O Plano Diretor é a régua que ordena a convivência entre o interesse público e o privado na vida de uma cidade. Um Plano Diretor amplamente discutido com a cidadania, aplicado de forma coerente pelos seus representantes eleitos, não blinda integralmente a vida de qualquer comunidade. Há variáveis que lhe escapam. Um gesto irrefletido pode desencadear uma tragédia. Mas ele é a salvaguarda mais avançada --ainda que deliberadamente rebaixada pelo interesse plutocrático-- do bem-estar presente e futuro de uma população.A Constituição brasileira delega ao poder municipal a definição das diretrizes que vão orientar a vida da cidade hoje e amanhã. São Paulo começa agora em fevereiro a revisar seu Plano Diretor Estratégico (PDE), em vigor desde 2002. A gestão Haddad promete reverter o que foi sonegado à metrópole nos últimos oito anos. Ao longo dos próximos 12 meses, a população de todos os bairros e regiões será convocada para apresentar suas dúvidas, críticas, sugestões e projetos. Repita-se: nenhum plano protege integralmente uma comunidade do imponderável. Mas a democracia tem a obrigação de fornecer à população instrumentos que a salvaguardem ao menos das ameaças previsíveis do presente. E pavimentem caminhos que possam estreitar os laços da convivência compartilhada no futuro. Numa metrópole cindida pela supremacia do interesse privado sobre o bem-comum, isso não é pouco. E pode representar muito.
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