Por Thais FernandesNo último dia 23 de outubro, cafeicultores e membros da cadeia produtiva cafeeira da região da Alta Mogiana, abrangendo municípios de Minas Gerais e São Paulo, participaram de um abaixo-assinado em favor da instalação de fábrica de cápsulas da multinacional Nestlé no Brasil. (Leia
aqui mais sobre o pedido da companhia)
Durante o evento II Espaço em Jaguara de Cafés Especiais, os palestrantes Carlos Brando, da P&A Marketing, e Mauricio Miarelli, coordenador do Conselho Nacional do Café (CNC) e presidente da Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas (Cocapec), abordaram o tema. “O produtor não pode se isolar. O café precisa passar por toda a cadeia até chegar ao consumidor”, pontuou Miarelli.
O coordenador do evento em Jaguara (MG), Ivan Sebastião Barbosa Afonso, explica que a iniciativa busca dar voz aos produtores. “Aproveitamos o momento para reunir produtores em torno deste tema. O abaixo-assinado será enviado em nome dos próprios cafeicultores e não de uma única cooperativa ou instituição”, afirma.
Ao todo, foram angariadas durante o evento mais de 243 assinaturas a favor do tema e o documento será encaminhado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, com cópia ao CNC. Ainda de acordo com Mauricio Miarelli, há interesse de que a fábrica seja instalada em Montes Claros (MG) e, por isso, o documento será entregue, também, ao governador eleito de Minas Gerais.
Foto: Alexia Santi/ Agencia Ophelia/ Café Editora
O texto de introdução do abaixo-assinado, direcionado ao ministro, cita que “Cafeicultores e integrantes da cadeia produtiva do café, reunidos em Jaguara, nesta data, durante o II Espaço em Jaguara de Cafés Especiais, tomando conhecimento da polêmica que abate a classe produtora brasileira, a respeito da possibilidade da instalação de uma fábrica de cápsulas de cafés finos, a ser implantada pela Nestlé, no país, vem manifestar a Vossa Excelência o seu apoio ao pleito da multinacional, pois vêm, esta fábrica, como uma oportunidade de alavancar a produção e a comercialização de cafés especiais brasileiros.”
Segundo Carlos Brando, a Nestlé pretende tomar medidas para melhorar seu relacionamento com a cadeia produtiva nacional. “Eles propõem investimento em pesquisas na nossa cafeicultura e, aos poucos, trocar os cafés estrangeiros dos blends, por nacionais”, afirmou o especialista em marketing cafeeiro. “De imediato, já sai Vietnã e entra conilon do Espírito Santo”, prosseguiu Brando, que acredita que a tendência, entre as marcas da companhia, seja a instalação da Dolce Gusto.
Posicionamento da diretoria do CNCQuestionado pela equipe CaféPoint, o Conselho Diretor do CNC se pronunciou sobre o tema. Acompanhe, abaixo, o que o Conselho Nacional do Café esclareceu acerca dos comprometimentos da Nestlé:
“No início do programa, a Nestlé utilizará 65% de Cafés do Brasil na produção de suas bebidas, com o prognóstico que esse percentual salte para 85% em 10 anos, mas não descartando a possibilidade dessa elevação ocorrer antes devido aos resultados iniciais dos testes de campo, visto que a empresa está contratando um grupo de técnicos para encontrar, no Brasil, grãos semelhantes àqueles que deverão ser importados para compor o blend. Caso não sejam localizados esses cafés, o prazo de 10 anos é necessário para o desenvolvimento de testes que permitam assegurar a viabilidade econômica das variedades desenvolvidas pela Nestlé fora do Brasil, especialmente produtividade e resistência ou tolerância a pragas e doenças, haja vista que não é intenção de ninguém correr o risco de introduzir no Brasil variedades de café arábica que atendam às características sensoriais desejadas, mas que não apresentem os parâmetros de produtividade necessários ou que sejam suscetíveis a pragas e doenças.
É interessante destacar, em especial aos que se encontram receosos com a possibilidade da instalação da fábrica da Nestlé no Brasil, que a empresa se comprometeu em executar programas para aumento da qualidade e da sustentabilidade da cafeicultura nacional; a pagar prêmios ao produtor pela qualidade do produto, que devem variar de US$ 10 a US$ 17 por saca, de acordo com os critérios baseados em atributos sensoriais da bebida preparada; e, também, contratar um Centro Colaborador, habilitado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para a realização da Análise de Risco de Pragas (ARP) para cada país de onde se importará o café arábica verde.
O investimento que a Nestlé se comprometeu a fazer é de R$ 800 milhões, dos quais R$ 180 milhões serão nos primeiros dois anos (2014-2015), com o início das atividades da fábrica previsto para o segundo semestre de 2015. A expectativa inicial é que a estruturação da planta gere mais de 400 empregos de forma direta.
PesquisasA Nestlé explica que o trabalho de Pesquisa & Desenvolvimento consiste em identificar e desenvolver no Brasil os três pilares fundamentais que impactam os atributos sensoriais do café: Ambiente, Planta e Processamento pós-colheita. Para isso, a empresa investirá R$ 3,2 milhões, em 10 anos, sendo R$ 2,2 milhões nos primeiros anos (2014 a 2016), com o objetivo de desenvolver novas técnicas de produção e variedades de café. Assim, espera cultivar, no Brasil, cafés com novos atributos sensoriais para “match” com os da Colômbia e África. Além disso, a empresa também pretende desenvolver talentos técnicos para atuação em pesquisa e no campo.
ConilonSe concretizada a construção da fábrica, a Nestlé tem o compromisso de utilizar, única e exclusivamente, o café conilon nacional, sendo vetada qualquer possibilidade de importação dessa variedade de outras origens produtoras que não o Brasil.
Os cafés a serem trazidos para cá, no início do projeto, referem-se exclusivamente a arábica, em um montante inicial aproximado de apenas 25 mil sacas/ano. Aos que temem que esse volume importado cresça, a Nestlé assumiu o compromisso de suprir o aumento da demanda por seus produtos com o desenvolvimento de cafés equivalentes a esses no Brasil, investindo nas pesquisas, conforme citado anteriormente. É válido frisar que a importação inicial desse café arábica tem o objetivo único de manter o padrão sensorial do blend atualmente fabricado na Europa.
Por fim, esclarecemos que a intenção da empresa, após um ano de operação, é que a exportação anual do produto processado alcance um montante equivalente a, no mínimo, três vezes o valor do café verde importado, podendo chegar até a seis vezes. E, como compromisso assumido para a agregação de renda, o produto final que utilizará café verde importado deverá possuir um valor pelo menos 10 vezes maior que o do grão verde trazido para o Brasil.”