Adolfo Agostini, neto de imigrantes vênetos, nasceu no
município de Alfredo Chaves, e dentro do regime patriarcal que o imigrante
italiano trouxe, continuou a tarefa do avô e do pai: dedicou-se à agricultura
na terra que herdou.
As alterações da economia que afetaram todos os
descendentes de e imigrantes de sua geração que se dedicavam a agricultura num
regime de pequena propriedade, o forçaram a vender um terreno de poucos
alqueires e ir pra cidade. Um outro motivo apressou a sua saída de Alfredo
Chaves: a saúde da mulher, que precisava de constante acompanhamento médico..
Na cidade nada tinha a fazer, porque pouco tinha a
oferecer em Cachoeiro de Itapemirim, um mercado saturado de profissões de baixa
renda. Passou então a se valer de sua habilidade manual e na casa pobre do
bairro do Valão começou a dar forma às cenas que a sua memória guardava da vida
na roça, onde ficara mais de 40 anos. É a palha de milho, de coco, o cipó e a
taquara, tornaram matéria prima que ele transformava em burros de carga, em
lavradores com enxada nas costas, na galinha com uma ninhada de pintos, no
trabalhador acompanhado do seu cachorro, sanfoneiros e violeiros, cavaleiros,
juntas de boi puxando carroça, agricultor colhendo milho com balaio às costas.
E num dragão propositadamente feio, atacado por um cavaleiro armado, esta a
ligação com a religiosidade herdada de seus antepassados.
Mas o tempo – já há quase 20 anos na cidade – vai
fazendo com que o lado das lembranças da vida rural, acrescente a influencia do
meio. Não é de admirar que Adolfo Agostini já tenha começado a produzir modelos
Wolkswagen em madeira. A diversidade de sua produção está presente na maioria
dos estados brasileiros e em algumas partes do Mundo, levadas por visitantes
que passam em Cachoeiro.
Lá o ponto de referencia de Adolfo Agostini não é a
sua casa no Valão, e sim a de Nair Coelho dos Santos, mulher que reúne as
condições de viúva, professora do Sesi, doceira de fino gosto e um pouco de mãe
de todos. A sobrevivência de Adolfo Agostini como artesão esta diretamente ao
coração de mãe de Nair, que vai passando os seus trabalhos às pessoas que
freqüentam a sua casa, e que não são poucas.
Através de Nair, Adolfo ganhou outro divulgador, neto
de italianos, como ele: Augusto Ruschi. Em 1975 Nair entregou a Adolfo um
pôster da Companhia Souza Cruz e uma folhinha da mesma empresa, com figuras de
beija-flores voando e se alimentando de néctar. Poucos dias depois ele voltava
com figuras dos pássaros idêntica ao do pôster e da folhinha. O trabalho de
Adolfo Agostini foi parar nas mãos de Ruschi, o homem que havia feito as
fotografias. O cientista ficou satisfeito, porque via em suas mãos, em forma de
artesanato, o reconhecimento de sua obra, vindo de um descendente de imigrantes
como ele. Hoje, Augusto Ruschi é um grande comprador dos trabalhos de Adolfo
Agostini e seu divulgador.
Com mais de 60 anos, Adolfo se sente enfraquecido,
depois de dois longos períodos hospitalizado. E enquanto espera sua aposentadoria,
não como artesão, recusa-se a adptar-se a certas técnicas modernas de mercado,
como a venda a prestação. Certa vez vendeu um burrinho e demorou quase um ano
para receber as prestações da venda. Decidiu então que aquela seria a primeira
e a última vez: quem tem a arte como sobrevivência não pode dar-se a esses
luxos.
EM TEMPO:
Este texto foi
publicado na Revista CUCA, Número zero, de fevereiro de 1977, Fundação Cultural
do Espírito Santo, editada por Hesio Pessali. Eu quando ia a Cachoeiro trazia
os trabalhos de Adolfo Agostini e os revendia durante o meu trabalho na Redação
e nos locais onde ia fazer reportagens.
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