sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Político criticava violência política fomentada por aliados do governo pós-Ben Ali


Político criticava violência política fomentada por aliados do governo pós-Ben Ali

Não estão claras razões do assassinato do líder da esquerda tunisiano Chokri Belaid, mas ele vinha abertamente criticando os chamados Comitês de Proteção da Revolução, que muitos acusam de estar por trás da violência política no país. Acredita-se que esses grupos sejam protegidos do partido governista e têm o objetivo de perseguir os remanescentes do antigo regime de Ben Ali, que caiu em 2011.

Um líder da oposição que vem criticando o governo islâmico e a violência dos radicais muçulmanos levou um tiro e morreu, provocando uma onda de protestos de movimentos de esquerda que deixaram a capital Túnis tomada por bombas de gás lacrimogênio e tanques de guerra. 

Chokri Belaid, líder do Partido Nacionalista Democrático Unificado, foi alvejado do lado de fora de sua casa na capital, por um homem que dirigia uma moto, quarta-feira (6) pela manhã. Ele morreu logo depois, no hospital. 

O presidente, Moncef Marzouki, respondeu com o cancelamento de uma curta visita a França e uma ao Egito, marcada para esta quinta-feira (7). A Reuters reportou que ele dissolveria o governo e tentaria formar um governo de unidade nacional.

A morte provocou o protesto de milhares do lado de fora do ministério do interior. A polícia usou gás lacrimogênio para dispersar os manifestantes, que se reuniram no mesmo bulevar em que, há dois anos, reuniram-se nos protestos que resultaram na queda do ditador Zine al-Abidine Ben Ali.

A multidão cantava uma mesma canção: “O povo quer a queda do regime”. Enquanto a polícia pôs as pessoas a correrem para abrigos próximos dos prédios debaixo de gritos: “Não a Ennahda” e “Ghannouchi, assassino!”, referindo-se ao moderado partido islâmico e ao seu líder, que dominam o governo eleito. 

O centro da cidade de Túnis ficou deserto e cheio de pedras nas ruas, vigiada por veículos policiais fortemente armados e patrulhada por tanques da guarda nacional. Focos de policiamento perseguem os manifestantes pelas ruas elegantes do centro da cidade. 

Em outra região do país a polícia respondeu a um protesto com gás lacrimogênio, na região costeira da cidade de Sousse, e gabinetes [do governo] de Ennahda foram atacados em várias cidades, de acordo com a Rádio Mosaique e a Rádio Shems FM. 

O primeiro-ministro, Hamadi Jebali, que lidera o governo de Ennahda, o primeiro eleito, em 2011, após a primavera árabe, disse: “O assassinato de Belaid é o assassinato político da revolução tunisiana. Ao matá-lo, eles quiseram silenciar a sua voz”.

Crítico do governo
Belaid era um crítico aberto da coalizão governamental. Seu pequeno partido é cofundador da Frente Popular, uma aliança de esquerda que se prepara para disputar as eleições, neste ano. 

“Chokri Belaid foi morto hoje (quarta-feira) com quatro balas na cabeça e no peito... os médicos nos disseram que ele tinha morrido. Esse foi um dia triste para a Tunísia”, disse Ziad Lakhader, um líder da Frente Popular, à Reuters. 

O homem que atirou em Belaid fugiu numa moto, ajudado por um cúmplice, de acordo com o porta-voz do ministério do interior, Khaled Tarrouch, que chamou o assassinato de um “ato terrorista” e disse que o político tinha sido alvejado várias vezes. A polícia ainda não prendeu os suspeitos. 

As razões do assassinato não estão claras, mas ele ocorre num momento em que a Tunísia vive um embate entre tensões religiosas e sociais, desde a queda de Ben Ali, em janeiro de 2011, que desencadeou revoltas ao longo do mundo árabe. 

Belaid vinha desempenhando o papel de forte crítico ao governo de Ennahda, acusando-o de fechar os olhos para a violência perpetrada pelos extremistas contra os outros partidos. Sua família disse que Belaid recebia ameaças de morte frequentemente – mais recentemente, na terça (6) – mas recusou-se a limitar suas atividades políticas. 

Sua morte aconteceu num momento em que a violência e a intimidação contra grupos de oposição ganham notoriedade, e dias antes de um comitê oficial de investigação torne público o resultado de suas investigações do ataque a um encontro sindical em dezembro. 

O governo está em negociações com os partidos de oposição para renovar o gabinete e possivelmente ampliar a coalizão governamental, mas semanas de conversações não resultaram em nada, ainda, ao passo que os partidos parecem incapazes de entrarem num acordo quanto à redistribuição do poder. 

No fim de semana passado, radicais interromperam uma manifestação liderada por Belaid, no norte da Tunísia, um dos muitos encontros políticos que foram interrompidos por atividades de gangues. 

Belaid vinha abertamente criticando os assim chamados Comitês de Proteção da Revolução, que muitos acusam de estar por trás da violência política no país. Acredita-se que esses grupos sejam protegidos por Ennahda e dizem que sua missão é perseguir os remanescentes do antigo regime.

“Há grupos dentro do governo Ennahda incitando a violência”, disse Belaid à Tevê Nessma, uma noite antes de ser alvejado. “Rachid Ghannouchi considera as ligas a consciência da nação, então a defesa dos autores da violência está clara. Todos aqueles que se opõem a Ennahda se tornam alvo de violência”.

Tradução: Katarina Peixoto

Nenhum comentário:

Postar um comentário