quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Café especial produzido no Norte Pioneiro do Paraná recebe certificação de Indicação Geográfica


O café especial produzido no Norte Pioneiro do Paraná recebeu a certificação de Indicação Geográfica Procedência (IGP) do Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI). A região - que envolve 45 municípios com 7.500 cafeicultores responsáveis pela produção de 1,1 milhão a 1,3 milhão de sacas beneficiadas por ano, que correspondem a 50% da produção paranaense de café - é a primeira do Paraná a receber a distinção. Além do Paraná, somente outras duas regiões produtoras de café no País apresentam o registro oficial:  o Cerrado Mineiro e a Serra da Mantiqueira, ambas em Minas Gerais.
A mais nova IGP atribui identidade própria ao produto ao garantir a origem, os processos de produção e algumas características sensoriais do café produzido na região de acordo com as normas estabelecidas para a concessão do selo de qualidade. Também representa o reconhecimento das qualidades particulares do produto, agregando-lhe valor no mercado nacional e internacional, e visibilidade e projeção da região no mundo. Além disso, permite proteção do produto (reduzindo as falsificações) e de sua variedade e imagem, da renda do produtor, dos direitos do consumidor, da riqueza e do desenvolvimento, do território, da cultura e da tradição da região.
União faz a força - A certificação do Norte Pioneiro como região produtora de cafés especiais é fruto de um trabalho intenso realizado por várias instituições representantes e parceiras da cadeia produtiva do café na região, impulsionadas pela vontade dos cafeicultores e conduzidas pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - Sebrae. Entre as instituições diretamente envolvidas estão o Instituto Agronômico do Paraná - Iapar e Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural - Emater (ambas instituições participantes do Consórcio Pesquisa Café, cujo programa de pesquisa é coordenado pela Embrapa Café, Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa), da Associação de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná - Acenpp, Secretaria de Agricultura e Abastecimento - Seab, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - Senar, Associação dos Municípios Norte Pioneiro - Amunorpi, Federação da Agricultura do Estado do Paraná - Faep, Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Paraná - Crea-PR e Cooperativa de Cafés Especiais Certificados do Norte Pioneiro do Paraná - Coenpp.
Histórico – A conquista do selo de IGP é o coroamento de uma busca por mais qualidade para o café da região. Produção, pesquisa, ensino, extensão, indústria e governo estão aliados, há cerca de 15 anos, visando a esse objetivo. O Iapar, ao longo dos seus mais de 40 anos de existência, sempre desenvolveu tecnologias em prol do café e, com a criação do Consórcio em 1997, as pesquisas se intensificaram, o que contribuiu para aumentar a produtividade média no estado de sete para 24 sacas beneficiadas por hectare e melhorar a qualidade do produto. “É um somatório de tecnologias, desde a adubação até o pós-colheita e ainda para caracterização do produto final. Todo o programa de pesquisa do Iapar contribuiu para a obtenção desse sucesso e vai contribuir para os que vierem, pois há outras regiões no estado com potencial para certificação. E o Consórcio Pesquisa Café foi agente agregador em todo o processo”, diz o diretor técnico-científico, Armando Androcioli.
Os cafeicultores, graças também ao trabalho de transferência dessas tecnologias realizado pela Emater a partir de 2000, tiveram de mudar concepções sobre técnicas de cultivo e manuseio do café. Foram capacitados a produzir de acordo com as boas práticas, como aquisição de mudas de qualidade, adoção de técnicas de proteção do solo, adubação, adensamento, redução de agrotóxicos nas lavouras, controle de pragas e doenças, poda, colheita e pós-colheita, sanidade, higiene e rastreabilidade da produção. Os produtores também incluíram no processo de produção as regras da legislação ambiental e de responsabilidade social. O esforço de capacitação se expressou em centenas de cursos e milhares de cafeicultores capacitados.
Paulo Franzini, secretário da Câmara Setorial do Café e coordenador da área de café do Departamento de Economia Rural do Paraná, ratifica o esforço conjunto pela qualidade do café, iniciado pela Câmara Setorial do Café em parceria com o Iapar, Emater, Faep entre outras. “A obtenção da certificação é o coroamento desse esforço concentrado e mostrou que a região tem potencial de qualidade, sustentabilidade, diversificação e associativismo”.
O lançamento do Projeto de Cafés Especiais, em 2006, mostrou a nova realidade do mercado desses grãos e norteou para os agricultores um novo modelo de produção. A cultura do grão no Norte Pioneiro passou a produzir café especial, de qualidade superior. O trabalho propriamente dito para conquistar a IGP teve início em 2008, por iniciativa dos cafeicultores do Norte Pioneiro, que sentiram a necessidade de sobreviver à crise que persistiu por cerca de 10 anos sem valorização do produto no mercado e se uniram para mudar os paradigmas de produção e de comercialização, com foco no consumidor e no mercado. À frente do processo, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Para embasar as avaliações do café da região já produzido, mais uma vez contou-se com o apoio da pesquisa. Especialistas do Iapar fizeram testes para avaliar as características regionais expressas no café, bem como análise bioquímica e sensorial. Chegou-se à conclusão de que a região é propícia à cafeicultura, possuindo condições climáticas ideais para a produção de cafés finos, com temperaturas médias anuais entre 19 e 22° C, resultado da combinação da altitude (de 500 a 900 m) e latitude (23 e 24° S). Os estudos mostraram que essas condições permitem a fixação mais intensa dos atributos e conferem excelente caracterização da bebida, como doçura intensa, suavidade, corpo equilibrado, acidez cítrica agradável e marcante sabor residual, com sabor e aroma oscilando entre chocolate, caramelo, floral cítrico e frutado. Aliado a isso há ainda as qualidades da “terra roxa” e a precipitação pluviométrica, que permite o cultivo sem irrigação ou com irrigação complementar.
