Ando na busca de como e quando meu avô
paterno chegou ao Brasil, vindo do Líbano. Na peregrinação de conversas e
conversas parece que não saio do lugar. De informação concreta tenho apenas a
data de seu falecimento.
A primeira informação que obtive, foi
por parte de meu pai, ao me dizer que vovô veio das montanhas de Zgharta. Com
base neste dado consegui fazer contatos com vários patrícios, mas o que ficou
de concreto é a angústia de andar, conversar e pesquisar, mas praticamente não
sair do lugar. É desta maneira que as pessoas interessadas em mergulhar no seu
passado ficam quando não atingem o objetivo: poder ler o passado e nele ver o
seu ente querido por inteiro – com documentos de identidade e fotografia.
Zgharta tem sido o meu rumo nas buscas.
Lembro que em 1992 na Espanha, em Sevilha, comprei o jornal El Paiz e lá estava
uma reportagem sobre a invasão israelense ao território libanês. Um mapa
ilustrava o texto e nele estava a região de Zgharta. A emoção foi grande e
carrego comigo um grande troféu, que funciona como uma bússola.
A gente vai perguntando aos mais velhos,
percorre a internet e também busca junto aos patrícios vindos da região de
Zgharta mais informações. Quanto mais antiga é a chegada, mais difícil vai
ficando a empreitada. Os registros não
existem.
Mais adiante encontrei num texto
publicado pelo Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo uma
referencia a um navio chamado Zgharta, de propriedade do imigrante Pedro José
Aboudib. Segui em frente e encontrei um depoimento de Aboudib datado de 1945,
onde ele narra a sua saída do Líbano no ano de 1889, com 16 anos de idade. Como
meu avô estava no Espirito Santo nesta época, imagino e pelo relato de Aboudib,
que ele aqui veio para encontrar como vovô, que seria amigo de seu pai.
Quando meu pai morreu, eu não tinha
grande interesse no tema imigração. Mas meu Sebastião, que viveu 95 anos muito
me ajudou na troca de informações sobre o seu pai, como era e como vivia e como
se relacionava com os brasileiros e com os seus patrícios de Muniz Freire. Vou juntando histórias.
Na busca pelo meu avô consegui saber de
muitas histórias de outros patrícios que aqui chegaram. Na pesquisa, a
informação é a moeda de troca. Perguntar e ouvir. A gente fala o que sabe e
passa saber mais um pouco. No próximo encontro temos em nosso poder informações
que serão repassadas. Vamos enchendo o embornal com dados de libaneses, sírios
e uns poucos palestinos que aqui vieram.
Mas disto tudo parece que vai ficando e
solidificando uma situação muito estranha: as pessoas não sabem muito sobre os
seus antepassados. Às vezes ouço alguém dizer que eu teria material para
escrever um livro sobre a imigração libanesa para o Espírito Santo, que sei
muito. Não raro falo que na verdade não sou eu que tenho muitas informações: os
meus interlocutores é que sabem pouco da sua história familiar. Registro esta
situação com tristeza. Mas esta é a realidade de quase todas as famílias, não
sabem a sua Historia. É um amontoado de pequenas informações e dados, que
soltas no tempo e na memória das pessoas e grupos familiares, devem e precisam
ser ordenadas interpretadas.
Não posso de maneira alguma parar e
guardar para mim as informações. Lanço um desafio aos meus queridos patrícios
para que juntos iniciemos a coleta de dados e informações para responder o
título deste artigo: quando e como vieram os nossos para as terras capixabas.
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