quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Redescoberta do cafeeiro híbrido de Timor pode conduzir a mais ciência




Redescoberta do cafeeiro híbrido de Timor pode conduzir a mais ciência
19-02-2013 19:17
  
Jornalista: Lúcia Vinheiras Alves / Imagem e Edição: António Manuel
© TV Ciência
Investigadores do Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro confirmam haver grande probabilidade da planta do café hibrido de Timor agora descoberta ser a original. A redescoberta foi levada a cabo em Timor por investigadores da Universidade de Évora e da Universidade Nacional de Timor Lorosae.
Foi daqui em Timor-Leste, junto da aldeia da Mata Nova, em Ermera, que grãos de um único cafeeiro vieram revolucionar a ciência e a produção de café em todo o mundo.

Em 1927, agricultores verificaram a existência de uma planta de café resistente a doenças como a ferrugem, mas só em 1957, a planta começa a ser estudada no Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro (CIFC), do Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT).

Vítor Várzea é um dos investigadores que continua a estudar as potencialidades do cafeeiro timorense.

«Aqui foram testadas com a coleção de estirpes que nós temos de diferentes países cafeicultores e mostraram resistência a todas as estirpes conhecidas e a partir dai foram selecionadas e foram por sua vez hibridadas com variedades comerciais. O que permitiu criar variedades de cafeeiros resistentes a esta doença, que se encontram espalhados por todo o mundo neste momento», explica o investigador do CIFC.

O cafeeiro timorense, conhecido por híbrido de Timor, resultou do cruzamento na natureza de cafeeiro arábica com um cafeeiro robusta, apresentando a impressionante característica de ser resistente a diversas doenças.

Vítor Várzea explica que «para além da ferrugem, o híbrido de Timor tem resistência a outras doenças. A antracnose dos frutos que é uma doença muito importante que só existe no continente africano, mas se o agente patogénico for introduzido noutros continentes é bastante problemático, e tem resistência também a uma bactéria, a pseudomonas e a nematodes também».

Em Timor, a planta que deu luz à ciência e revolucionou a produção de café com a criação, pelo Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro, de novos híbridos de cafeeiros, perdeu-se no tempo.

Mas investigadores da Universidade de Évora foram à redescoberta do híbrido de Timor. Vítor Várzea explica que os investigadores da Universidade de Évora encontraram o hibrido de Timor «com base em informação de investigadores do IICT, de trabalhos publicados e através de alguns técnicos que existem ainda em Timor e que acompanharam os investigadores portugueses na altura quando fotografaram a planta».

«Portanto, eles sabiam mais-ou-menos o local onde se situava a planta e com o auxílio do GPS conseguiram redescobrir esta planta», afirma o investigador do IICT.

Mas será esta mesma a planta original? Será o verdadeiro cafeeiro híbrido de Timor? Para dar resposta a estas questões, os investigadores da Universidade de Évora enviaram para o Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro algumas amostras.

«Vimos a forma da folha, as características das sementes, as cores das folhas novas e a forma da planta. Tudo isso indica que se trata realmente da planta de híbrido de Timor», afirma Vítor Várzea.

Estas são plantas de híbrido de Timor existentes nas estufas do Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro, onde podemos verificar, em comparação com outras variedades, algumas características morfológicas diferenciadoras.

Comparando com outras variedades de cafeeiro, o híbrido de Timor dá poucos frutos, as folhas adultas são maiores que as do cafeeiro arábica, o intervalo entre nós é grande e as folhas jovens são verde bronze.

Após a análise do material, Victor Várzea explica que em relação aos «frutos do híbrido de Timor, a planta original produz muito pouco e é este o caso. Os frutos têm umas deformações genéticas tipo moca, são arredondados, as folhas são parecidas com o robusta. E isso são as principais características que nos dizem que estamos em presença do híbrido de Timor».

Se tudo parece indicar que a planta redescoberta é o original híbrido de Timor, a confirmação científica só é possível através de estudos de ADN. Um trabalho que de acordo com o investigador do IICT deve envolver o Governo de Timor-Leste.

«Nós não sabemos os estudos que se vão seguir porque depende do Governo de Timor e o que pretende fazer com esta planta. Mas podemos dizer é que esta planta permite realizar estudos que interessarão e terão muito impacto em instituições de investigação do cafeeiro em todo o mundo», afirma Vítor Várzea.

O híbrido de Timor pode mesmo ser considerado património vegetal mundial pelo alto potencial científico. Um potencial científico que vem dos genes resistentes às doenças. Muitos desses genes estão ainda longe de estarem totalmente explorados.

«O híbrido de Timor é importante porque é resistente a doenças e nós temos coleções de agentes patogénicos únicas que ninguém tem e isso permite estudar o híbrido de Timor», afirma o investigador. Mas Vitor Várzea acrescenta ainda: «o que nós gostaríamos e que pedimos ao Governo de Timor é que conserve esta planta que está velha e fraca para permitir a realização de estudos futuros. Porque nós temos a certeza que qualquer estudo que se faça com esta planta vai ter muita visibilidade e muito impacto».

Hoje existem em todos os países produtores de café descendentes do híbrido de Timor, variedades que criadas em Portugal transformaram a produção mundial. Mas, o Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro pretende continuar a investigação para criar novas variedades a partir do híbrido agora redescoberto.

«O impacto económico é grande. A curto prazo não, porque a planta não produz e têm que ser seguidas técnicas de melhoramento e fazer novos híbridos com outras plantas com outras características culturais. Por exemplo, o híbrido de Timor produz pouco, a qualidade é baixa comparativamente com o arábica, portanto, precisa de ser cruzado, hibridado com outras variedades. E, aí vamos então tentar transferir essas características para outras variedades que não têm resistência e do ponto de vista económico, substitui a utilização de pesticidas».

«No fundo é o que é o que se pretende? É criar variedades com resistência a essas doenças e o híbrido de Timor é a fonte, é uma das fontes principais», afirma Vitor Várzea.

O Café é, a seguir ao petróleo, o principal produto no mercado internacional. É o produto agrícola com maior valor comercial e o produto de maior peso na economia em cinquenta países produtores.

O café é a segunda bebida mais consumida no mundo, sendo que no mercado de retalho, o café gera por ano 70 mil milhões de dólares, o que o torna numa das maiores atividades económicas do mundo.

Mas para além do valor económico, estudos indicam também efeitos benéficos na saúde dos consumidores.

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