A eleição de Dilma Rousseff para dirigir o Brasil nos próximos quatro anos e com possibilidade de reeleição é um marco importante na História real do Brasil. Disto não tenho a menor dúvida. A consagração nas urnas por dois turnos torna a eleição mais concreta e com maior base para poder agir com maior desenvoltura.
Certamente que os entendidos em eleições buscam a razão ou as razões da vitória e da derrota. O certo é que a História de uma maneira geral é contada pelo vencedor, o derrotado é o derrotado. Embora ache que não é justo tal procedimento, mas é a realidade É inegável que o Presidente Lula soube administrar e transferir prestígio junto à população para a futura Presidenta, em função do desempenho de sua administração.
A eleição de Dilma para a presidência é uma mudança importante no procedimento de nossa sociedade, que é machista e discriminadora para com a mulher. A presença feminina liderando na política e no trabalho é pequena. Mas a presença da mulher na administração das casas e na condução das salas de aulas é majoritária. Um velho costume entre nós é sempre dizer a uma criança não bem comportada: a sua mãe não lhe deu educação? Mas podendo ser mais grosseiro: seu filho ou filha da “p...”.
A carga de informações desfavoráveis que a presidenta eleita teve na internet foi imensa. Os computadores foram entulhados de histórias mirabolantes que certamente foram gestadas por uma minoria com um poder de disseminação muito grande. Eu me dei o direito de deletar todas mensagens que tratavam de denegrir a imagem de qualquer candidato.
A eleição de Dilma Rousseff nos leva até a geração inconformada das décadas de 60 e 70 que resolveu encarar o sistema político de uma forma diferente. A geração bateu de frente com o sistema. Muitos foram para a luta armada. Olhando hoje e mirando 40 anos no passado é fácil dizer que estavam cometendo um suicídio. Mas agora é fácil fazer esta análise e condená-los. Mas é a esta gente que em grande parte devemos o Brasil de hoje, mesmo não concordando com a ação e o caminho sem volta que tomaram, que jogou muitos na clandestinidade, nas prisões e nos cemitérios.
Existe um episódio interessante desta fase, final da década de 70, ocorrido em Itapemirim e em Cachoeiro. O senador Dirceu Cardoso em comício em Itapemirim falou contra os comunistas. Logo em seguida participaria de um comício em Cachoeiro. O deputado estadual Roberto Valadão o advertiu para não repetir o discurso em Cachoeiro. Um irmão de Valadão, Arildo e sua esposa Aurea, militavam no Partido Comunista do Brasil, PCdoB, estavam na Guerrilha do Araguaia, onde foram mortos.
Em Cachoeiro Dirceu disse que queria homenagear aqueles estudantes que deixaram o livro aberto e se embrenharam nas matas do Brasil para defender os seus ideais de liberdade. É esta a geração de 60 e 70 que agora chega ao Poder. Chega de forma diferente, vivemos num País diferente, bem diferente dos tempos da ditadura. Gente que sofreu e gente que bateu forte, ainda podem contar onde estavam no tempo negro dos anos de chumbo.
Confesso que estou contente com a eleição de Dilma Rousseff, gente da minha geração. Mas respeito José Serra que é uma geração antes da minha, que sofreu no exílio e perdeu companheiros vítimas da repressão policial militar. A sociedade não pode ser amedrontada, porque o que temos de fazer é tirar milhões da miséria. Isto se faz com ações concretas e muito trabalho. A minha geração é a minha alegria...
ronaldmansur@gmail.com
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