domingo, 9 de dezembro de 2012

EDUCAÇÃO E DEMOCRACIA NA GUATEMALA


A violência política na America Latina legou às atuais e futuras gerações sociedades empobrecidas e desiguais em oportunidades de acesso à educação, emprego, saúde, meio ambiente e cidadania. Os seus governos padecem os dilemas sociais e econômicos deste passado recente em que o anticomunismo e a repressão política foram os motores para impedir a distribuição da renda, da terra, da cultura e do poder de Estado.

Paulo Henrique Martinez
Na década de 1990 a falência das ditaduras e a crise econômica mundial convergiram para tornar países e regiões inteiras na América Latina em áreas de pobreza, fome, doenças e violências de todo tipo. Na Guatemala a crise social foi o resultado mais evidente da opressão, da guerra civil e da exploração do trabalho e da natureza em ritmo e intensidade coloniais. O país foi dilacerado pela brutal repressão e os conflitos armados.
Na Guatemala de hoje, regida por normas constitucionais, restam por fazer a reconstrução da sociedade civil e da infraestrutura econômica. A educação é um vetor para esta necessária e inescapável transformação. A mercantilização do ensino ergue-se contra a educação libertadora e cidadã. A burocracia e o conservadorismo nas políticas públicas de educação sufocam o alcance e as suas possibilidades pedagógicas e políticas.
Em Quetzaltenango, no interior do país, a criação e o êxito do Colégio Miguel Angel Astúrias, uma organização não governamental surgida em 1994, indicam o lugar e o papel que a educação pode desempenhar no enfrentamento de problemas como analfabetismo, discriminação, sexismo, pobreza e violência. O seu idealizador e diretor, Jorge Chojolán, buscou no educador brasileiro Paulo Freire as bases para sua atuação.
O Colégio atende estudantes indígenas e não indígenas, as crianças de famílias carentes e de classe média. O empenho é por dar-lhes também referências sobre direitos humanos, igualdade, democracia, emprego e paz. A tarefa não é pequena e a escola sobrevive com dificuldades financeiras e operacionais, amenizadas pelo auxilio de entidades internacionais e a solidariedade que brota no solo e na comunidade escolar.
As diferenças históricas, territoriais, políticas, demográficas e sociais entre a Guatemala e o Brasil são indicativas das agruras do passado colonial e ditatorial e das tarefas para o desenvolvimento social, equitativo e sobreano, comuns aos dois países. As ideias de Paulo Freire sugerem as possibilidades de cooperação e da solidariedade internacional a partir da cultura e do pensamento social transformador latino-americano.
Paulo Henrique Martinez, professor no Departamento de História da Universidade Estadual Paulista (UNESP).

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