sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

AGRICULTORES ORGÂNICOS



Há quase quatro anos a minha rotina nas manhãs de sábado praticamente não se alterou. Saio de casa e percorro 50 metros na Avenida Hugo Musso até chegar ao cruzamento com a Avenida Champagnat, depois sigo no sentido do centro de Vila Velha até o vão da Terceira Ponte, já avisto as barracas da feira orgânica. Uma nova caminhada de outros 50 metros. Apresso o passo para agradecer aos feirantes pelos alimentos que levarei para casa. Assim, a rotina do sábado é um encontro marcado, que vai completar quatro anos no dia 19 de março. Lá encontro amigos e amigas do dia a dia urbano, mas o mais importante encontro é com produtores.

      Um encontro feito também por centenas de pessoas interessadas em ter uma alimentação normal e produtores em paz com meio ambiente. Assim tem sido uma relação bem acima da troca de dinheiro por hortigranjeiros, onde o valor da mercadoria é em termos nutricionais.

      A feira orgânica tem pelo lado do consumidor um grupo formado por funcionários públicos, aposentados e profissionais liberais. Uma parte busca produtos saudáveis, outro segmento deseja produtos mais frescos e um terceiro grupo está na busca de preço. Mas tem gente que consegue reunir todos os pontos. A feira é uma festa e ponto de encontro e de bate papo de muita gente. Aliás, como deve ser uma feira de verdade.

        Falar destes quatro anos é fácil. Difícil foi a chegada deles até hoje. A agricultura orgânica no estado é bem disseminada graças a ação pastoral da Igreja Evangélica de Confissão Luterana que além de se preocupar com as coisas do Divino, sempre esteve preocupada com as coisas aqui da Terra. Foi a igreja que levou os agricultores até ao Centro de Agricultura Natural Augusto Ruschi, da Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim, que era dirigido pelo agrônomo Nasser Youssef Nars, na década de 80. Foi lá que a agricultura orgânica deu os primeiros passos.

       Os 20 produtores de Santa Maria do Jetibá, todos descendentes de pomeranos chegam na noite de sexta feira, armam as suas barracas e dormem debaixo delas até a madrugada do sábado. Os três produtores de Iconha chegam na manhã do sábado. Uma vida dura e sofrida, como é a vida do trabalhador do campo.

        No início, a falta de apoio do governo era quase unânime. Raras exceções aconteceram empenho pessoal de técnicos isolados. Hoje a realidade mudou e seria uma inverdade dizer que os órgãos governamentais continuam alheios e omissos. Um fato merece registro, é preciso mais ação além das bancas da feira. É preciso umapoio na comercialização, porque em termos de produto e qualidade eles são mestres para qualquer doutor.

         Eles merecem a nossa homenagem, porque trabalham com competência para ter produção e depois vendê-la, e levar o dinheiro para casa. Mas a memória de Albertino Uhlig, agricultor que lutou para a agricultura orgânica capixaba chegar ao atual nível merece um registro especial. Eu o vi defendendo uma causa que há 25 anos parecia utópica e maluca: produzir sem usar adubo químico e agrotóxico. Se todos fossem como Albertino, que maravilha viver, já dizia o poeta.

 ronaldmansur@gmail.com

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