Ao ser empossado pela segunda vez em 20 de janeiro último, Barack Obama não indicou a possibilidade de alteração significativa no norte do governo, a não ser diante de extrema pressão popular. No intervalo entre a eleição e a posse, houve o assassínio de vinte estudantes e seis educadores por um desequilibrado em uma escola fundamental no interior de Connecticut.
Virgílio Arraes
Virgílio Arraes
De fato, a manutenção das atividades bélicas dos Estados Unidos na área médio-oriental contribuiu para a sustentação do extenso setor armígero. Em junho de 2010, Obama trocou o comando do Afeganistão, ao substituir o general Stanley McChrystal, desgastado por causa de uma controversa reportagem sobre o conflito publicada na Rolling Stone.
Naquele momento, a aliança norte-atlântica estava em xeque: holandeses, alemães, franceses e mesmo canadenses questionavam a necessidade de continuar o conflito diante da má vontade dos seus respectivos eleitorados ante a ausência de êxito - por exemplo, a malograda tentativa de retomada de Candaar aos talibãs. Em face do visível desinteresse europeu, McChrystal defendia com ânimo o envio de mais efetivos, a despeito dos custos.
A corrosão de comando foi tão significativa que a Casa Branca optou por preterir o lugar-tenente de McChrystal: David Rodriguez. Embora não tenha sido admitida oficialmente, a razão para a exoneração do oficial-general foi insubordinação.
Falto de experiência militar, Obama não quis aparentar pusilanimidade. Ademais, outras questões naquela época não imergiam como a política nuclear do Irã, o impasse entre israelenses e palestinos e a insatisfação da Arábia Saudita com a instabilidade da região.
O sucessor de McChrystal seria David Petraeus, mais tarde diretor da CIA, cujo prestígio advinha da liderança no Iraque por um ano e meio do comando da ampliação temporária de tropas no início de 2007. A ação terminou por proporcionar uma estabilização imediata, ainda que não fosse duradoura, nos arredores da capital iraquiana e da fronteira com Síria, Jordânia e Arábia Saudita.
Chega-se ao primeiro semestre de 2013 com a guerra do Afeganistão sem possibilidade de encerrar-se, devido principalmente à insistência de Washington. Londres mesma, governada pelos conservadores, anunciou sua retirada até 2015. Com quase quinhentas bases em solo afegão, a logística da atual coligação norte-atlântica não é barata.
Destarte, há uma situação paradoxal: internamente, o governo tenta dificultar o comércio de armas, porém mantém-no no plano externo, ao não desistir das duas confrontações em andamento.
Virgílio Arraes é doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.
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