segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O BRIMO NASSER



No início do mês de abril estive em Brasília para um encontro da Confederação das Entidades Líbano-brasileiras, a Confelibra, que é um movimento fundamentado na necessidade imperiosa de não esquecer e não abandonar o Líbano. Fazermos da terra de nossos antepassados fonte inesgotável de reverência. É assim que o presidente Habib Tamer Elias Merhi Badião sempre enfatiza. É dessa forma que os libaneses e descendentes que de fato amam a Pátria Mãe agem e procedem. A omissão hoje é um voto para o fim do Líbano democrático e plural do ponto de vista ideológico e religioso – é o fim da casa dos que nos antecederam.
Nestas reuniões é sempre uma oportunidade para rever os nossos brimos. Nasser Youssef Nasr é um deles, imigrante da década de 50 é um deles. Depois de muito trabalho ele é hoje um empresário em Brasília, onde também preside o Clube Monte Líbano. Eu o conheci em São Paulo, também numa reunião da Confelibra. Uma pessoa amável que parece conhecermos há anos, é o sangue libanês que propicia figuras admiráveis como ele. Bom de conversa, aliás, como todo libanês que veio ao Brasil vender de porta em porta. É o mascate com suas malas e mulas, levando novidades aos fregueses. Querendo saber de sua história e sua trajetória, para saciar a minha curiosidade de jornalista, na primeira oportunidade fui direto ao pote, perguntei:
-Brimo Nasser, quando o senhor veio para Brasília?
Ele mansamente falou:
- Eu vim no ano de 1960. Estava em São Paulo e enchi um caminhão com laranjas para vender no dia da inauguração da cidade.
Fiquei imaginando o que era sair de São Paulo a 51 anos, percorrer mais de mil quilômetros e chegar a Brasília com um caminhão lotado de laranjas.
Mas em seguida ele falou:
- Brimo Mansur, quando aqui cheguei a metade das laranjas estavam estragas.
Falei:
- Que azar brimo.
Ele rapidamente acrescentou:
- Azar nada brimo a outra metade vendi por dez vezes mais.
Era o sangue fenício falando mais alto. Gostou tanto de Brasília que por lá fincou raízes fortes, como as do cedro. São histórias e relatos desse tipo que ando ouvindo sempre que converso com os libaneses que vieram ao Brasil com dois propósitos. O primeiro era o de fazer fortuna. O segundo, uma extensão do primeiro: voltar para a Pátria Eterna, o Líbano.
Muitos voltaram para as suas aldeias. Mas os que ficaram representam um número bem mais expressivo. Ficaram e hoje nós vemos a marca libanesa nas casas comerciais, nos nomes de ruas e nos nomes das pessoas. O Brasil foi adotado e adotou os nossos antepassados. Somos um povo de convivência fraterna. Temos duas Pátrias.
O registro que faço é no sentido de que os nossos brimos e brimas de sangue libanês saiam do imobilismo, da acomodação e do desânimo.
Texto publicado em A GAZETA, 25 de julho de 2011.

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