Banners no estádio Camp Nou, do FC Barcelona, há muito tempo declaravam: “A Catalunha não é a Espanha”.
Roger Cohen
Roger Cohen
Torcedores do Barcelona fazem um grande mosaico com as cores da bandeira da Catalunha
Essa afirmação ganhou impulso no fim semana passado, após partidos pró-independência terem vencido as eleições catalãs e fortalecido o desejo dos habitantes da região pela realização de um referendo sobre a secessão, desafiando a Constituição espanhola e Mariano Rajoy, o primeiro-ministro de centro-direita que vem enfrentando vários problemas.
Na verdade, a crise econômica da Espanha está tão grave que Rajoy declarou em junho passado que “a Espanha não é Uganda”, o que levou o ministro das Relações Exteriores do país africano a responder, no dia seguinte, que “Uganda não quer ser a Espanha!”.
(Elena Salgado, ex-ministra da Fazenda da Espanha, observou em 2010 que “a Espanha não é a Grécia”. Posteriormente nesse mesmo ano, claramente irritado, o então ministro da Fazenda grego declarou que, “a Grécia não é a Irlanda”. O ex-Ministro da Fazenda irlandês, Brian Lenihan, respondeu que “a Irlanda não está em território grego”. Enquanto isso, o secretário-geral da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) declarava: “Nem Espanha nem Portugal são a Irlanda”).
A crise do euro é também uma crise da geografia do euro. A Escócia marcou para 2014 um referendo sobre sua independência, 307 anos após a união política que criou o Reino Unido. O Reino Unido murmura sobre sua saída da União Europeia.
As pessoas estão entediadas e irritadas. Elas não conseguem obter novos empregos. Elas querem novas fronteiras, especialmente devido ao fato que a probabilidade real de ter que defendê-las em uma guerra se tornou infinitamente remota.
Do outro lado do Atlântico, há tendências semelhantes. No Texas – onde Mitt Romney venceu por quase 1,3 milhão de votos – as conversas relacionadas à secessão aumentaram. Larry Scott Kilgore, candidato republicano, anunciou que vai se candidatar ao cargo de governador em 2014 e mudar legalmente seu nome para Larry Secede Kilgore.
Como Tom Wolfe escreveu em seu novo romance, “Estamos de volta ao sangue! A religião está morrendo... mas todo mundo ainda tem que acreditar em algo. Seria intolerável – você não conseguiria suportar isso... finalmente, você diria a si mesmo: ‘Por que continuar fingindo? Eu não sou nada, apenas um átomo aleatório dentro de um superacelerador de partículas conhecido como universo’”.
À medida que as dificuldades econômicas aumentam, também crescem os sentimentos tribais. A angústia do átomo aleatório faz com que as pessoas apertem o passo em direção a novas bandeiras, num momento em que 800 milhões de ciberusuários sem fronteiras se unem para assistir ao vídeo “Gangnam Style” no YouTube.
É claro que a imigração, o desejo e o amor se misturaram no sangue das tribos de escoceses, texanos e catalães (chame-os de "Escóciatexacatalúnia" por sua coceira separatista compartilhada.) “Eu sou um vira-lata”, Barack Obama disse um dia. Dessa forma, cada vez mais vivemos em um mundo conectado, ligado por remessas de dinheiro, no qual muitos vivem com, digamos, um pé em Birmingham e outro em Lahore.
Glasgow tem uma população muçulmana significativa. Mais de um terço da população do Texas é formado por hispânicos. A Catalunha tem muitos imigrantes que falam apenas espanhol. A vontade de erguer novas fronteiras é, em essência, um anacronismo.
Cerca de 1,5 milhão de pessoas foram às ruas de Barcelona para pedir a independência da Catalunha, região que pertence à Espanha
Ou será que não? A crise do euro é percebida como uma crise do excesso de soberania conjunta. Talvez uma reação seja racional (mesmo que catalães e escoceses digam que gostariam de fazer parte da União Europeia desde que possam administrar seus assuntos internos): o ressentimento econômico se traduz no ressurgimento da identificação com a cultura nacional.
No Texas, onde os termos de entrada na União dos Estados Unidos, em 1845, ainda são debatidos, é um pouco diferente. Os principais ressentimentos são sociais, e não econômicos. Viver com todos os intelectuais, liberais pró-aborto,donos de automóveis Subaru que elegeram Obama é demais para alguns texanos.
Em 1996, comecei a escrever um texto intitulado de “Forças globais atacam a política” com as seguintes palavras: “Em grande parte do mundo de hoje, a política fica atrás da economia, como um cavalo e um carrinho de bebê azarados que tentam alcançar um carro esportivo. Enquanto os políticos experimentam os acontecimentos das eleições nacionais – oferecendo programas e slogans quiméricos – os mercados mundiais, a internet e o ritmo furioso do comércio envolvem as pessoas em um jogo global no qual os representantes eleitos figuram como pouco mais do que coadjuvantes”.
Dezesseis anos se passaram desde então. A política nacional, como o presidente da França, François Hollande, é o último a descobrir, muitas vezes não vai além de fazer ajustes marginais no exíguo espaço político deixado pelos mercados e por outras forças globais. E isso está acontecendo na França!
Os desejos secessionistas ressoam em tempos difíceis. Mas eles enfrentam os ventos contrários da lógica mundial, dos negócios e da política. Eu suspeito que toda a "Escóciatexacatalúnia" – e menos Kosovo do que Quebec – sucumbirá, por fim, ao bom senso de união.
Tradutor: Cláudia Gonçalves
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