Gerson
Camata foi governador no início da década de 90, período marcado pela volta da
eleição onde o povo passou a escolher os governadores. Eram os primeiros passos
da redemocratização do Brasil. Tempo de embate político e ideológico. As manifestações
da população aparecendo mais claramente.
Nesta
época os proprietários rurais estavam preocupados com a movimentação dos
agricultores em defesa da reforma agrária. As ocupações de áreas rurais
passaram a acontecer. A violência no campo começa a aparecer.
Numa
grande reunião em Nova Venécia, com um público formado por fazendeiros e alguns
com o intuito de trazer problemas para Camata, assisti um episódio que ficou
marcado na minha vida.
Os
discursos inflamados iam acontecendo e pareceria que estava colocando Camata
numa situação complicada. Os discursos saindo e a noite chegando. Alguns que
sabiam que Camata voltaria para Vitória, manifestaram preocupação com a
segurança do governador. Camata mansamente dizia que queria ouvir a todos.
Quando
Camata começou a falar, eu estava ao lado de Sérgio Ceotto, Secretário de
Estado do Governo. Falei para Sérgio, deram um nó no Camata. Será que ele vai
conseguir sair.
Camata
foi falando nome por nome as famílias ali presentes, afinal, a maioria deles
teve um caminho comum na migração do Sul do Estado para o Norte. Seus
antepassados tiveram a mesma origem, a Itália.
Quando
terminou a chamada, foi direto:
-Quando
eu fui a Itália pela primeira vez, procurei a casa onde meu avô nasceu. Para
meu espanto me indicaram um curral. Reclamei: porque deixaram construir um
curral onde era a casa do meu avô.
-Para
mais um espanto me disseram que meu avô havia nascido ali mesmo, ninguém havia
destruído nenhuma casa. O meu avô veio para o Brasil como vieram todos os
italianos, como os avós de muitos de vocês, por falta de terra para trabalhar.
Por causa dos latifundiários.
-
Por isto, que quem estiver junto a sua terra, fazendo o seu cultivo, eu garanto
que não terá problemas. Agora, quem tiver terra, não a utilizar e morar no Rio
de Janeiro ou Vitória, pode colocar a barba de molho.
Ao
meu lado Ceotto falou baixinho: saiu bem. Além de sair bem, deu um nó em quem
imaginava que jogaria os produtores ele.
Só
faltou o governador Camata sair carregado.
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