sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Grãos de humildade



Por Josiane Cotrim Macieira
postado há 1 dia atrás

Aos 19 anos de idade, recém formada em Tecnologia de Alimentos e Nutrição, uma jovem indiana começa a procurar emprego. Um anúncio da Associação de Cafés da India em busca de provador de café, chama sua atenção e ela vai lá com seu CV embaixo do braço. Foi recebida pelo chefe de recursos humanos que disse que ela não podia candidatar-se à vaga porque era mulher. Ela então argumentou que eles deveriam explicitar no anúncio que mulher não podia participar da seleção. Ele explicou que isso obviamente não era possível. Foram tantos os argumentos da jovem que ela acabou tendo a vaga tornando-se pouco depois a diretora de qualidade da Associação de Cafés da India, cargo que ocupou por mais de 20 anos.

Sunalini Menon, primeira mulher a se tornar profissional de prova de café na Ásia, é uma das maiores autoridades em qualidade desse produto no mundo. Respeitada na comunidade internacional de café, ela guarda a simplicidade dos sábios e costuma dizer que o café é o “grão da humildade”: ‘Aprendemos todo dia algo novo e nos deparamos sempre com novos aromas’, diz ela do alto de sua sabedoria.

Sunalini é uma daquelas pessoas que iluminam o lugar onde chegam. Trajando sempre as roupas tradicionais de sua região ela é pura gentileza. Exigente com a qualidade, ela é dura em suas análises. Sem perder a ternura. O sorriso doce e o corpo miúdo escondem uma mulher forte. Se o café não estiver de acordo com seu padrão de qualidade ela não diz que o café ruim. Simplesmente toma chá. Se os cafés do lugar que visita não são bons, ela ressalta a bondade dos produtores do local, buscando sempre o que há de positivo em cada situação. Porém fica visivelmente contrariada se ouvir alguém associar café robusta a cafés de baixa qualidade.
 
Desde 1997 ela dirige a própria empresa, o respeitável Coffeelab localizado em Bengalore, India. No Coffeelab profissionais avaliam com rigor a qualidade de cafés verdes ou torrados. Arábicas e Robustas. O laboratório oferece inovadores programas de treinamento para produtores, educando-os a elevar a qualidade dos seus produtos: - ”Mostramos ao produtor como ele pode provar o próprio café e assim entender o seu valor” afirma Sunalini.

Sunalini e Josiane em evento da SCAA em Portland, EUA

Ela é convidada para participar de conferências em todo o mundo e para conduzir workshops de provas de café, elaborar programas educativos para empreendedores de café e profissionais do setor. Durante seus mais de 30 anos trabalhando com café, Sunalini tem sido reconhecida por suas conquistas e por sua liderança, não só na India, como em toda comunidade internacional do café. Ela coleciona uma enorme quantidade de prêmios. Em 1995 ela recebeu o Lifetime Achievement Award da Aliança Internacional das Mulheres do Café – IWCA e desde então faz parte desta organização global que defende o fortalecimento das mulheres na indústria do café em todo o mundo.

Sua relação com o Brasil é muito especial. No ano passado ela participou da Conferência de Coffea canephora em Vitória, Espírito Santo. Desde então ela é membro honorário da Aliança Internacional das Mulheres do Café– IWCA Brasil. Um privilégio para todas nós que podemos contar com sua expertise para aprendermos mais sobre qualidade de café. Uma das atividades da IWCA é oferecer consultoria gratuita para mulheres que trabalham com café no mundo inteiro.


Sunalini e Josiane, tomando café biodinâmico da Cooperbio, Chapada Dimantina 

Sunalini costuma dizer que nós brasileiros somos muito parecidos com seus compatriotas. Rimos das mesmas coisas, diz ela, e nossas cabeças funcionam da mesma forma “ligeiramente caótica”. Foi rindo dessa constatação que na conferência da SCAA em Houston em 2011 India e Brasil firmaram o compromisso de criarem seus respectivos capítulos da Aliança Internacional das Mulheres do Café ao mesmo tempo. O compromisso foi honrado e na III Convenção da IWCA na Cidade da Guatemala na semana passada*, as bandeiras da India e do Brasil estavam hasteadas lado a lado no auditório da Anacafé – Associação de Cafés da Guatemala, onde o evento se realizou. Imagem simbólica de uma parceria que pretende gerar muitos “frutos da humildade”.

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