quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A participação de mercado crescente do Robusta e o futuro do consumo mundial



Por Carlos Henrique Jorge Brando
postado há 1 dia atrás

Muito tem se falado e escrito sobre o possível risco do aumento da participação do café Robusta no 'blend mundial' afetar negativamente o consumo. Mas o consumo mundial tem mostrado crescimento consistente e não parece ser muito afetado nem pelo maior uso de Robusta nem pela crise mundial. O aumento do consumo se mantém saudável no mundo e se expande mais rapidamente em países produtores e mercados emergentes do que nos consumidores tradicionais (EUA, Europa Ocidental e Japão). Com a exceção principal do Brasil, estes mercados “em desenvolvimento” consomem majoritariamente café solúvel cujo ingrediente principal é o café Robusta. Não seria justo argumentar que mais Robusta no 'blend' resulta em mais consumo de café? Mas muitos acreditam que ocorre o contrário.

Uma linha de pensamento diz que em mercados onde tradicionalmente se consome mais Arábica – a maioria, senão todos os tradicionais importadores e consumidores já listados no parágrafo anterior – a maior participação de Robusta repele consumidores e faz com que o consumo caia por razões que variam desde maior conteúdo de cafeína do Robusta até sua suposta qualidade inferior. Como isso não parece estar acontecendo – o crescimento do consumo nestes mercados ficou mais lento, mas o consumo não diminuiu − será que um “novo apreço” por Robusta está se desenvolvendo ou sua qualidade melhorando ou outro?

O consumo em cafeterias é principalmente de bebidas de café com leite, saborizantes e outros ingredientes. Como estas misturas precisam de café “mais forte”, não é essencial ter cafés Arábica com mais corpo, maior qualidade ou mais caros, que agregam custos sem gerar benefícios perceptíveis para os consumidores. Sendo assim, os Robustas tem um lugar assegurado nestas bebidas. Um argumento similar prevalece para alguns países produtores na Ásia e, especialmente, para mercados emergentes onde cafés '3 em 1' – monodose de café solúvel com creme não lácteo e açúcar − estão ganhando novas versões '4 em 1', com a adição de sabores e outros ingredientes.

Não há dúvidas que Robustas mais limpos e melhor processados tem mais espaço em 'blends' Arábica-Robusta sem grandes mudanças nas características sensoriais percebidas pelos consumidores. Sabe-se que Robustas lavados e descascados (CD) são usados para substituir Arábicas em maiores proporções que Robustas naturais, o que explica a firme tendência de processamento via úmida para Robusta nas origens, isto é, nos países produtores. O polimento úmido de café Robusta verde apresenta apenas parte do mesmo efeito, razão pela qual os prêmios de preço para Robustas lavados são muito superiores do que para Robustas polidos em úmido.

Apesar das alegações de que mais Robusta no 'blend' de países habituados ao Arábica causará a queda do consumo, porque o Robusta tem mais cafeína que o Arábica e que a adição de mais Robusta reduzirá o consumo devido à qualidade, a evidência dos últimos dez anos aponta para um crescimento firme do consumo e para o aumento da participação de Robustas no 'blend mundial'. O solúvel é a bebida de entrada para o universo do café em países que tradicionalmente consomem chá, e estes países hoje representam o maior mercado de crescimento para o café. Dado seu baixo custo, o solúvel em pó – forma mais popular de café solúvel – não tem seu gosto substancialmente alterado (“melhorado, como diriam os puristas) se Arábicas mais caros forem usados em sua produção; a tendência para mais consumo e produção de Robusta veio para ficar.

Apesar de tudo que foi escrito acima sobre Robustas, as perspectivas são boas para Arábicas também. O consumo mundial está crescendo a um ritmo mais rápido que a mudança de Arábica para Robusta, e muitos consumidores que entram no mercado de café via bebidas solúveis (baseadas em Robusta), acabam por preferir o Arábica conforme eles adquirem o hábito e passam a conhecer mais sobre café.

Que impacto o maior consumo de Robusta terá na geopolítica da produção de café? Poderia isso estar por trás da queda dos preços dos Arábicas suaves em anos recentes? Será que a produção de café, especialmente de Robusta, se moverá para o leste, da América Latina e África para a Ásia, para estar mais próxima de novos mercados consumidores dinâmicos? Definitivamente faz sentido, no contexto de marketing, acabar com a discriminação contra o café Robusta e se aliar àqueles que estão explorando suas vantagens comparativas, e àqueles poucos que estão trabalhando para reposicionar o Robusta na escala de qualidade do café. Vamos nos abster do debate Arábica-Robusta e concentrar-nos em oferecer uma xícara de café que atenda às necessidades do consumidor e atraia novos consumidores em todos os segmentos de renda, com o mix correto de qualidade e preço.

Em tempo, a recente decisão do CDPC de criar um grupo de trabalho focado na indústria de solúvel, com o objetivo de expandir mercados para o produto nacional industrializado e agregar valor a ele, é muito bem-vinda. A indústria brasileira tem potencial para produzir 4,5 milhões de sacas de solúvel com a capacidade instalada atual – em 2011 exportamos aproximadamente 3 milhões de sacas − ; sendo que o consumo de café solúvel cresce em torno de 10% ao ano em países emergentes como China e Indonésia, sem mencionar os países produtores, como México, que são grandes consumidores de solúvel. Outra grandes oportunidade para a indústria nacional inclui o fornecimento de extrato concentrado de café, feito à base de solúvel, utilizado como matéria-prima de bebidas prontas como os cafés gelados (em lata), e a exportação de produtos inovadores como os cafés '3 em 1', tão apreciados pelos jovens em diferentes mercados asiáticos.

Finalmente, não podemos nos esquecer que como o solúvel é a porta de entrada em grandes mercados que hoje consomem chá, por exemplo China e Rússia, a introdução de marcas brasileiras de solúvel abre caminhos para marcas brasileiras de torrado e moído também, à medida que o mercado se consolida. Mais uma razão para que o Arábica e o Conilon brasileiros se posicionem como produto complementares e não concorrentes, e que a produção e a indústria tenham uma relação de parceria. 

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