Paz ou guerra em setembro de 2011?
O presidente Barack Obama, antecipando as movimentações para o período eleitoral de
2012, iniciou uma mudança radical em sua equipe de segurança nacional que pode ter
graves repercussões no Oriente Médio. Para Israel e os EUA, recorrer à ONU e não acreditar
em Netanyahu e Obama passou a ser denominado de unilateralismo e ameaça à Paz! No
momento em que cresce o apoio da comunidade internacional para o reconhecimento
diplomático de um Estado Palestino na Assembléia Geral da ONU, em setembro, aumentam
também as possibilidades de um ato tresloucado da direita israelense com o apoio do
democrata Obama.
Reginaldo Nasser (*)
No dia 23 de maio o presidente Barack Obama proferiu um discurso sobre a política externa dos EUA
para o Oriente Médio no Departamento de Estado, declarando seu apoio à primavera árabe e
reiterando sua crença a solução de dois Estados é a melhor maneira de resolver o conflito israelpalestino. No dia seguinte, foi a vez do primeiro ministro israelense, Netanyahu, dar seu recado. Em
seu discurso no congresso rejeitou várias afirmações de Obama, sendo efusivamente aplaudido
pelos congressistas (29 aclamações). Atribuiu a responsabilidade do conflito aos palestinos devido à
não aceitação da existência do Estado de Israel: “eles simplesmente não querem acabar com o
conflito. Eles continuam educando suas crianças para o ódio. Eles continuam com a fantasia de que
Israel será um dia inundada pelos palestinos refugiados”. Assim, a proposta do governo israelense
foi clara: só poderá existir um estado Palestino desmilitarizado e dentro de fronteiras diferentes
daquelas acordadas em 1967 na Resolução 242 da ONU. Consequentemente, não aceitar essa
proposta, é, para Netanyahu, sinal de que os palestinos não desejam a paz.
Equanto isso em Jerusalém, o ex-chefe da Mossad, Meir Dagan, que dirigiu a organização entre
2002-2010, criticou, publicamente, o governo israelense por “falta de discernimento e flexibilidade”,
chamando-o de "imprudente e irresponsável" no tratamento da política de segurança de Israel.
Dagan considera uma ameaça maior o isolamento de Israel por um grande segmento da
comunidade internacional como provável resultado do esforço da Palestina em obter o
reconhecimento de seu Estado. Ele alerta que diante da pressão internacional, Israel poderá trazer à
tona o velho argumento de responder aos pequenos incidentes forçando uma solução militar.
Dagan não é nenhum pacifista utópico. Quando foi escolhido para ser chefe da Mossad, Sharon disse
que ele queria uma Mossad com "uma faca entre os dentes." Nos últimos meses, o chefe militar,
Gabi Ashkenazi, e o diretor da agência de segurança Shin Bet, Yuval Diskin, também renunciaram.
Portanto, além de indicar a existência de fissuras dentro do establishment de segurança nacional de
Israel, a saída desse triunvirato, de acordo com o próprio Dagan, demonstra que Netanyahu está
removendo aqueles que até então resistiam à sua estratégia de atacar o Irã.
Dagan não acredita em uma paz com a Síria, se opõe fortemente à criação de um Estado Palestino
nas fronteiras de 1967 ou a qualquer compromisso sobre os refugiados, mas acha que Israel, por
seu próprio bem, deve tomar a iniciativa no processo de paz. Principalmente nesse momento em “Revoluções no Mundo Árabe e Islâmico: Regimes Políticos, Síria e Irã - 2012
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que ocorrem mudanças regionais, ele está preocupado, em primeiro lugar pelo que está
acontecendo no Egito.
Ao mesmo tempo, o presidente Obama, antecipando as movimentações para o período eleitoral de
2012, iniciou uma mudança radical em sua equipe de segurança nacional que pode ter graves
repercussões no Oriente Médio. O presidente nomeou o diretor da CIA, Leon Panetta, para assumir o
posto de secretário de Defesa, escolheu o comandante da guerra do Afeganistão, general David
Petraeus, para substituir Panetta na agência de inteligência e indicou o General Martin Dempsey
para chefe do Estado-Maior das forças armadas dos EUA. A nomeação desse último foi feita no
'Memorial Day', o feriado anual que recorda os americanos mortos em combate, e ocorre em um
momento crítico de reorganização do aparato de defesa e segurança dos Estados Unidos.
Nas últimas duas décadas, Dempsey passou a maior parte do seu tempo dedicado ao Oriente Médio:
oficial de operações com o corpo de blindados na Guerra do Golfo(1991); chefe da delegação
americana que treinou a guarda nacional saudita; comandante de uma divisão de blindados no
Iraque em 2003; oficial responsável pela formação do novo exército iraquiano, e finalmente
chefiando o Comando Central, que abrange o Irã, Egito, Síria e a Jordânia. Além disso, Dempsey é
bastante familiarizado com as Forças de Defesa de Israel por meio de intercâmbio de informações e
de opiniões entre as forças de ambos os exércitos nos últimos anos. É um estudioso e admirador das
ações de Israel na Guerra de 1973, Guerra do Líbano (2006) e das ações contra o terrorismo nos
territórios ocupados.
Portanto, como bem observou Amir Oren (Obama's new security staff may approve attack on Iran
Haaretz 01/06/2011) as mudanças na equipe de segurança nacional dos EUA são não apenas um
assunto norteamericano. Apesar de o próprio Oren reconhecer ser difícil, Dempsey, no início do seu
mandato, convencer Obama a atacar o Irã, ou mesmo permitir Israel fazê-lo, não se pode
negligenciar seus estreitos laços com o pessoal da forças de Defesa israelenses e a confiança do
Congresso norte-americano nos planos de Netanyahu.
Para Israel e os EUA, recorrer à ONU e não acreditar em Netanyahu e Obama passou a ser
denominado de unilateralismo e ameaça à Paz! No momento em que cresce o apoio da comunidade
internacional para o reconhecimento diplomático de um Estado Palestino na Assembléia Geral da
ONU, em setembro, aumentam também as possibilidades de um ato tresloucado da direita
israelense com o apoio do democrata Obama.
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