POSTED IN: DESTAQUES, GEOPOLÍTICA, MUNDO
– 14/06/2012
Muito pouco debatido, acordo sobre exploração das águas internacionais, 45% da superfície da Terra, pode ser crucial para preservar biodiversidade
Por Coralie Tripier, IPS | Tradução Daniela Frabasile
“A próxima grande crise ambiental global que nos espera é o colapso dos oceanos”, alerta Rémi Parmentier, da High Seas Alliance (Aliança do Alto Mar), grupo de organizações não-governamentais que trabalham pela conservação dos mares abertos. A Aliança prepara-se ativamente para a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio+20, que será realizada de 20 a 22 neste mês. Os ambientalistas esperam convencer os governos sobre a importância da biodiversidade marinha e, deste modo, adotar uma postura decisiva no Rio.
“Os países enganam-se, ao crer que têm outras prioridades. A crise financeira, por exemplo”, afirma Parmentier. “Dar prioridade à riqueza artificial, como o dinheiro e os serviços financeiros, enquanto se deixa de lado a riqueza natural, é um grande erro”, advertiu. E vai além: “a natureza, o clima, a biodiversidade… São elementos sem os quais não podemos nos desenvolver de maneira justa e sustentável”.
A Aliança propõe, entre outras ações urgentes, eliminar os chamados “subsídios prejudiciais ao ambiente”, com os quais os governos apoiam atividades poluentes — como o uso de combustíveis fósseis, a pesca excessiva e a agricultura industrial, desfavorecendo os setores verdes. “Refiro-em aos subsídios que financiam a energia fóssil com muitos bilhões de dólares todos os anos, ou também a cerca de 1bilhão de dólares que a União Europeia concede à pesca todos os anos, fomentando sua sobrecapacidade”, disse Parmentier.
Todos esses temas já foram tratados na Cúpula da Terra, celebrada em 1992 também no Rio de Janeiro, mas de forma insuficiente, afirmam os ativistas. “É incrível que, 20 anos depois do Rio e da Convenção das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, continuamos financiando fontes de energia poluentes e reduzindo em muitos países os subsídios às energias renováveis, que são parte da solução”, lamentou Parmentier.
No começo desse mês, o ambientalista participou de uma entrevista coletiva na sede da ONU em Nova York, junto com representantes do Apelo Global de Ação Contra a Pobreza (GCAP, em inglês) e do grupo Parceiros Internacionais para a Agricultura Sustentável. Os três porta-vozes falaram especialmente sobre as metas de desenvolvimento sustentável que esperam verem acordadas no Rio de Janeiro, entre as quais está a conservação dos oceanos. “Enquanto não se implementa um acordo sobre a conservação das águas abertas, nós e nossos governos não temos voz para influenciar o que que está acontecendo em quase metade do planeta”, disse Parmentier.
As águas internacionais sofrem cada vez mais contaminação e pesca excessiva, o que está causando a extinção de muitas espécies. Por exemplo, 90% dos maiores predadores, como atum, bacalhau e tubarão, desapareceram ou estão seriamente em risco, segundo a organização ambientalista espanhola Ocean Sentry. Para Parmentier, a tão esperada conferência no Rio será o momento ideal para finalmente tomar decisões urgentes e estabelecer prazos obrigatórios.
“Os estados repetiram no G-20, na União Europeia e na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico sua vontade de colocar fim aos subsídios prejudiciais para o ambiente, mas a verdade é que ainda estamos esperando. Essa cúpula sobre energia verde será definitivamente a oportunidade para discutir prazos”, disse. A eliminação gradual de alguns setores deve ser acompanhada da expansão de outros. A Aliança provome a investigação e o desenvolvimento de energias renováveis.
“Não devermos falar apenas em ‘decrescimento’. É verdade que devemos ‘decrescer’ nosso impacto sobre o ambiente e os recursos, mas isso deve ser feito para alcançar o crescimento sustentável de recursos que a humanidade e seus ecossistemas precisam para sobreviver”, sustenta Parmentier. Organizações ambientalistas esperam que Canadá, Estados Unidos, Japão e Rússia — quatro países que frequentemente rejeitam os capítulos da proposta do documento final da Rio+20 relativos aos oceanos, cedam a favor do interesse comum. “Proteger as águas internacionais não é apenas salvar os oceanos, mas também os ecossistemas que sustentam a vida no planeta, insistiu Parmentier”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário