sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Israel censura imprensa e esconde caso de prisioneiro que cometeu suicídio


Sua morte foi um mistério. Sua identidade também. Sabia-se que ele esteve em regime de isolamento total na prisão de Ayalon, na mesma cela de segurança máxima que foi projetada para Yigal Amir, o homem que assassinou o primeiro-ministro Isaac Rabin em 1995. Suicidou-se em 15 de dezembro de 2010, enforcando-se.

David Alandete
O premiê de Israel, Benjamin Netanyah, cumprimenta apoiadores em Tel Aviv (Israel) durante eleições
O premiê de Israel, Benjamin Netanyah, cumprimenta apoiadores em Tel Aviv (Israel) durante eleições
A mídia israelense o batizou de Prisioneiro X. Quando se começou a publicar notícias sobre ele, o Shin Bet - a agência de inteligência interna de Israel - recorreu a um juiz, que impôs o segredo de Justiça. Ao sigilo se acrescentou a censura. Até que uma reportagem de investigação divulgada por um veículo australiano descobriu na terça-feira a identidade do réu, que, divulgada pela internet, aniquilou as tentativas do governo israelense de manter o assunto em segredo.
Ben Zygier tinha 34 anos quando morreu. Era cidadão australiano e membro de uma importante família judia de Melbourne. Em 2000 emigrou para Israel, onde se nacionalizou e assumiu o nome de Ben Alon. Casou-se com uma mulher israelense e teve dois filhos. Moravam perto de Tel Aviv. E, segundo uma pesquisa da televisão pública da Austrália, ABC, trabalhava para o Mossad, a agência de espionagem israelense. Morreu em uma cela que tinha vigilância para evitar suicídios. Em 22 de dezembro de 2010 foi enterrado em Melbourne.
O governo da Austrália ordenou agora uma investigação sobre o caso. "Podemos confirmar que [o ministro das Relações Exteriores australiano, Bob Carr] iniciou uma revisão interna sobre a gestão do consulado neste caso", afirma um porta-voz da Embaixada da Austrália em Israel. Na realidade, segundo essas mesmas fontes, o consulado australiano em Tel Aviv não soube da prisão de Zygier nem de sua morte até que sua família pediu ajuda para repatriar seus restos mortais.
A reportagem elaborada pela cadeia australiana, divulgada na terça-feira (12), foi difundida pelas redes sociais com extrema rapidez. Os meios de comunicação israelenses imediatamente a repercutiram. O importante jornal "Haaretz" publicou uma notícia em seu site. Em questão de minutos recebeu uma ligação do departamento de censura do exército. "Citamos a notícia australiana, e quando percebemos que o sigilo de justiça se aplicava também a citações de meios estrangeiros retiramos a notícia do site", explica Aluf Benn, diretor do jornal.
Então o Prisioneiro X e sua verdadeira identidade já era um dos assuntos mais comentados nas redes sociais em Israel. Três deputados levaram o assunto a uma sessão do Parlamento. "Pode confirmar que um cidadão australiano com identidade falsa se suicidou na prisão, sem que isso fosse informado?", perguntou Ahmed Tibi, do partido árabe Ta'al, ao ministro da Justiça, Yaakov Ne'ema.
O governo de Israel mantinha a censura sobre o caso do Prisioneiro X, mas os legisladores perguntavam ao Executivo sobre suas circunstâncias. "Na terça-feira recebemos um telefonema do departamento de censura do exército, que nos notificou que podíamos informar sobre as perguntas dos legisladores, sem acrescentar a informação publicada pela rede ABC. Criou-se uma situação absurda, na qual qualquer pessoa podia ler na Internet sobre o assunto, através dos sites estrangeiros, mas nós não podíamos escrever a respeito", explica David Brinn, um dos editores do jornal "The Jerusalem Post".
Finalmente, a mídia israelense recebeu autorização para publicar a história, desde que só informasse sobre as perguntas dos legisladores e a reportagem da rede ABC. Na noite de quarta-feira, o governo israelense admitiu a existência do preso e sua morte.
"Não podemos dar nomes de parentes nem entrevistar seus conhecidos ou familiares. E essa norma continua de pé. Qualquer crônica que elaboremos deve passar pelo censor para ser revisada", acrescenta Brinn. "É necessário que o governo reconsidere essas normas neste caso, especialmente quando essas histórias são divulgadas no Twitter e outras redes sociais com tanta rapidez", acrescenta.
Além disso, nada se sabe das razões pelas quais Zygier foi detido e posto em tal regime de isolamento. Segundo Bill Van Esveld, analista em Jerusalém da organização Human Rights Watch em Israel, as alegações da reportagem australiana "incluem abusos graves, que podem incluir a negação de um julgamento justo, detenção em regime incomunicável e inclusive o 'desaparecimento' de um prisioneiro, o que poderia abrir caminho para a responsabilização criminal".
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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