domingo, 9 de dezembro de 2012

Construção de assentamentos israelenses inviabiliza a paz no conflito entre Israel e Palestina


A Lei do Talião anda bem na Terra Santa. Alguns dias após o reconhecimento simbólico da Palestina como Estado não membro da ONU, em 29 de novembro, Binyamin Netanyahu não demorou para exercer represálias. O primeiro-ministro israelense agora defende um novo projeto de construção de assentamentos em uma zona estratégica dos territórios ocupados palestinos. Essa intempestiva iniciativa poderia tornar ainda mais “nula” a perspectiva da criação de um Estado da Palestina ao lado de Israel.

Philippe Dagen
Palestinos trazem de volta seus pertences, depois de terem conseguido uma ordem judicial em Jerusalém que impediu o exército de Israel de demolir suas casas, no bairro árabe de Atur
Além disso, o ministro das Finanças  israelense, Yuval Steinitz, decidiu confiscar a receita dos impostos de importações palestinas que Israel recebe e depois repassa para a Autoridade Palestina. Embora esta precise desesperadamente desses fundos para pagar seus funcionários públicos, de repente o pagamento de uma antiga dívida foi considerado urgente.

Antecipando uma ira internacional que de fato veio, inclusive em Washington, o maior aliado de Israel, Netanyahu se justificou invocando os “interesses estratégicos” do país. Como se estes não dependessem justamente da criação de um Estado palestino que permitiria que Israel tivesse, enfim, fronteiras seguras e reconhecidas. A guerra de atrição financeira é igualmente espantosa: quem não vê que na verdade a falência da Autoridade Palestina transferiria a responsabilidade de mais de 4 milhões de pessoas para a potência ocupadora, como estipulam as leis da guerra?
Puramente simbólica, será que a resolução da ONU que reafirma tanto o direito à autodeterminação dos palestinos quanto a “urgente necessidade” de negociar mereceria uma contraofensiva tão virulenta assim?

O pragmático ex-premiê israelense Ehud Olmert duvida disso. De um ponto de vista tático, o governo israelense teria ganhado se a tivesse tratado com indiferença. De um ponto de vista político, em compensação, Netanyahu provavelmente se vê obrigado a dar garantias aos mais intransigentes de seus aliados: a dois meses das legislativas do dia 22 de janeiro, a extrema direita israelense, tradicionalmente dividida, está se preparando  para o combate sob o comando ambicioso de um de seus antigos braços direitos, Naftali Bennett.

É verdade que a febre eleitoral voltará a cair após a eleição. É verdade que os israelenses viraram especialistas no anúncio tático de projetos de colonização cuja realização pode se adaptar às necessidades. Mas esse episódio enfatiza mais uma vez o absurdo que consiste em acreditar que essas duas partes são capazes de conversar serenamente e fazer os acordos necessários para a paz. Os palestinos não ficaram atrás, a julgar pelo discurso pronunciado na quinta-feira (29), na ONU, pelo seu líder, Mahmoud Abbas: sua dispensável aspereza não foi um bom presságio para aquilo que poderia ser uma negociação.

Vinte anos de fracassos, de Oslo (1993) até Annapolis (2007), passando pelo “plano de paz” (2003), mostraram que o caminho das famosas “negociações diretas”, propostas por Netanyahu, era inútil. Ali a paz deve ser forçada, imposta. Ou não virá. 
Tradutor: Lana Lim

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