domingo, 16 de dezembro de 2012

Generosidade é analisada sob a ótica da criança


Estudo realizado no Instituto de Psicologia (IP) da USP foi pautado pelo tema generosidade e investigou juízos morais das crianças relativos aos seguintes temas: a generosidade em contraposição à justiça (para consigo mesmo) e a generosidade relacionada à retribuição e, em especial, à gratidão.

Mariana Grazini
Estudo envolveu 60 alunos de 6, 9 e 12 anos, de uma escola particular do RJ
pesquisa Desenvolvimento moral: a generosidade relacionada à justiça e à gratidão sob a ótica das crianças foi realizada pela psicóloga Liana Gama do Vale, sob orientação do professor Yves de La Taille. Segundo apesquisadora, diante de um conflito entre a generosidade e a justiça (para consigo mesmo), os juízos das crianças de 6 anos remetem mais à generosidade. Já os critérios utilizados pelos mais velhos estão atrelados à noção de justiça.
“Tal resultado vai ao encontro de outras pesquisas sobre o tema cujos dados mostram que a generosidade é virtude presente no início da gênese da moralidade e melhor integrada à consciência moral do que a justiça nessa mesma fase do desenvolvimento”, explica Liana. Foi verificado também que, para as crianças de todas as idades pesquisadas, a retribuição a uma ação generosa não está atrelada a uma exigibilidade exterior. Embora desprovida de obrigatoriedade, a retribuição é indicada e admirada, nas suas variadas formas, pelos entrevistados. Essa indicação e admiração do ato de retribuir, todavia, não são fatores determinantes para a manifestação de generosidade. A pesquisadora relata, ainda, que “nas formas de retribuição indicadas pelas crianças mais velhas, comparece o reconhecimento de uma dívida para com outrem, que nos remete a uma forma mais evoluída da virtude gratidão”. O estudo envolveu 60 alunos, com 6, 9 e 12 anos de idade, de uma escola particular do Rio de Janeiro. Todos foram entrevistados individualmente com base em diferentes histórias que versam sobre os temas da pesquisa.
Hipóteses e constatações
Antes de realizar as entrevistas com os estudantes, foram levantadas algumas hipóteses sobre a pesquisa. No que diz respeito à contraposição entre a generosidade e a justiça (para consigo mesmo), por exemplo, a autora diz: “fizemos a hipótese de que a criança pequena, perante os elementos morais conflitantes, tenderia a decidir pela generosidade em detrimento da justiça e, no decorrer do desenvolvimento, a justiça deveria prevalecer, paulatinamente, sobre a ação generosa, sendo privilegiada pelos participantes mais velhos da pesquisa”.
Liana verificou que os entrevistados mais velhos apresentaram escolhas distintas acerca de um mesmo conflito moral, porém a estrutura e a coerência dos critérios que os levam às suas decisões são as mesmas, vinculadas, em sua maioria, a uma noção geral de justiça, conforme sua hipótese inicial. O mesmo pôde ser observado nos argumentos das crianças mais novas relativos à generosidade.
“As respostas apresentadas pelos participantes da pesquisa nos surpreenderam”, conta Liana. “Se nos restringíssemos a elas, certamente descartaríamos nossas reflexões especulativas iniciais. Foram as justificativas, e não as respostas, dos entrevistados que nos levaram a admitir nossa hipótese”. Ela ressalta a importância de se estar atento aos argumentos dos entrevistados, e não apenas às suas decisões finais, empesquisas como essa sobre o juízo moral.
Propostas pedagógicas contemporâneas
Liana acredita que sua tese de doutorado poderá oferecer ao leitor um mapeamento das investigações que, de alguma forma, abordam a generosidade no que tange suas relações com o desenvolvimento moral. Esse mapeamento evidencia a pluralidade do universo moral infantil, que não se restringe a direitos e deveres, e a importância da generosidade na construção da justiça pela criança pequena.
“Se uma educação moral é possível, parece-nos pertinente, portanto, incluir a generosidade nas propostas pedagógicas contemporâneas. Eis aqui, nesse trabalho, um possível ponto de partida para propostas de educação que contemplem a generosidade”, encerra a psicóloga e autora do trabalho.

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