Apenas durante o Natal e o Réveillon de 2012 a Polícia Rodoviária Federal (PRF) aplicou 1716 multas em razão do uso de bebidas etílicas – em 2011 foram 740 delas. Na ocasião o número de prisão passou de 322 para 723, um aumento de 125%. Já os testes de bafômetro passaram de 70 mil, ante pouco mais de 25 mil do ano anterior. Apesar do aumento da fiscalização o número de mortes registrado nas rodovias federais cresceu. Entre 21 de dezembro e 2 de janeiro de 2012 a Polícia Rodoviária Federal registrou 392 mortes, enquanto que em 2011, no mesmo período, foram 353.
Com a proximidade do Carnaval o assunto merece atenção redobrada. É comum o aumento do consumo de álcool durante as festas de fevereiro e isso obriga uma reflexão mais aprofundada sobre o trânsito. O problema ganha proporções maiores se analisarmos um espaço de tempo mais extenso: de acordo com o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), entre 2002 e 2010, o número total de óbitos por acidentes com transporte terrestre cresceu 24%, passando de 32.753 para 40.610 mortes por ano. Com base nesses números, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o Brasil como 5º país do mundo em mortes no trânsito.
O problema é que, mesmo com dados tão alarmantes, o assunto não ganha a repercussão que merece. A boa notícia é que medidas simples podem minimizar a questão. O primeiro passo é investir mais na conscientização dos motoristas. No passado, ações publicitárias e aplicação de multas favoreceram o uso do cinto de segurança. Foi um trabalho árduo, cujos resultados são extremamente positivos – a utilização do cinto com certeza reduziu o número de mortes no trânsito. Agora, o foco das campanhas deve é a redução do consumo de álcool. O endurecimento da chamada Lei Seca é uma ação positiva, mas somente isso não basta. Educação é fundamental.
Demonstrar aos motoristas que é importante investir também em itens de segurança para os veículos é essencial. Entretanto, mesmo com o aumento das vendas de veículos nacionais, que de janeiro a novembro de 2012 foi 10,2% maior que 2011, conforme dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), a preocupação com artigos imprescindíveis não se expandiu. Ainda hoje são opcionais itens como freios ABS e air bags e, devido ao custo excessivo, acabam limitados a versões mais sofisticadas de carros, inacessíveis à grande maioria da população. A realização de manutenções preventivas, fundamentais para garantir o funcionamento adequado do veículo e evitar problemas, também ainda é considerada item “de luxo”.
Vale lembrar que a “culpa” não é só do motorista, há ainda desafios estruturais, de responsabilidade dos governos. Nesse ponto incluem-se a necessidade de melhoria nas condições de ruas e estradas e até mesmo a disponibilização de sistemas de transporte público de maior qualidade, de modo a desestimular o uso de veículos individuais para os deslocamentos cotidianos.
Se as ações do governo são demoradas, a mudança de hábitos dos motoristas pode ser mais rápida. Isso porque depende exclusivamente de cada pessoa. Não beber quando for dirigir é o hábito mais importante a ser adotado. Respeitando a lei, o motorista não só favorece a sua própria segurança, mas também a de todos que utilizam as estradas. Portanto, por mais banal que seja o aviso dado ao final de cada propaganda utilizada pelas mais variadas marcas de cerveja, no momento, ele se torna mais atual do que nunca: seja consciente, se beber, não dirija!
Amanda Kardosh é gerente de Sustentabilidade da Ecofrotas.