terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Para onde vai o neocapitalismo


Para onde vai o neocapitalismo
 
J. B. Libanio
Teólogo jesuíta. Licenciado em Teologia em Frankfurt (Alemanha) e doutorado pela Universidade Gregoriana (Roma). É professor da FAJE (Faculdades Jesuítas), em Belo Horizonte
Adital

Durante décadas, sorrimos com o capitalismo norte-americano, que nos mostrava um país de distribuição de renda razoável, com ampla classe média. Os ricos pagavam impostos altos e a classe média se firmava. Por sua vez, os países socialistas, mesmo ao apresentar quadro mais igualitário, revelavam baixo nível de consumo e de bem-estar.
Apostamos no capitalismo na esperança de melhorar a sorte de todo o povo brasileiro com os olhos pregados nos Estados Unidos. Sofremos, é verdade, algumas consequências negativas. Crianças e adolescentes, nutridos com os burgers e refrigerados com Coca-Cola, se tornam a cada dia mais obesos. O consumismo campeia. Lixeira televisiva invade as casas. A violência entra pelos olhos e acaba aumentando a criminalidade. Eis o preço a pagar por ter sistema distributivo de renda pela força da livre iniciativa, pelo desejo crescente de consumo de todas as classes, pela oferta abundante de bens materiais.
De repente, os números desmentem o caminhar igualitário da classe média. A distribuição de renda inverte o processo. Em reportagem de janeiro deste ano, lemos o dado estarrecedor: 400 mil norte-americanos tornaram-se financeiramente mais ricos que metade do país. O salário do trabalhador médio, em comparação com a elite em 1978, variava de US$ 48 mil para cerca de US$ 393 mil anuais. Em 2010, o salário do trabalhador médio caiu para US$ 33 mil anuais, enquanto o da elite subiu para US$ 1,1 milhão anuais.
Eis o novo movimento do neocapitalismo. Sem o acicate do socialismo, ele perdeu todo o pudor e está a mostrar a sua verdadeira índole. O documento dos bispos da América Latina de Puebla repetiu várias vezes o refrão de que o sistema estava tornando os ricos cada vez mais ricos à custa de pobres cada vez mais pobres. Os desafetos da Igreja e aliados do sistema ridicularizavam tais afirmações como expressão do "neobobismo da Igreja".
Naqueles idos, o texto da Igreja parecia uma concessão à corrente da Teologia da Libertação. Hoje, infelizmente, se tornou uma realidade que analistas econômicos constatam na frieza dos números.
Os últimos governos no Brasil, de traços populares, têm-lhe minimizado alguns efeitos deletérios, mas a máquina continua intacta, com a virulência do capital econômico a imperar sem considerações éticas e sociais. Continua, como vimos nos dados dos EUA, a enriquecer os mais ricos e a fazer crescer a brecha entre classes, regiões e nações por obra da acumulação do capital.
As sucessivas crises não têm modificado a tendência. O capital econômico goza de tal poder que se permite jogadas arriscadas, seguro de que, se fracassar, o Estado lhe virá em auxílio com dinheiro público para suprir-lhe os rombos.
No momento, entraram outras vozes críticas por parte das preocupações ecológicas. Mesmo assim não se veem no horizonte senão pequenos remendos sob o nome de economia verde. O adjetivo ainda se mostra tão fraco que o substantivo economia se rege pelo sistema capitalista neoliberal.
[João Batista Libanio é autor de Arte de formar-se(edição revista e ampliada) por Edições Loyola eLinguagens sobre Jesus - Vol. 3. De Cristo carpinteiro a Cristo cósmico por Paulus Editora]

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