Depoimentos dos participantes - “A conquista mostra o sucesso de um trabalho coletivo. Ao ser reconhecido oficialmente, o café passa a servir de referência, como acontece com o presunto de Parma, com os vinhos Bordeaux e Borgonha”, afirma Allan Marcelo de Campos Costa, superintendente do Sebrae no Paraná.
O coordenador de projeto regional da Emater no Norte Pioneiro do Paraná, Otávio Oliveira da Luz, diz que o esforço de capacitação dos produtores já rendeu bons frutos. “Metade deles já produzem café de excelente qualidade. Hoje há 16 núcleos de trabalho fazendo acompanhamento em campo e estamos iniciando trabalho de conscientização das famílias dos cafeicultores, especialmente mulheres e filhos envolvidos diretamente na produção. O objetivo é fazer com que eles também participem da tomada de decisões”.
Para o consultor do Sebrae no estado e gestor do Projeto de Cafés Especiais, Odemir Capello, “a certificação é uma forma coletiva de promoção e comercialização. É uma das mais importantes ações para transformação do Norte Pioneiro do Paraná  em uma região reconhecida como produtora de cafés de qualidade. A concessão do selo vai ampliar a competitividade dos cafés especiais e abrir novos mercados”.
De acordo com Luiz Roberto Saldanha, presidente da Associação de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (ACENPP), entidade detentora da certificação e que representa os cafeicultores do território, a indicação geográfica é uma ferramenta de comunicação com o mercado, reconhecida em todo o mundo. Ele explica que os consumidores, cada vez mais exigentes, querem saber a origem do produto, como foi produzido e a qualidade do grão. “A IGP, combinada à estruturação associativa da comercialização e do rigoroso controle de qualidade implantado no Projeto de Cafés Especiais, responde às três perguntas e certifica a procedência, o processo de produção e os atributos únicos da bebida”, diz.
A analista técnica de Acesso à Inovação e Tecnologia do Sebrae Nacional, Hulda Oliveira Giesbrecht, avalia que a IGP é uma chancela que confirma características exclusivas ao café do Norte Pioneiro do Paraná. “A IGP comprova que o produto daquela região é único. Além disso, os produtores que estão naquela área assumem o compromisso de continuar produzindo da mesma forma, em relação ao manejo e ao beneficiamento, para manter a qualidade”, analisa Hulda. Ela acrescenta que a certificação promove uma melhoria contínua. “Além de agregar valor ao produto, contribui na redução de custos e no aumento de produtividade, interferindo em toda a cadeia produtiva”, enfatiza.
Café do Norte Pioneiro do PR – O parque cafeeiro paranaense, que chegou a representar aproximadamente 40% da área cultivada e 50% da produção nacional de café, sofreu sério revés com a severa geada de 1975, o que acabou impulsionando muitos produtores tradicionais a migrarem para outras regiões produtoras do Brasil, principalmente Minas Gerais, onde o risco de geada é menor, ou a se dedicarem a outras explorações agropecuárias em solo paranaense, que apresentassem menores riscos de perdas com geadas. Hoje a região do Norte Pioneiro é responsável pela produção de cerca de 50% do café paranaense. A safra estadual oscila entre 1,6 e 2 milhões de sacas por ano. A meta dos produtores é manter a organização e buscar mais tecnologias para que a região possa explorar melhor suas potencialidades, aliando qualidade e produtividade.
Consórcio Pesquisa Café - O Brasil desenvolve o maior programa mundial de pesquisas em café, o Programa Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café. Essa rede integrada de pesquisa é possível graças ao Consórcio Pesquisa Café, que reúne dezenas de instituições brasileiras de pesquisa, ensino e extensão estrategicamente localizadas nas principais regiões produtoras do País. Seu modelo de gestão incentiva a interação entre as instituições e a união de recursos humanos, físicos, financeiros e materiais, que permitem elaborar projetos inovadores. A evolução da cafeicultura brasileira, ao longo dos últimos anos, comprova a importância dos trabalhos de pesquisa.
Esse arranjo institucional atua em todos os segmentos da cadeia produtiva, tendo por base a sustentabilidade, a qualidade, a produtividade, a preservação ambiental, o desenvolvimento e o incentivo a pequenos e grandes produtores. Hoje reúne mais de 700 pesquisadores de cerca de 40 instituições, envolvidos em 74 projetos dos quais fazem parte 355 Planos de ação.
Foi criado por iniciativa de dez instituições ligadas à pesquisa e ao café: Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola - EBDA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - Epamig, Instituto Agronômico - IAC, Instituto Agronômico do Paraná - Iapar, Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural - Incaper, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Mapa, Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro - Pesagro-Rio, Universidade Federal de Lavras - Ufla e Universidade Federal de Viçosa - UFV.
As pesquisas do Consórcio Pesquisa Café contam com o apoio e o financiamento do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira – Funcafé, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa.

Gerência de Transferência de Tecnologia da Embrapa Café
Texto: Flávia Bessa – MTb 4469/DF e Giovana Chiquim (Sebrae)
Fone: (61) 3448-1927
Site: www.embrapa.br/cafe
www.consorciopesquisacafe.com.br

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