A fase de aleitamento é um dos períodos mais críticos do sistema de criação de animais de reposição, pois nesta fase há pouco retorno financeiro. Assim, alguns produtores de leite economizam principalmente na dieta líquida, fornecendo baixos volumes a seus animais. “Em geral, as dietas líquidas são fornecidas no volume de 10% do peso ao nascimento da bezerra, o que normalmente representa quatro litros diários”, salienta a zootecnista Marília Ribeiro de Paula, que avaliou o efeito de diferentes sistemas de aleitamento sobre o desempenho e alterações no metabolismo energético de bezerros leiteiros.
A pesquisa foi realizada no Programa de Pós-graduação em Ciência Animal e Pastagens, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ) e desenvolvida no Bezerreiro Experimental do Departamento de Zootecnia (LZT). O projeto foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e a bolsa de estudos para a autora foi concedida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Sob orientação da professora Carla Maris Machado Bittar, do LZT, Marília alocou trinta bezerros da raça Holandês em três programas de aleitamento. No sistema Convencional, fora oferecido 10% do peso ao nascer (PN), ou seja, 4 litros/dia. No sistema de aleitamento Programado a pesquisadora ofertou, na 1ª semana, 10% PN (4 litros/dia), entre as semanas 2 a 6, 20% PN (8 litros/dia) e, nas semanas 7 e 8, 10% PN (4 litros/dia). Por fim, no sistema Intensivo, os bezerros tiveram acesso a 20% PN (8 litros/dia). “O aleitamento foi realizado duas vezes ao dia, às 7h e 18h, com sucedâneo lácteo comercial (20% Proteína Bruta; 16% Extrato Etéreo). Os animais foram alojados em abrigos individuais, com livre acesso a água e ração concentrada, até a décima semana de vida e desaleitados abruptamente na oitava semana de vida”, explica a autora do trabalho.
De acordo com Marília, estudos mostram que o crescimento de bezerras no período de aleitamento pode ser melhorado quando os animais são alimentados com maiores quantidades de dieta líquida durante este período. “Além disso, maiores taxas de crescimento durante os primeiros estágios da vida do animal podem ser mais rentáveis e compensar o investimento, por resultar em animais mais pesados para o período de crescimento pós - desaleitamento e também com maior potencial de produção de leite”. Na sua pesquisa, Marília registrou diariamente o consumo de concentrado inicial e o escore fecal. A pesagem e as medidas de altura na cernelha, perímetro torácico e largura da garupa foram realizadas semanalmente, a partir da segunda semana, até a décima semana, quando foi encerrado o período experimental.
Resultados – Apesar do peso vivo e o ganho de peso diário não apresentarem diferenças entre os programas de aleitamento, as medidas corporais do perímetro torácico e largura da garupa apresentaram diferenças significativas, sendo maiores os valores para os animais em aleitamento intensivo. “É bem provável que o volume de leite ofertado no sistema intensivo tenha ultrapassado a capacidade de ingestão dos bezerros, por isso o ganho de peso não foi significativo. Uma das hipóteses que poderiam melhorar esse rendimento de peso seria a oferta fracionada de leite ao longo do dia, mas essa é uma questão que futuros estudos poderão ou não comprovar”, aponta Marília. Um aspecto muito interessante observado na pesquisa foi que os animais em aleitamento convencional apresentaram maior consumo de ração concentrada, o que resultou em taxas de crescimento semelhante entre os diferentes sistemas de aleitamento. No entanto, a literatura já mostra que para que o sistema de aleitamento intensivo resulte em maior ganho de peso o mesmo deve apresentar teor de proteína ao redor de 28%, o que ainda não está disponível no mercado nacional. Isso mostra que é provável que os produtores que estão adotando este sistema atualmente não devem estar obtendo os resultados esperados.
Com relação ao crescimento, que identificou melhora nas medidas do tórax e garupa, o sistema de aleitamento intensivo mostrou-se como um bom investimento a médio e longo prazo. “Animais que ganham mais peso e crescem mais na fase inicial podem resultar em aumento na produção de leite futura, redução na idade à puberdade, redução na idade à parição, entre outros”, finaliza.
Caio AlbuquerqueJornalista
caioalbuquerque@usp.br
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