Civilização europeia (francesa) incrustrada no coração do mundo árabe – o Líbano só poderia se prestar para clichês e mal- entendidos.
Antes disso ainda, não é preciso visto para ir ao Libano, ao contrário do que diz a Air France – que tem o poder de impedir que alguém embarque. No Consulado, simpaticamente explicam que não é preciso – o que é confirmado no aeroporto de Beirute. O único impedimento é ter selo de entrada em Israel. (Eu tinha, por ter ido à Palestina, por onde só se entra por terra pela Jordania ou pelo aeroporto Ben Gurion, de Tel-Aviv, dizendo que se vai fazer turismo em Jerusalem e desaparecendo na Palestina, mas estava em outro passaporte.)
Na chegada já fica claro que cada vez menos pessoas falam francês, o inglês tornou-se o segundo idioma. Varias pessoas me disseram que já não aprenderam o francês na escola, só o inglês.
Dois elementos ajudam os mal-entendidos: a beleza natural contrastando com o violento passado recente e, por outro lado, a profundidade da sua história milenar justaposta à proximidade cultural com a Europa.
A diversidade religiosa, política e social do povo libanês faz com que as questões das identidades sejam centrais para a compreensão do país. Dilacerados entre o apego ao país, a critica a ele, a exaltação das suas comunidades originárias e suas raízes religiosas, os libaneses aparecem como incógnitas para a compreensão externa.
Os clichês são de todo tipo:
“O Líbano é uma criação da potência colonial francesa.”
“O Líbano é a Suíça do Oriente Médio.”
“O Líbano é um país francófilo.”
“A cultura libanesa é antes de tudo sua cozinha.”
“Os refugiados palestinos são os responsáveis pela guerra civil.”
“A guerra civil era uma guerra de religiões.”
“Israel ocupou o sul do Libano para defender a Galileia.”
“A ocupação síria do Líbano tinha como objetivo sua anexação.”
“Por trás do Hezbollah, está o Irã.”
“Rafic Hariri reconstruiu o Líbano depois da guerra civil.”
“O retorno da violência depois de 2005 é devido à Síria.”
“A campanha militar israelense do verão de 2006 visava libertar seus dois soldados capturados pelo Hizbollah.”
“A ‘revolução do Cedro’ permitiu o retorno do regime democrático.”
Como se vê, clichês de diferentes tipos, que foram se acumulando ao longo do tempo, mais ainda quando explodiu a guerra civil, de 1975 a 1990, que de uma ou outra forma envolveu os palestinos, Israel, a França, os EUA, a Síria, ajudando a acrescentar sobredeterminações externas às fraturas internas. Estas tem na dualidade maronitas-islamitas seu eixo, mas mesmo dentro de cada uma delas, surgem diferenciações. Além das comunidades internas, com suas determinações étnicas e religiosas.
O Líbano tem tudo para ser quase indecifrável. Daí a utilidade inicial do livro sobre os clichês, de que eu tirei as referências acima. Tentarei dar alguns elementos nesta primeira passagem pelo país, que talvez ajudem a decifrar o Líbano.
Antes disso ainda, não é preciso visto para ir ao Libano, ao contrário do que diz a Air France – que tem o poder de impedir que alguém embarque. No Consulado, simpaticamente explicam que não é preciso – o que é confirmado no aeroporto de Beirute. O único impedimento é ter selo de entrada em Israel. (Eu tinha, por ter ido à Palestina, por onde só se entra por terra pela Jordania ou pelo aeroporto Ben Gurion, de Tel-Aviv, dizendo que se vai fazer turismo em Jerusalem e desaparecendo na Palestina, mas estava em outro passaporte.)
Na chegada já fica claro que cada vez menos pessoas falam francês, o inglês tornou-se o segundo idioma. Varias pessoas me disseram que já não aprenderam o francês na escola, só o inglês.
Dois elementos ajudam os mal-entendidos: a beleza natural contrastando com o violento passado recente e, por outro lado, a profundidade da sua história milenar justaposta à proximidade cultural com a Europa.
A diversidade religiosa, política e social do povo libanês faz com que as questões das identidades sejam centrais para a compreensão do país. Dilacerados entre o apego ao país, a critica a ele, a exaltação das suas comunidades originárias e suas raízes religiosas, os libaneses aparecem como incógnitas para a compreensão externa.
Os clichês são de todo tipo:
“O Líbano é uma criação da potência colonial francesa.”
“O Líbano é a Suíça do Oriente Médio.”
“O Líbano é um país francófilo.”
“A cultura libanesa é antes de tudo sua cozinha.”
“Os refugiados palestinos são os responsáveis pela guerra civil.”
“A guerra civil era uma guerra de religiões.”
“Israel ocupou o sul do Libano para defender a Galileia.”
“A ocupação síria do Líbano tinha como objetivo sua anexação.”
“Por trás do Hezbollah, está o Irã.”
“Rafic Hariri reconstruiu o Líbano depois da guerra civil.”
“O retorno da violência depois de 2005 é devido à Síria.”
“A campanha militar israelense do verão de 2006 visava libertar seus dois soldados capturados pelo Hizbollah.”
“A ‘revolução do Cedro’ permitiu o retorno do regime democrático.”
Como se vê, clichês de diferentes tipos, que foram se acumulando ao longo do tempo, mais ainda quando explodiu a guerra civil, de 1975 a 1990, que de uma ou outra forma envolveu os palestinos, Israel, a França, os EUA, a Síria, ajudando a acrescentar sobredeterminações externas às fraturas internas. Estas tem na dualidade maronitas-islamitas seu eixo, mas mesmo dentro de cada uma delas, surgem diferenciações. Além das comunidades internas, com suas determinações étnicas e religiosas.
O Líbano tem tudo para ser quase indecifrável. Daí a utilidade inicial do livro sobre os clichês, de que eu tirei as referências acima. Tentarei dar alguns elementos nesta primeira passagem pelo país, que talvez ajudem a decifrar o Líbano.
Postado por Emir Sader às 06:15
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