quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O cinema pesa nas eleições?


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Documentário que ataca Obama pela direita tem grande sucesso nos EUA. Seria resposta a fenômenos como Michael Moore?
por Bruno Carmelo, editor do Discurso-Imagem.
Nos Estados Unidos, o mês de agosto é tradicionalmente marcado por bilheterias fracas. Sem surpresas, este final de semana registrou o menor número de espectadores de 2012 até o momento. Mas um filme surpreendeu ao ter uma arrecadação de US$6,5 milhões: o documentário 2016 Obama’s America, um libelo conservador que sugere um futuro sombrio para o país caso Barack Obama seja reeleito.
Embora este filme ainda não tenha chegado ao Brasil, dá para ver pelo material publicitário e pelos trailers que ele pretende mostrar uma aparência científica, com testemunhos de especialistas.“Ame-o. Odeio-o. Você não o conhece”, diz o slogan, que pretende usar a arma do medo, sempre muito potente nos Estados Unidos, para retirar a confiança a Obama. Vale lembrar que o documentário é divulgado poucos dias depois de alguns governadores republicanos questionarem pela enésima vez a nacionalidade americana do presidente, por causa de suas origens africanas.
Os US$6,5 milhões arrecadados não representam um número recorde, longe disso, mas já fazem de 2016 Obama’s America o documentário conservador de maior bilheteria da história. Isto é curioso se pensarmos nos numerosos documentários pró-democratas, com sucessos muito maiores: Fahrenheit 9/11, de Michael Moore (US$119 milhões arrecadados), Tiros em Columbine (US$21 milhões), do mesmo diretor, Uma Verdade Inconveniente (US$24 milhões), de Davis Guggenheim…
Isto pode se explicar pelo fato de que o documentário sempre foi tradicionalmente ligado à esquerda, ou talvez pelo talento publicitário (e/ou cinematográfico) excepcional de Michael Moore, que dirigiu quatro dos cinco documentários políticos de maior bilheteria na história dos Estados Unidos. Paralelamente, não é nada absurdo afirmar que muitas produções do sistema Hollywoodiano propagam, de maneira velada, os valores republicanos, representando-os sem que eles precisem de documentários explícitos.
Pois agora os republicanos também entram no cinema documentário, neste momento em que eles consistem a oposição – como era o caso de Michael Moore quando fez todos os seus filmes. A estratégia é a mesma: atacar o adversário, ou invés de enaltecer as próprias ideias. Os democratas ficaram assustados com o sucesso repentino de 2016 Obama’s America: será que os americanos estariam mais abertos aos argumentos conservadores?
Não há estudos que provem quantos eleitores indecisos, ou pró-democratas, seriam sensibilizados por um filme pregando as ideias opostas. É difícil, ou mesmo impossível, separar este filme da influência de muitos outros materiais de campanha que circulam por aí. Seus valores artísticos também podem e devem ser medidos – e só poderemos fazer algo do tipo quando a obra chegar por aqui – mas por enquanto, ele tem sido interpretado principalmente como um esforço militante suplementar, um caro e ofensivo panfleto.
O risco é que, de maneira geral, 2016 Obama’s America acabe seduzindo o público que já é tradicionalmente favorável às ideias republicanas, assim como os argumentos de Michael Moore dificilmente repercutiam nos campos conservadores. Ao contrários das propagandas que aparecem nos canais de televisão, ou nos panfletos que são distribuídos nas ruas, um filme exige um esforço voluntário do cidadão: é ele que tem que tomar a iniciativa para vê-lo, para se deslocar até o cinema e pagar o ingresso. Esta disposição limita, e muito, o poder de alcance propagandista destas obras, tanto republicanas quanto democratas. Se o cinema nunca foi a mais democrática das artes, ele está longe de ser o mais democrático dos instrumentos políticos.
Bruno Carmelo é crítico de cinema, mestre em teoria do audiovisual e estudos de recepção. Trabalha no site AdoroCinema e mantém desde 2006 o blog Discurso-Imagem.
Para ler todos os seus textos em Outras Palavras, clique aqui.

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