ORGANIZAÇÃO E ÊXITO.
Com a aberturada loja
a Associação começa a ter cara e identidade. Nasce uma nova etapa, os sócios
passaram a se encontrar para resolver suas necessidades. Achávamos que seria
difícil encontrar novos sócios, o que não ocorreu, logo eles apareceram, ficando
assim mais animado.
Uma descoberta: o
vizinho fazia coisa importante.
Uma lição: não era
preciso inventar grandes coisas, mas sim, aproveitar o que sabemos fazer.
Nas reuniões
discutíamos propostas e fazíamos planejamento, sempre a partir das dificuldades
e necessidades. Foram muitas horas de conversa.
Tivemos cursos dados
pelo Sebrae, Prefeitura e Emater, com participação da Emcapa, Secretaria de
Agricultura, UFES, faculdade de Turismo de Guarapari e Vila Velha. A
articulação sempre feita por Luis Perin, Ronald Mansur, por mim e os demais
sócios.
Foi importante a
proposta do Alpes Hotel: levar os hóspedes nas propriedades do agroturismo. Era
o que queríamos para divulgar e fazer o projeto aparecer.
Vou contar uma pequena
história que aconteceu com seu Helmuth Kubbe, gerente do Alpes Hotel. Ele
sempre saia com os hóspedes para os passeios. Certo dia acompanhava um grupo
numa visita a Cachoeira do Barcelos. A estrada que leva a cachoeira atravessa
trechos da Mata Atlântica e é cheia de encruzilhadas. No percurso ele se perdeu
e não sabia para onde ir. Passou por várias entradas e nada. Mostrava a
paisagem e nada de cachoeira. Resolveu parar o carro e disse para o grupo:
tenho certeza que a cachoeira ficava bem ali, acho que ela mudou de lugar.
Foi
importante a iniciativa da Prefeitura ao criar em 1996 a Secretaria de Turismo,
sendo primeiro Secretário, Marco Antonio Grilo. A Câmara de Vereadores, a
pedido do AGROTUR, criou o Selo de Inspeção Municipal (SIM) para atestar a
qualidade dos produtos de origem animal e vegetal. Um destaque na Secretaria de
Saúde foi Jésus Zandonadi, sempre junto aos agricultores para melhor
orientá-los.
Até 1998 ficou marcado
por realizações de suma importância. As metas foram alcançadas: a sinalização e
o mapa colorido que indicava a localização das propriedades. Com um mapa de
verdade ficou mais fácil. O que tínhamos era ruim, uma cópia xerox.
Com esta estrutura
montada já estávamos bem acostumados a receber turistas e grupos de excursões.
No início eram poucos e de forma irregular, mas com o tempo as propriedades
envolvidas já recebiam um bom número de visitantes. A minha já recebia em torno
de 500 pessoas por semana. Eram turistas do próprio Espírito Santo, de outros
Estados e do exterior. Um dia recebi 120 pessoas ao mesmo tempo e uma dela me
disse: já que não sei quem são os donos da propriedade no meio de tanta gente.
Os turistas se sentiam à vontade e passavam a interagir nas atividades da
propriedade. Ainda hoje tenho satisfação de falar a mesma coisa o dia inteiro e
no outro dia também.
A imprensa e os
governantes passaram a nos visitar e citar o agroturismo como exemplo de
desenvolvimento. Ficamos mais conhecidos.
Ao falarem da
atividade ocupávamos espaço e eles ficavam comprometidos. Isto despertou
interesse na região. Vieram conhecer como funcionava o agroturismo. Traziam
pessoas ligadas á agricultura, com potencial a ser desenvolvido e explorado.
Vinham entender a nossa prática e o nosso dia a dia. Fui solicitado por municípios
vizinhos para passar a experiência e apontar algum potencial. Em 1996 fiz uma
palestra e contei as experiências no Distrito Federal. Parece que consegui dar
o recado, os convites continuam chegando.
Hoje o agroturismo é
uma marca do Espírito Santo, por ser o primeiro Estado a praticar esta
modalidade no Brasil.
