domingo, 10 de fevereiro de 2013

Televisa e 'The Guardian': a grande mídia global continua bem sintonizada


Após publicar reportagens mostrando como a Televisa beneficou o presidente eleito do México, Penã Nieto, nas eleições do ano passado, o jornal 'The Guardian' recuou. O diário britânico alega, agora, que os documentos não provam o viés da cobertura jornalística do grupo. Mas isso não surpreende, afinal Televisa e 'The Guardian' fazem parte do mesmo sistema: a grande mídia global.

‘The Guardian’ está preocupado se seus artigos denunciando Televisa por beneficiar o presidente eleito Peña Nieto, nas eleições de 2012, tenham sido interpretados (especialmente no México) como se a Televisa tenha tido uma má conduta. ‘The Guardian’ não afirmou que os documentos divulgados constituíam uma prova conclusiva de parcialidade ou informações enviesadas da Televisa. ‘The Guardian’ reconhece que a Televisa e seus jornalistas procuram manter os mais altos padrões de qualidade e reconhece que os eleitores possam ter se sentido ofendidos. ‘The Guardian’ aceita o reconhecimento dado pelas autoridades eleitorais (IFE) de que a cobertura da televisão do Grupo Televisa cumpriu com a neutralidade esperada para a atividade. Consequentemente, ‘The Guardian’ esclarece qualquer mal-entendido não intencional de bom grado. Rei morto, rei posto! Nada aconteceu aqui!

Apesar de o ‘The Guardian’ ter ajoelhado para a Televisa, não se pode dizer que os britânicos estejam mal informados. Estão tão bem orientados que não devemos nos esquecer de que o país continua a ser um poderoso império, que invadiu o Iraque, em linha com os EUA, que continua a servir uma monarquia hereditária e teve como primeiro-ministro a chanceler de ferro, Margaret Thatcher, que submeteu os irlandeses. Como podem os britânicos estar mal informados se eles continuam a desempenhar um papel dominante na economia europeia e global, seguem dominando as Malvinas apesar dos argentinos e estão dispostos a invadir qualquer país para acompanhar os ianques? Esta atitude do ‘The Guardian’ é comum dentro do sistema da imprensa corporativa. Não se pode esquecer como funciona a mídia capitalista.

Isso mostra, mais uma vez, que 99% da imprensa comercial global – The Guardian, Globo, Clarín, El País, Le Figaro, Washington Post, Televisa e outros – forma uma cadeia ao lado de UPI, AP, EFE e Reuter para servir os interesses imperialistas. E se todos eles formam uma grande família, que serve os países mais poderosos do mundo, qualquer erro, confronto ou "falta de solidariedade" têm de ser pago. Então se o ‘The Guardian’ atacou antes das eleições no México e criticou a Televisa, deve mais tarde ajoelhar-se e reivindicar o seu "bom nome", negando o que fora publicado e, se possível, buscar punição para aqueles que deturparam seu pensamento. Isto significa que se no México temos 99% de tevês, rádios e jornais a serviço do capitalismo, certamente as mesmas condições há na Grã-Bretanha e em outros países.

‘The Guardian’ reconheceu publicamente o que já sabemos no México, ou seja, que Televisa é um grande monopólio sombrio, a maior empresa de mídia "do mundo de língua espanhola" (em valor de mercado) e é um dos principais atores na indústria do entretenimento global. As atividades do Grupo incluem a transmissão de rádio e televisão (terrestre, cabo e satélite), produção e distribuição internacional de programas de televisão, filmes e revistas. Televisa é a maior produtora de programas de língua espanhola do mundo. Além disso, como a emissora principal no México, opera quatro canais nacionais de televisão aberta. ‘The Guardian’, portanto, não pôde lutar com os meios de comunicação mais poderosos do mundo e teve de se ajoelhar para pedir desculpas.

Tão grande potência mundial é a Televisa que as seis ou 10 vans de luxo, com seu logotipo, que foram apreendidos na Nicarágua com drogas e bilhões de dólares, foram rapidamente esquecidas pelo governo de Daniel Ortega, e as investigações não prosseguiram. Aqui nesta região do México diz que ‘Con dinero baila el perro’ (‘com dinheiro até o cão dança’), ou seja, o dinheiro compra tudo, com ele você pode fazer qualquer coisa. Desde que a empresa surgiu no início dos anos cinquenta, nenhum governo da República deixou de lhe dar concessões. Desde meados dos anos setenta, especialmente em 1982, começaram tomar conta de tudo. No governo de Carlos Salinas (1988-1994), sua força chegou ao máximo. Desde então, todos os políticos se agacham na frente da empresa de televisão, na esperança de aparecer nas telas que são vistas por 70% da população.

"O Grupo Televisa – diz o ‘The Guardian’ – a tuou com neutralidade e seguiu as normas eleitorais e políticas mexicanas". O povo do México sabe que é uma mentira infame, pois já compreendeu que a votação foi comprada pelo PRI, com o apoio da Televisa. Também entende que o comportamento oportunista do jornal inglês ocorre devido ao grande poder econômico da empresa mexicana, à intervenção do governo Peña Nieto e oa juiz eleitoral do IFE. Certamente os estudantes do ‘Yo soy 132’ – que foram os mais incisivos em denunciar o comprotamento da Televisa nas eleições – têm os melhores argumentos para demonstrar a capitulação do ‘The Guardian’. Espero que todos os ingleses inteligentes conheçam melhor seus jornais e mexicanos tenham vigor para seguir batalhando contra a Televisa.

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