segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

ELIOOO, O HEITOOR!!


Secretárias pressurosas emitiam a convocação em sustenidos de urgência pelos corredores da revista 'Veja', nos anos 70: 'Eliiooooo, o Heitor!. Era algo religioso. O telefonema-chave chegava invariavelmente um ou dois dias antes do fechamento da edição semanal. 'Heitor', mais especificamente, o coronel Heitor de Aquino Ferreira, acumulava credenciais do outro lado da linha. Elas justificavam a ansiedade incontida no trinado das secretárias. Sua ficha corrida incluía o engajamento, cadete ainda, na conspiração para derrubar Juscelino, em 1955; a ativa participação golpista para derrubar Jango, em 64; a prestação de serviços para injetar músculos no SNI; a ação lubrificante à passagem de Daniel Ludwig, o bilionário do projeto Jari, pelos corredores do poder militar. E assim por diante. Um quadro das sombras. Um farejador dos bons ventos. Na conspiração golpista de 64, o capitão Ferreira de Aquino preferia usar um codinome pretensioso: 'Conde de Oeiras'. Nos telefonemas ao jornalista Elio Gaspari , sim, Gaspari era o destinatário dos pressurosos arrulhos das secretárias de Veja, o já coronel Heitor considerava desnecessário o anonimato. Vivia-se um tempo em que pertencer a certos círculos fazia bem ao currículo e ao ego. Dava prestígio e holerite. Ademais de alimentar uma sensação de impunidade quase cínica. Quando seus telefonemas ordenavam a rotina das pautas e fechamentos de Veja, Heitor servia como homem de confiança, um guarda-papéis de sigilos (as famosas 25 pastas) e porta-recados do general Golbery do Couto e Silva, chefe da Casa Civil do ditador Geisel. Era essa a carga simbólica que seus chamados propagavam pelos corredores da Veja, um ou dois dias antes do fechamento. Às vezes no mesmo dia; não raro mais de uma vez ao dia. O destinatário Elio Gaspari, a exemplo de outros protagonistas desse enredo à espera de um filme, agora oferece lições de ética à democracia brasileira e se avoca o posto de vigilante da moral e dos bons costumes na política. Sobre esse mesmo assunto, leia nesta página o artigo do governador gaúcho, Tarso Genro: 'O alto comissário do Golbery não toma jeito'

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