A FAMÍLIA
A família ocupa o
lugar central no agroturismo. Ela desenvolve e faz gerar a atividade. Por
sermos pioneiros passamos por muitas transformações. Quando começamos a receber
turistas em casa nossa vida mudou.
Primeiro, a
privacidade, a nossa casa não era mais só nossa, mas de todos que nos
visitavam. Usavam nossos sanitários e bebiam água de nossa geladeira. Os finais
de semana já não eram mais dedicados exclusivamente à família, uma vez que o
atendimento aos turistas era feito pelos familiares.
O lado econômico
também mudou porque entrava dinheiro quase toso os dias com a venda de queijos
e derivados, fubá, pó de café, frutas que muitas vezes se estragavam no
quintal.
Esta prática foi de
grande valia para as mulheres, que até então se ocupava com os afazeres
domésticos. Colocaram seus dotes em prática e passaram a produzir gostosuras e
artesanato que aprenderam com os antepassados. O fruto do trabalho tinha agora
novo sentido, trazia dinheiro. Agora elas compram o batom sem depender do
dinheiro do marido.
Queríamos uma nova
alternativa de renda e encontramos uma renda diária. Não conhecíamos esta
realidade, éramos acostumados com o café que só trazia dinheiro uma vez por
ano.
Iniciamos no
agroturismo não porque gostávamos, mas por necessidade. Com a necessidade fomos
gostando desta outra prática, e assim toda família foi engrenando. É claro que
uns mais rápido que outros. Ao exercício de gostar é necessário dar muito
tempo, pois o tempo no amadurece e nos faz aprender coisas novas, cada um com
seu jeito de ser. Todos os membros de nossa família foram de adequando a nova
realidade e encontrando o seu espaço.
Tivemos dificuldades
no receber e falar aos turistas. No início só um tinha facilidade em fazê-lo.
Mas com o passar do tempo todos já falam com naturalidade. Até meu filho
Lorenzo, com 10 anos, fala da propriedade para grupos de visitantes de maneira
agradável e prazeirosa.
Mas o que falar para
as pessoas que nos visitam?
Devemos falar o que
fazemos no dia a dia. Falar com naturalidade das atividades e da rotina. Isso
não é difícil. Tudo o que fazemos na propriedade é atrativo turístico para quem
nos visita. Não é necessário inventar termos difíceis e nem perder nosso
palavreado do campo. Devemos manter o jeito simples de ser.
É preciso que o
produtor rural busque tecnologia através de cursos e visitas, ver o que os
outros estão fazendo de melhor, acompanhando o progresso sem perder o jeito
rural de ser.
As pessoas que nos
visitam querem saber o grau de tecnologia que usamos. Por isso é importante que
cada um da família se especialize em uma atividade da propriedade. Assim o
visitante pode conversar com várias pessoas, conhecendo mais e melhor.
Certamente todos falarão a mesma língua: isso é fator determinante do sucesso.
Quando falamos de
nossa atividade, falamos com entusiasmo. Falar como quem gosta do que faz.
Devemos dizer que fazemos o melhor. Se fizermos cursos e investirmos em
tecnologia, não precisamos ter receio de nada. Temos de ser agricultores de bem
com a vida. Moramos no melhor lugar do Mundo, temos ar puro, água limpa que
brota da fonte, natureza deslumbrante e ainda privilégio de sentir e conviver
com o cheiro da terra.
Com essas
transformações a família passou a ter uma visão empresarial e olhar para o que
faz como um negócio. Como empresa e com visão empresarial a agricultura passa a
ser produtiva, gera empregos, técnicas novas e trata a terra como um bem a ser
preservado e respeitado.
É imprescindível que a
família continue sendo agricultora, pois é essa a sua especialidade. Devemos
manter esta linha como a principal atividade. Não devemos parar de produzir
porque a atividade turística é mais rentável. Como agricultores devemos ter
diversidades nas atividades, o que certamente vai gerar mais atrativos.
Outro fator importante
é a família não perder suas raízes, tradições e costumes, passando-os de
geração em geração. A história da família deve ser sempre contada e recontada,
o que muito interessa aos turistas. Pode-se dizer da origem, de onde vieram os
antepassados, porque migraram, que costumes trouxeram, as crenças e festas
folclóricas.
