O que países do sudeste asiático, como Tailândia e Myanmar, mais precisam nesse momento não é, de modo algum, decidir se adotam a democracia, ou outra via.
Ding Gang
Ding Gang
Os presidentes dos EUA não sabem falar com modéstia sobre a democracia dos EUA, nem são capazes de ver que é processo específico dos EUA. O presidente Barack Obama não traz qualquer novidade a essa constatação geral.
Funcionou para nós por mais de 200 anos, e acho que funcionará para a Tailândia e funcionará para toda essa região. E a alternativa, penso eu, é uma falsa esperança; com o tempo, entrará em erosão e colapso, sob o peso de povos cujas aspirações não estão sendo atendidas.
Mas a verdade é que não há remédios mágicos. A declaração de Obama soou como a declaração antiterrorismo do presidente George W. Bush, há uma década, para o qual seria "conosco ou contra nós".
Apesar de a democracia dos EUA ser apresentada como único remédio possível para todos os problemas de reformas e desenvolvimento, e como linha que divide o mundo, o valor da democracia dos EUA é, de fato, muito reduzido.
Durante o ano passado, visitei oito países do sudeste asiático, todos eles com problemas de integração étnica. A questão principal é a integração dos muçulmanos com budistas e outros grupos étnicos. Até aqui, não vi um único país da Associação dos Países do Sudeste Asiático [orig. ASEAN countries] que tenha, de modo adequado e amplo, resolvido esse problema.
Todos esses países praticam sistemas multipartidários e sistemas eleitorais de "uma pessoa, um voto". Myanmar está atrasado nesse processo, e o Parlamento ali ainda é controlado pelos militares, mas, afinal, o partido da oposição liderado por Aung San Suu Kyi chegou ao Congresso.
Mas conseguir que os budistas aceitem com tolerância o povo Rohingya e permitam que os Rohingyas participem na vida democrática em Myanmar não é problema que possa ser resolvido em eleições.
E há também outras lições a aprender no sudeste asiático.
Com vistas a seduzir eleitores, alguns instigam propositadamente os conflitos entre diferentes níveis sociais e grupos étnicos e até substituem a lei civil por regras religiosas, para bloquear outros grupos étnicos.
Temos de ter extremo cuidado na aplicação do modelo dos EUA ao Oriente, sobretudo no sudeste da Ásia, para onde convergem as duas maiores religiões do mundo, o Islã e o Budismo.
Há um sentido de urgência, na ênfase que Obama dá aos efeitos da democracia dos EUA. O poder de influência dos EUA já declinou tanto, que o presidente dá sinais de nervosismo.
Até as pessoas mais simples sabem ver o que se passa. A Associated Press, em matéria recente, noticiou que:
Obama, sem sapatos, andando de meias por um templo no coração de Bangkok, recebeu de um monge votos de boa-sorte, na difícil negociação para reduzir o déficit que o espera em Washington.
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu.
Ding Gang é editor-chefe de People's Daily, Bangkok
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