Produzindo polpas de frutas, cocadas e sequilhos, uma cooperativa de Ichu, na Bahia, composta majoritariamente por mulheres, descobriu uma saborosa forma de reforçar a renda de 180 famílias de agricultores – e, de quebra, incrementar a merenda escolar da criançada da região. A Cooperativa de Produção, Comercialização e Serviços Padre Leopoldo Garcia Garcia (Cooperagil) já alcança a marca de quatro mil quilos de polpa produzidos por mês, e 100 quilos de sequilhos por semana, boa parte desta produção, além das cocadas, comercializada com apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), instrumentos de compras públicas do governo federal.
“Os grupos produtivos da comunidade não tinham apoio nenhum. Criamos a cooperativa para organizar, comercializar e valorizar nossa produção”, conta Júnior Oliveira da Silva Araújo, 22, jovem agricultor familiar que é secretário da Cooperagil. A entidade, cuja sede fica na comunidade de Nova Esperança, abriga cerca de mil pessoas dos pouco mais de cinco mil habitantes de Ichu. A Cooperagil tem hoje aproximadamente 180 integrantes, em sua maioria mulheres. “As mulheres se organizam mais. Mulher vai puxando mulher, vai se organizando e fazendo”, opina Araújo sobre a supremacia feminina na entidade - que é, inclusive, presidida por uma mulher.
Com pouco tempo de vida, a cooperativa recebeu um grande impulso quando começou a vender seus produtos para dois programas de cuja articulação o MDA participa. As duas unidades produtivas da Cooperagil fornecem hoje grande parte de sua produção para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). “As vendas para os dois programas têm uma importância imensa”, conta Júnior Araújo.
Criado em 2003, o PAA é uma ação do governo federal no âmbito do Programa Fome Zero e visa garantir o acesso de populações em situação de insegurança alimentar a comida em quantidade e de forma regular. Já o PNAE estabelece que as escolas públicas com acesso a recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) comprem de agricultores familiares, ao menos, 30% da merenda escolar.
Para atender à demanda, a Cooperagil tem um centro de produção em Nova Esperança e outro em Barra, a sete quilômetros de distância. As duas unidades são divididas com o Centro Comunitário São João de Deus . Em Barra, 18 mulheres trabalham pela manhã todos os dias da semana para produzir polpas de frutas e cocadas, que são vendidas às escolas da região, dentre as quais a escola municipal Colégio Santo Antônio, na própria comunidade, onde estudam cerca de 80 crianças.
O PNAE e o PAA absorvem cerca de três mil quilos da produção mensal de quatro mil quilos da Cooperagil, que faz polpas de frutas de goiaba, umbu, manga, cajá, maracujá, acerola e abacaxi, além de cocadas de coco, maracujá e goiaba. Além da regularidade e do volume, as vendas para os programas garantem um bom preço pelas polpas: R$ 5 o quilo, o mesmo preço das vendas para a região.
A cooperativa garante boa parte da renda de seus associados. “Tem meses que dá pra cada uma tirar mais de um salário mínimo. A renda da cooperativa ajuda e muito”, conta Celidalva Soares de Oliveira, produtora rural e trabalhadora do centro de Barra. Ela relata que, quando a cooperativa começou, como iniciativa das mulheres da região, os homens não gostaram muito da ideia. “Logo que começamos, foi um terror para os maridos deixarem as mulheres trabalharem. Hoje tem muita casa sendo sustentada pelas mulheres. Havia casas que não tinham geladeira, banheiro, e hoje têm”, relata, para depois confessar: “Antes a gente tinha vergonha de dizer que era produtora rural”.
Quando é época, a agricultora familiar colhe acerola, manga e goiaba na terra da família. Para cuidar melhor da produção, ela contou, assim como a Cooperagil, com ajuda da Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) oferecida pelo MDA. “O MDA está sempre ajudando, dando assistência. Os técnicos ensinam como plantar, cuidar”, diz.
Além da renda gerada, a agricultora aponta outra grande vantagem das vendas para escolas municipais: elas hoje sabem o que os filhos estão comendo no lanche do colégio. “Antigamente era tudo industrializado na merenda escolar. Hoje não, a gente sabe de onde tá vindo. A gente tem todo cuidado, pois sabe que são nossos filhos, sobrinhos e vizinhos que estão comendo”, observa.
A Cooperagil, que está em processo para conseguir o selo da agricultura familiar, busca hoje meios de divulgar seus produtos para crescer ainda mais. A cooperativa já participou, por exemplo, de duas edições da Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária (Fenafra), promovida pelo MDA
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