sábado, 12 de maio de 2012

CARTA A SALIM MIGUEL


Assim que descobri o endereço de Salim Miguel, lhe enviei o seguinte texto:
Meu caro Salim Miguel.
NUR NA ESCURIDÃO apareceu na minha vida, não tenho certeza se nas páginas do Jornal do Brasil ou de O Globo. Encomendei um exemplar na livraria Siciliano aqui de Vitória. Sempre recebia a mesma resposta quando ia a livraeria: vai chegar.
Após três meses de idas e vindas, sempre saindo sem o livro, fui taxativo: só volto aqui quando o livro chegar. Não demorou 10 dias e lá fui convocado. Por telefone me avisaram: NUR NA ESCURIDÃO chegou. Levei logo dois exemplares.
Confesso que ainda estou mergulhado nas tuas palavras e no teu texto, que considero como meu  meio ambiente, apesar de pouca informação sobre meu avô, que no Brasil chegou no início dos anos 1880, com 20 anos e morreu em 1932. Eu nasci em 1949.
São 120 anos de partida do Líbano e 70 desta terra brasileira.
Na minha cabeça tem Zgharta, tem origem Maronita, tem montanhas, tem informações de um homem que era artesão, mascate, uma interrogação – porque não entrava em igreja – e muitos filhos espalhados pela estrada.
Tem Trípoli, Marselha, lembranças que me foram repassadas e que agora são reativadas.
Salim, você me fez imaginar o drama do velho Chico Turco que deixado no Brasil, por uma irmã, nunca mais pode falar ou ouvir os seus familiares libaneses. Deve ter sido duro para ele.
Vejo o drama de sua família que atravessou mares em busca , não do paraíso, mas em busca da paz e da normalidade de viver e criar uma família.
Lendo.
Lendo.
Lendo. Às vezes encontro cenas que me são conhecidas. As palavras em árabe são como gravetos que vão sendo colocados na fogueira para manter acessa a chama que aquece o corpo e torna viva a ligação com o passado de quem um dia saiu da sua terra em busca do desconhecido.
O meu pai que também foi mascate na sua juventude percorreu cidades, situação que permaneceu também depois dele entrar para o serviço público.
Aqui em casa costumo brincar com minha mulher Eliane e meus filhos – Augusto (21anos), Vinícius (18 anos) e Helena (13 anos), sobre o dia que forem ao Líbano. Falo para eles que depois de uma curva vão encontrar nossos primos falando em árabe.
A leitura de NUR NA ESCURIDÃO foi feita com sonoplastia de um CD de Renato Teixeira, principalmente na faixa 13- Tocando em frente, parceria com o patrício Almir Sater. No final da canção diz:
Cada um de nós compõe
A sua própria história
E cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz.
NUR NA ESCURIDÃO me proporcionou a alegria de poder viajar sem sair do lugar
Um grande abraço e certamente voltaremos a nos falar. Vila Velha, 2000.

Um comentário:

  1. Mansur, tive a honra de conhecer o escritor Salim Miguel quando morei no sul. Trabalhei num jornal, onde ele tinha uma coluna semanal com crônicas e comentários sobre literatura. Estava sempre presente na redação do jornal interagindo com os jornalistas, e eu o admirava muito pela competência, trajetória e humildade. Ele e a mulher são muito respeitados na região como intelectuais. Ler este seu post me deu muita saudade daquela época.

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