Eu quero falar do libanês Pedro José Aboudib, que veio da mesma região no Líbano de onde saiu meu avô. Vovô saiu em 1883, com 20 anos. O brimo Aboudib um pouco mais tarde, 1889, com 16 anos. Vieram de Zgharta, nas montanhas do norte. Fizeram o mesmo trajeto de milhares que deixaram suas aldeias, famílias e vieram em busca de um novo horizonte em uma terra distante e desconhecida.
A caminhada deles merece uma reverencia especial. Brimo Aboudib fez um relato a Indá Soares Casanova, contando sua vida até o dia 2 de junho de 1945, desde Zgharta até o Brasil. Dois motivos me levam a divulgar este texto, publicado em 1997, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. O relato é um roteiro de cinema, oração de um homem que tinha na alma a candura e precisão no uso das palavras. Um homem do diálogo e da boa conversa, basta ler o texto e confirmar o que afirmo.
Cheguei a este texto porque meu pai, Manuel Mansur, sempre falava que meu avô veio de Zgharta. Quando descobri que existiu em Anchieta uma barca com o nome de Zgharta, ganhei fôlego para continuar na pesquisa. Mais adiante fiquei sabendo que ela pertencia ao Brimo Aboudib, que fizera uma homenagem a sua cidade natal. Imagino que vovô e Brimo Aboudib tenham se encontrado, porque estavam na mesma época e região, Alfredo Chaves, Anchieta e Guarapari.
Fazer que mais pessoas leiam este texto é dever, obrigação, homenagem e reverencia que faço aos homens e mulheres da imigração. Quando fiz a primeira leitura, as lágrimas correram soltas e compreendi um pouco mais o que é ser descendente de libanês. Passei a divulgá-lo com insistência, fazendo como um mascate que vende, mas aqui coisa para o espírito. É por isto que sempre falo: Líbano, minha alma veio de lá. O texto é curto, são 22 páginas, com a mensagem de quem não viu obstáculos, apenas barreiras a serem transpostas, com ousadia, coragem e determinação.
Selecionei dois pontos como aperitivo aos interessados:
- Nasci em Zgharta, no Líbano, de uma família de pequenos proprietários de terras. Meu pai vivia do cultivo do trigo, batata, milho, possuía um campo de uvas, plantações de azeitonas e criava, em pequena escala, bicho-da-seda. Por ser o mais velho dos irmãos, desde muito jovem fui encarregado de cuidar da irrigação das plantações, que exigia assistência a horas determinadas. Embora com esse encargo, aos oito anos de idade comecei a freqüentar a escola.”
Em 1910 Brimo Aboudib volta ao Líbano, após 21 anos de sua partida, relata: impossível descrever meu estado d’alma, a alegria sem limite de todos nós, meus irmãos não sabiam o que fazer para me agradar.’’
- ...depois de abraçar chorando minha Santa Mãe, compreendi que perdera para sempre meu idolatrado pai. O desespero apossou-se de mim, pois ele era verdadeiramente o elo mais forte que me prendia a terra natal. Esse devotamento que eu sempre lhe demonstrara, parecera ao zelo de minha mãe, uma preferência e, segundo me disse, a fizera silenciar sobre a morte de meu pai, temera que eu, por isso desistisse da viagem.”
Temos de preservar a memória histórica das nossas famílias, de nossos grupos e das nossas comunidades. Se você estiver interessado no texto, tenho duas recomendações. Entrar em contato pelo endereço eletrônico ou no telefone 8822 0210. A segunda é boa viagem na leitura que será maravilhosa e emocionante.
postar objetivos hoje em dia num mundo niilista e sem raizes é dificil, mas relendo nosso passado, revivendo emoçoes que nos colocam na classificaçao de seres humanos, fica mais facil compreender e continuar a viver, a encontrar uma razao para prosseguir e para produzir registros uteis para dar direçao aos nossos filhos num futuro nao muito distante...
ResponderExcluirobrigada Mansur
aguardo o texto completo
rachel queiroz Zuliani