Um seminário em Beirute, em que se pode entrar em contato direto com algumas das expressões mais significativas do movimento democrático que explodiu no ano passado no Oriente Médio. Exposições sobre a Tunísia, o Egito, a Síria, o Líbano, entre outros, permitem há mais de uma ano, com eleições realizadas em alguns países, compreender melhor o caráter desses movimentos.
Quando apareceu a primavera árabe, houve gente que se apressou em falar de uma “revolução” no mundo árabe. Caíam, surpreendentemente, ditaduras que sobreviviam há décadas, frente a manifestações como nunca haviam conhecido alguns países.
A derrubada das ditaduras de Ben Ali na Tunisia e de Mubarak no Egito foram manifestações espetaculares dessa primavera, que parecia trazer a democracia para o centro de uma região dominada por autocracias.
Mobilizações de jovens, a que se incorporaram camadas populares – e inclusive grandes contingentes operários, no caso do Egito - tiveram a capacidade de, praticamente de forma pacifica, derrubar regimes fundados na força.
O fenômeno parecia se alastras para grande parte dos países da região, quando de repente apareceu a crise na Líbia. Logo ficou claro que se tratava de um caso distinto. Não apenas porque, pelo menos na sua origem, o regime de Kadafi tinha um caráter claramente popular, mas também porque, ao contrario da Tunísia e do Egito, mesmo se seu líder estivesse em um movimento de clara aproximação e inclusive de adesão a teses e às forças dominantes no mundo, não se tratava de um regime que tivesse estado sempre alinhado com as potências ocidentais.
A capacidade resistência do regime confirmava essas distinções, revelando rapidamente que ele não cairia da mesma maneira que caíram os governos da Tunísia e do Egito. Em parte, pelo apoio popular que o regime ainda dispunha, por outro lado pela capacidade de resistência que o governo revelava.
Diante desses obstáculos, a oposição apelou à sublevação armada, ao mesmo tempo que as potências interessadas em derrubar o regime de Kadafi conseguiam aprovar no Conselho de Segurança das Nações Unidas uma resolução de suposta “proteção das vítimas civis”. Esta foi aproveitada pela Otan para realizar bombardeios sistemáticos contra o regime, buscando claramente sua derrubada, sem nada a ver com a proteção das vítimas civis que, ao contrário, aumentaram exponencialmente com os bombardeios.
A partir desse movimento os movimentos democráticos na região mudaram de sentido. Já nao se tratava de movimentos populares de massa, que isolavam e derrubavam, praticamente de forma pacífica, a governos autocráticos isolados e fragilizados, até que caíssem.
O caso da Síria – qualquer que seja a avaliação que se tenha do regime, da mesma forma que o anterior regime líbio – é similar. A oposição atua com violência similar à do governo, enquanto as potências que propugnam pela queda do governo buscam apoio similar à que conseguiram na luta contra o regime de Kadafi.
Este apoio não é possível pela oposição da China e da Rússia, que haviam autorizado a ação na Líbia e se deram conta que ela tinha sido utilizada para derrubar o regime de Kadafi.
Assim, a primavera árabe propriamente dita, se limitou, até aqui à Tunisia e ao Egito. Os outros processos estão sobredeterminados pelo contexto geopolítico internacional. Quem pode dizer que hoje a Líbia se democratiza?
Quando apareceu a primavera árabe, houve gente que se apressou em falar de uma “revolução” no mundo árabe. Caíam, surpreendentemente, ditaduras que sobreviviam há décadas, frente a manifestações como nunca haviam conhecido alguns países.
A derrubada das ditaduras de Ben Ali na Tunisia e de Mubarak no Egito foram manifestações espetaculares dessa primavera, que parecia trazer a democracia para o centro de uma região dominada por autocracias.
Mobilizações de jovens, a que se incorporaram camadas populares – e inclusive grandes contingentes operários, no caso do Egito - tiveram a capacidade de, praticamente de forma pacifica, derrubar regimes fundados na força.
O fenômeno parecia se alastras para grande parte dos países da região, quando de repente apareceu a crise na Líbia. Logo ficou claro que se tratava de um caso distinto. Não apenas porque, pelo menos na sua origem, o regime de Kadafi tinha um caráter claramente popular, mas também porque, ao contrario da Tunísia e do Egito, mesmo se seu líder estivesse em um movimento de clara aproximação e inclusive de adesão a teses e às forças dominantes no mundo, não se tratava de um regime que tivesse estado sempre alinhado com as potências ocidentais.
A capacidade resistência do regime confirmava essas distinções, revelando rapidamente que ele não cairia da mesma maneira que caíram os governos da Tunísia e do Egito. Em parte, pelo apoio popular que o regime ainda dispunha, por outro lado pela capacidade de resistência que o governo revelava.
Diante desses obstáculos, a oposição apelou à sublevação armada, ao mesmo tempo que as potências interessadas em derrubar o regime de Kadafi conseguiam aprovar no Conselho de Segurança das Nações Unidas uma resolução de suposta “proteção das vítimas civis”. Esta foi aproveitada pela Otan para realizar bombardeios sistemáticos contra o regime, buscando claramente sua derrubada, sem nada a ver com a proteção das vítimas civis que, ao contrário, aumentaram exponencialmente com os bombardeios.
A partir desse movimento os movimentos democráticos na região mudaram de sentido. Já nao se tratava de movimentos populares de massa, que isolavam e derrubavam, praticamente de forma pacífica, a governos autocráticos isolados e fragilizados, até que caíssem.
O caso da Síria – qualquer que seja a avaliação que se tenha do regime, da mesma forma que o anterior regime líbio – é similar. A oposição atua com violência similar à do governo, enquanto as potências que propugnam pela queda do governo buscam apoio similar à que conseguiram na luta contra o regime de Kadafi.
Este apoio não é possível pela oposição da China e da Rússia, que haviam autorizado a ação na Líbia e se deram conta que ela tinha sido utilizada para derrubar o regime de Kadafi.
Assim, a primavera árabe propriamente dita, se limitou, até aqui à Tunisia e ao Egito. Os outros processos estão sobredeterminados pelo contexto geopolítico internacional. Quem pode dizer que hoje a Líbia se democratiza?
Postado por Emir Sader às 15:42
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