Outro atrativo forte é
a origem italiana da maioria das pessoas. Na colonização encontramos cultura,
tradição, afazeres cotidianos, que nos torna um grupo homogêneo e diferenciado.
Hoje todos querem manter as suas tradições. É importante fortalecer os grupos
culturais para o desenvolvimento do agroturismo.
Outra mudança marcante
foi com relação a visão comercial. Tínhamos pouca prática comercial.
Normalmente o produtor só sabe produzir. Na hora de vender fica no prejuízo. Na
indústria e comércio é que o lucro aparece. A atividade tornou-se viável, de
forma rápida e satisfatória.
O agroturismo abriu as
mentes e horizontes das famílias. Até as mais tradicionais se abriram a novos
conceitos e atividades, passaram a aceitar idéias vindas de fora. Está mudança
é importante, a família começa a ser uma marca. No futuro isso terá um valor
enorme. Tiveram destaque nos meios de comunicação, sendo alvo de notícias da
TV, rádio, revistas e jornais. Isto foi o que aconteceu na minha família.
Inicialmente não queria os meios de comunicação propriedade e de repente aceita, abre sua casa e fala de
seus negócios.
ASSOCIATIVISMO
O associativismo foi
fundamental no sucesso do agroturismo e para falar dele tenho que voltar na
história. Em Venda Nova do Imigrante o mutirão é marca e tradição de sucesso.
Estradas, escolas, igrejas, cemitério, sede da cooperativa e o hospital foram
construídos em mutirão.
Uma das primeiras
associações fundadas foi a das Voluntárias do Hospital Padre Máximo, que faz um
trabalho fantástico. Reúne um grupo de 150 mulheres que doam seu tempo para
produzirem artesanato e confeccionar a rouparia de uso do hospital. A produção
é vendida em feiras nacionais, internacionais e no bazar montado na sede da
associação. O lucro é revertido para a manutenção do Hospital. A diretoria é
formada por membros da comunidade, com prestação de serviços gratuitos. As
Voluntárias tiveram até bem pouco tempo a senhora Juta Batista como principal
incentivadora, ilustre figura alemã, falecida em 2001. Incansável e batalhadora
e amiga dos que se dedicam ao bem comum.
Outra associação
importante foi o Conselho de Desenvolvimento, com atuação marcante nos anos 80.
Este Conselho conseguiu o tratamento do esgoto, o primeiro no interior do
Espírito Santo, isto quando Venda Nova do Imigrante ainda era Distrito. Depois
o empenho no movimento de emancipação política que ocorreu em 1987. Citei dois
exemplos, poderia citar outros. Quando a comunidade quer, ela atinge seus
objetivos.
O agroturismo nasceu
de experiências de trabalho. A maioria dos associados tem ligação com as
Voluntárias. Nós encaramos a atividade como um negócio. Nossa associação veio
para profissionalizar o trabalho comunitário e voluntário.
Quando começamos a
produzir e vender, iniciamos uma nova fase, que foi até mesmo fazer leis para
complementar a atividade. Uma lição fantástica foi a participação e o interesse
de cada sócio em resolver os problemas que apareciam. Quando reunimos pessoas
com o mesmo interesse temos boas chances de êxito.
No agroturismo a união
é a força.
Fizemos uma
descoberta: se eu não falar daquilo que os outros fazem, eles não irão falar
daquilo que eu faço. Um atrativo só, por melhor que seja, não é suficiente para
trazer turistas. Temos produtores que fazem diferentes produtos e isso faz com
que tenhamos opções. É bom que cada um faça um produto diferente e evite fazer
uma mera cópia.
Começamos a fazer um
queijo que virou a nossa marca. Se o meu vizinho faz um queijo diferente,
certamente vou encaminhar o turista até ele e vice-versa. Entendemos a
importância da parceria. Quando os atrativos e atividades são repetidos, causam
disputas e desavenças, ninguém ganha, todos perdem.
O associativismo é um
instrumento que gera crescimento pessoal e comunitário, ao reunir pessoas para
planejar, fazer cursos e participar de feiras. Com isto todos ganham.
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