Quem freqüentou a casa do médico e geógrafo João de Deus Madureira Filho, em Cachoeiro de Itapemirim e com ele atravessou madrugadas inteiras, com certeza tem o direito e pode bradar os quatros quantos: eu sou um privilegiado. Eu me incluo no grupo que sempre batia na porta do mestre Madureira. Um homem experiente e de conhecimento, que nunca se furtava em dividir e repassá-los aos visitantes. Havia uma mesa sempre abastecida de café e uma deliciosa rabanada quando caminhava para o final do ano, certamente salvamos Cachoeiro, o Espírito Santo e o Mundo, várias e várias vezes, no avançar das madrugadas.
Uma caneta, folhas de papel, um maço de cigarros e uma caixa de fósforos eram presenças obrigatórias sobre a mesa. O Mestre ia falando e fazendo desenhos ilustrativos sobre o tema que discorria. Hoje tenho grande arrependimento de não ter levado algumas folhas comigo. Eram as atas de nossos encontros.
Madureira nos conduzia em aulas magistrais de Geografia, História, Ecologia e acima de tudo de civilidade, visão de futuro e de solidariedade. Era lá que as pessoas que não concordavam com os caminhos que a política e a economia estavam tomando, tinham o fórum de debates e troca de idéias – território livre.
Já morando em Vitória e fazendo a cobertura jornalística do meio rural, quando voltava a casa de Madureira sempre tinha de responder a pergunta: e como vai o café ecológico. Madureira fazia referencia ao café conilon, que começava ter um maior volume na sua colheita. O Mestre via mais adiante do nosso tempo e de nossa percepção. Este era o motivo da sua casa estar sempre cheia de gente com fome de conhecimento, na busca de luz para caminhar.
Quem disser que passou por Cachoeiro no tempo que João Madureira vivia, mas não o conheceu e nem mesmo o ouvir falar, passou por lá, mas efetivamente não esteve lá.
Nos anos 1975 até 1978 eu trabalhei no jornal A Tribuna. Numa segunda feira, o colega Eustáquio Palhares me abordou: agora eu sei a fonte onde você bebe informações e cultura quando vai a Cachoeiro, “eu estive lá no final de semana e na casa do João Madureira.” Ele descobriu a mina e tinha agora o mapa para lá chegar.
Numa noite/madrugada fui brindado com um presente, o livro: Município do Cachoeiro de Itapemirim – suas terras, suas leis, seu progresso, sua gente- de Domingos Ubaldo, de 1928 e com 568 páginas. Um imenso depositário de informações Históricas. Hoje tenho a posse de um documento com poucos similares. Neste livro tem sete páginas que fala sobre Ludovico Persici. O jornalista Rogério Medeiros registrou que “Ludovico Persici, entrou para a história do cinema nacional como um de seus pioneiros. O principal crítico e historiador do cinema brasileiro, Alex Viany deslumbrou-se com seus filmes, citando com admiração o fato de que ele fazia filmes em regiões onde não existia a menos noção dessa arte.“ e que “o reconhecimento de seu talento e sua inserção na história oficial do cinema brasileiro deve-se ao jornalista Ronald Mansur, da TV Gazeta, que o descobriu, pesquisou sua vida e revelou sua trajetória na arte do cinema a Alex Viany.
Eu estive no lugar e na hora certa duas vezes. A primeira na casa de João Madureira. A segunda trabalhando no jornal o Diário quando Alex Viany, amigo de Rogério Medeiros, pesquisava sobre a vida e a obra de Ludovico Persici.
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