma. "As pessoas ainda acham que são um lugar melhor para criar os filhos e costumam idealizar a vida no campo."
Cerca de 30% dos alemães ainda vivem em aldeias e para eles as lojas locais preservam o modo de vida das pequenas comunidades que muitos acham atraentes, diz Claudia. "Embora esses estabelecimentos não devam conter o êxodo dos jovens, são importantes pela qualidade de vida dos que ficam."
As modernas lojas de aldeia, como a que Thier pretende abrir no ano que vem, combinam todos os serviços de que os aldeões necessitam - da padaria ao banco. "As situações variam, dependendo de cada aldeia", diz Kristina. "Mas, nos últimos três ou quatro anos, tem havido um verdadeiro boom."
Em Thier, os habitantes não quiseram ficar sentados esperando a aldeia acabar. Nos últimos anos, chegou a fechar uma escola elementar , lojas e estabelecimentos comerciais. "Quisemos preservar a aldeia como um lugar onde se possa viver", diz Richard Schimitz, que faz parte de um comitê responsável pela abertura de lojas em aldeias.
A ideia de uma loja comunitária é bem vista entre os habitantes de Thier. O grupo distribuiu uma pesquisa sobre a possibilidade de uma loja para 500 habitantes e 350 responderam: 95% se mostraram favoráveis à ideia, diz Karthaus. Eles já venderam 190 ações a 200 cada para captar dinheiro e agora estão visitando outros centros comerciais do gênero para compreender melhor como fazer as coisas funcionarem.
A última gota. Foi assim que Karthaus, Schmitz e dois outros habitantes de Thier viajaram cem quilômetros até a aldeia de Barmen, na área rural de uma cidade chamada Jülich. A loja de Barmen, aberta há seis anos, tornou-se o modelo para outras cidadezinhas desejosas de abrir esse tipo de lojas.
Para Barmen, o banco foi a última gota. Quando fechou, em 1998, Heinz Frey tratou de levantar dinheiro para abrirem um centro comercial, diz Christian Klems, um aposentado que Frey convenceu a aderir à causa. No começo, bancos e investidores recusaram-se a ajudá-los. Mais tarde, eles conseguiram doações e venderam ações a 250 cada a cem aldeões. Constituíram uma companhia e reuniram o capital necessário para comprar o antigo banco. O centro comercial abriu as portas em 2006.
Desde então, o número de aldeões cresceu, diz Klems. Hoje a loja de 150 metros quadrados vende artigos básicos como carne fresca, hortaliças e pão, bem como artigos para limpeza, álcool, revistas e outros artigos de que os aldeões podem precisar.
Além disso, há um caixa eletrônico, uma miniagência dos correios, uma agência de viagens, um escritório para licenciar carros ou renovar a carteira de motorista e até um médico de uma cidade próxima que vem uma vez por semana. A loja tem um empregado em tempo integral e sete em período parcial.
Embora haja supermercados maiores a cerca de cinco ou dez quilômetros, até os habitantes que têm carro preferem comprar na loja. "É muito bom", diz Jörg Berger, que mora no vilarejo há 20 anos. "Agora não preciso do carro para fazer compras".
Ganho social. Como começaram a receber muitos pedidos de informações, os administradores da loja de Barmen criaram uma empresa de consultoria. Segundo Klems, já ajudaram a abrir cerca de dez lojas, e nenhuma delas está perdendo dinheiro. E estão concluindo outras 25.
Eles ajudam as aldeias a calcular a viabilidade de um projeto, o modelo empresarial a ser adotado, o que os residentes querem e como poderão consegui-lo rapidamente. Georg Schmitz, um dos consultores da Barmen, conta que a loja de Barmen precisa ganhar de 380 mil a 420 mil ao ano para empatar gastos com receita. Cerca de um terço das vendas vem da carne, o que sustenta itens que dão prejuízo, como flores.
O café, no fundo, é o elemento mais importante da loja, diz Georg Schmitz. Esse tipo de estabelecimento não tem como competir com as lojas de descontos ou com os supermercados para clientes mais ricos em matéria de variedade, mas eles oferecem uma experiência diferente daquela que se poderia ter numa loja maior na cidade, diz ele. "O nosso objetivo é um ganho social - e esta vantagem para a nossa comunidade não pode ser avaliada em euros."
Entretanto, para algumas aldeias, já é muito tarde, afirma Claudia. A leste da Alemanha, por exemplo, inúmeros habitantes partiram depois da reunificação, em 1990. "Muitas cidadezinhas são pequenas demais e não há um envolvimento dos cidadãos."
Os povoados que não têm condições de fazer com que uma loja comunitária possa funcionar têm um futuro complicado, diz Kristina. "Há lugares em que vai ser preciso apagar a luz." / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA
vlw! Ajudou muito para o meu trabalho de alemão !! Vc é show !!
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